Gentil alma amiga,
Estamos aqui sentados: o
coração, a mente e a grande saudade de você,
doce e distante amigo. Lembranças percorrem
a memória, trazendo imagens de passado
longínquo, nos reportando à sua meninice.
Doce criança, chegando à
escola, olhos vivos, buscando perceber tudo.
Fala macia, jeito sereno de quem não tem
pressa, pois sabe ser dono do próprio tempo.
E você, querido amigo, se fez dono desse
tempo. Lentamente, foi realizando tudo o que
sonhava. Sonhos infantis, sonhos
adolescentes. A profissão do adulto,
realizada com garra e determinação, o fizera
mais forte para um dia afastar-se de todos
nós a buscar caminhos.
A distância, pela
ausência da terra de origem, ao contrário de
nos afastar, só fez nos unir, porque a
amizade verdadeira não se mede pela
distância geográfica, mas pelo coração. E
nunca, em tempo algum, estivemos tão perto
um do outro. Saudade doída essa sua, bem
sei, longe dos pais, dos irmãos, dos amigos
de todos os tempos. Mas a namorada da sua
juventude, transformada em mulher amada, ai
está ao seu lado, dando-lhe força, unindo
sonhos e saudade.
Querido amigo, quantas
cartas trocamos nesses longos anos de seu
afastamento. Mas hoje, não sei por que,
estamos aqui como que aguardando inspiração
para lhe escrever. A razão, ignoro
completamente. Enquanto isso vamo-nos
permitindo lembrar, com suavidade momentos
sublimes de terna amizade. Quantos momentos
de solidão vividos em terra estranha,
valores outros que não são os seus, costumes
outros que não são os nossos... Mas, sua
vontade de ser melhor prevaleceu e você
venceu! Venceu como profissional porque se
fez admirar e respeitar. Venceu como homem,
porque se fez melhor e mais feliz, mais doce
e mais humilde. Conquistas pessoais,
intransferíveis porque só suas.
Mas, todo esforço é
recompensado, pois toda persistência naquilo
que se quer alcançar transforma-se em
alegria íntima, que ninguém nos tira. Os
prêmios são o reconhecimento terreno, mas
quando não são recebidos com humildade,
rebaixam-nos à condição de seres pequenos.
Entretanto, a alegria de vencer os próprios
limites, de conquistar conhecimentos, que
poderão ajudar outras pessoas, isso, meu
amigo, carregamos conosco, porque é
conquista individual e não precisa ser
reconhecida por ninguém, a não ser por Deus.
Assim, aprenda e
prossiga. A luta é grande, o caminho é longo
e a terra precisa ser trabalhada. Nenhuma
semente germina em solo estéril. Espalhe
sementes do conhecimento que você está
aprendendo a produzir e passe adiante sem
aguardar a colheita. Mais à frente, outras
terras precisam ser preparadas e semeadas.
Se encontrarem bom solo essas sementes
frutificarão e você saberá. Não precisa
ficar sentado à beira do caminho, esperando
que viajantes passem e o cumprimentem pelo
trabalho. Você não trabalhou sozinho.
Temos certeza de que
muitas vezes, durante a batalha, nos
cansamos e uma grande vontade de desistir
nos envolve. Por isso, todas as vezes que
iniciarmos uma jornada, não nos esqueçamos
de erguer os braços e pedir ajuda ao Pai; e
quando por cansaço não levantarmos mais as
mãos, pedindo forças para continuar e nos
entregarmos ao desânimo, à preguiça, à má
vontade, as ervas daninhas acabarão por
tomar conta do nosso jardim. Mas, quando,
apesar de toda aflição, nos lembramos e
erguemos os braços, buscando fortalecimento
da nossa vontade, ânimo para nosso corpo e
coração, as benesses divinas nos chegam como
cascatas de luzes a nos envolverem no amor
do Pai Criador, que nos ergue novamente para
a luta. E assim, prosseguimos todos. E, se é
verdade que só tropeça quem caminha, tomara
possamos fazê-lo várias vezes.
Amado amigo, muita paz no
seu doce coração!