Ricardo Baesso de Oliveira
Kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
Não vamos fazer nada?
A pergunta acima, apresentada pela revista
Veja, na matéria de capa da edição de
14 de fevereiro de 2007, tem a ver com a
morte cruel do pequeno João Hélio, de 6
anos. A família retornava de um Centro
Espírita localizado no Bairro Bento Ribeiro,
Zona Norte do Rio, quando, por volta de 21
horas, foi abordada por três jovens (um
deles tinha 18 anos e outro menos de 18).
Tomaram o veículo dirigido pela mãe e saíram
em alta velocidade arrastando pelo asfalto o
pequeno João preso pela cintura ao cinto de
segurança.
O crime aturdiu a opinião pública e Veja,
sempre atual, apressou-se em apresentar o
fato levando-nos a reflexões muito duras:
Não vamos fazer nada? - indaga o
articulista, num convite explícito à
sociedade a se mobilizar no sentido de
evitar que tragédias como essa voltem a
acontecer.
Homicídios assim e tantos outros que todos
os dias se verificam em nosso país e fora
dele acontecem em virtude do nível evolutivo
de almas reencarnadas na Terra, que segundo
Allan Kardec é um planeta onde predomina o
mal. Espíritos ainda muito próximos de sua
origem ou recalcitrantes no erro deixam-se
dominar pelos instintos selvagens permitindo
que suas ações sejam moldadas pela
perversidade, pelo egoísmo e pela soberba.
O que fazer? - perguntamos a nós mesmos. A
resposta é complexa, porque envolve
múltiplas variantes, quase todas elas de
conteúdo moral. Ousamos apresentar algumas
propostas, alicerçadas no conhecimento
espírita.
Primeira:
Os criminosos deverão ser afastados do
convívio social pelo tempo necessário a uma
moralização mínima que lhes permita viver em
contato com a sociedade. Estarão reclusos em
locais que tenham pelo menos um mínimo de
dignidade e sofrerão rigoroso processo
educativo moral em bases cristãs.
O Espírito Camilo, através da médium Yvonne
Pereira se reporta a criminosos
recalcitrantes que ficam reclusos em
departamentos prisionais de colônias
espirituais apropriadas, submetendo-se à
psicoterapia estruturada no Evangelho de
Jesus.
Segunda: Em
muitos casos, serão responsabilizados
também, devendo acompanhá-los nos seminários
de moral evangélica, os pais
(particularmente aqueles que fugiram da
responsabilidade, abandonando-os à sorte
alheia ou tratando-os de forma cruel ou
pervertida). Deverão oferecer-lhes agora
todo o afeto que negaram antes, buscando o
perdão e o entendimento.
Os estudos envolvendo criminosos têm
mostrado que grande parte deles vem de
relações familiares muito difíceis e
conflituosas: pais ausentes ou alcoólatras,
mães levianas e agressivas. Muitos foram
vítimas de maus tratos na infância, ou até
mesmo violência sexual no lar.
Terceira:
As autoridades políticas, civis, jurídicas,
militares ou qualquer outra estarão
proibidas de mentir, furtar, corromper,
desviar recursos, beneficiar-se a si ou a
seus familiares dos cargos que ocupam. Se
não agirem assim, serão punidas como
qualquer cidadão. O exemplo deve vir de
cima. Se os que detêm o poder não se mostram
honrados e dignos, o que esperar dos demais?
Uma socióloga paulista, passeando pela praia
de Copacabana, observou um engraxate cobrar
cinqüenta reais de um turista estrangeiro,
pela limpeza do par de sapatos. Ao
admoestá-lo quanto àquela atitude, ouviu
dele o seguinte: Esse aqui, dona, é o meu
mensalão!
Quarta: As
pessoas mais bem estabelecidas
socioeconomicamente esbanjarão menos seus
recursos pecuniários, utilizando-se deles de
forma sóbria e útil à sociedade, através da
promoção de trabalho remunerado com
dignidade. O dinheiro e o poder são dados a
Espíritos reencarnados com a missão de
promover o progresso e abrir frentes de
trabalho. Chico Xavier dizia que o dinheiro
é como o sangue. Se estocado, coagula e
causa doenças; se está circulando, leva
oxigênio e saúde aos tecidos.
Quinta: A
imprensa e os meios de publicidade deixarão
de divulgar idéias que estimulam a cobiça e
agridem aos mais pobres, apresentando tudo
aquilo que eles jamais poderão ter como
sendo condições essenciais a felicidade.
A agressividade e a violência na espécie
humana muitas vezes surgem do sentimento de
humilhação quando um indivíduo se compara
com outro. A inveja tem papel preponderante
nas ações humanas. O comportamento da mídia
em geral e das campanhas publicitárias em
particular expõe, de forma até mesmo cruel,
a enorme diferença social existente em nosso
país, incitando ao ódio e conseqüentemente à
violência.
Sexta: A TV
fará uma revisão completa de sua
programação, deixando de invadir nossos
lares com idéias vazias, que estimulam a
licenciosidade e promovem o desrespeito aos
valores de honestidade, responsabilidade e
compromissos afetivos.
Em um país budista localizado no Himalaia,
de nome Butão, seus habitantes nunca tinham
visto televisão. Em 1999, o rei introduziu
ali uma rede de TV. De lá para cá,
aumentaram de forma significativa, naquela
nação, os índices de adultério, dependência
química, violência e criminalidade.
Sétima: Os
usuários de drogas ilícitas jamais voltarão
a usá-las, pois eles são cúmplices de grande
número de crimes que se dão próximos ou
distantes deles. É o usuário que alimenta o
tráfico. Sem consumo, não há venda. Sem
venda, fecha-se um canal importante de
violência.
Oitava: A
classe média deverá envolver-se diretamente
com os problemas sociais, assumindo a
responsabilidade que lhe compete na
instrução dos menos favorecidos, dando-lhes
as oportunidades que merecem e a inclusão a
que têm direito.
A indiferença perante as necessidades
alheias gera uma postura de comodismo e de
transferência de responsabilidade. Todos
precisam se envolver e dar a sua
contribuição.
Nona: As
lideranças religiosas viverão de forma
simples e sóbria e deverão estar ao lado dos
fiéis, vivenciando suas angústias e
acolhendo-os com fraternidade, fazendo como
Jesus, que tinha como templo a natureza e
como oração a prática do bem.
O objetivo da religião é a ligação do homem
com Deus. Só se pode ligar-se a Deus,
ligando-se aos homens, sua obra.
Décima:
Cada um de nós fará diariamente uma longa
viagem interior para identificar em nós o
germe da crueldade e da indiferença,
assumindo um compromisso de jamais lesarmos
ou prejudicarmos nosso semelhante, assumindo
aquilo que nos compete no processo de
engrandecimento moral do planeta.
O remédio é amargo, mas para enfermidades
longas e graves a terapia tem que ser
profunda. A problemática da criminalidade e
da violência não encontrará solução em
decretos que digam apenas o que os outros
têm que fazer, sem promover reformas em toda
a coletividade.
A Terra será um mundo melhor, quando nós
formos pessoas melhores.