– Pode deixar, mamãe, eu
a levo pra você – disse, tranqüilo, o Zé
Nascimento à sua mãe. – A senhora sabe –
continuou ele – eu não acredito nessas
coisas, mas se a senhora quer... pode
deixar, eu vou lá.
A mãe estava vivendo
momentos terríveis. Sua filha caçula ficara
mal da cabeça. Tratava-se de insidiosa
perseguição espiritual, fortes ligações a um
passado de compromissos muito dolorosos.
Procurara em vão os recursos da medicina. A
menina, cada dia pior! Alguém a aconselhara
a procurar um centro espírita. Os espíritas,
diziam, lidam bem com essas coisas. Ela
queria ir, mas não podia. Como justificar
perante suas amigas e companheiras de
irmandade semelhante atitude? E o padre, o
que iria dizer? A menina piorando; o quadro,
cada dia, mais grave.
José do Nascimento era
marxista militante. Fazia palestras,
promovia encontros, organizava células,
arregimentava jovens que doutrinava com sua
palavra fluente, brilhante. Materialista e
ateu, não acreditava em nada daquilo, mas
vendo a angústia da mãe, resolveu ajudá-la.
Faria por ela o que ela queria fazer, mas
não podia, porque o preconceito não deixava!
Naquela época não era
fácil um gesto desses não! Hoje, hoje não.
São outros tempos. Ficou até chique a pessoa
se dizer espírita. Há um halo de admiração e
respeito envolvendo os que se dizem
espíritas! E há enorme credibilidade das
casas espíritas perante a comunidade. Mas
não era assim não, naquele tempo.
Lá vai o Zé Nascimento,
com toda a generosidade de seu coração e com
toda a humildade que Deus lhe deu, procurar
o José Lacerda, presidente do Centro
Espírita Paz, Luz e Amor, da cidade de
Cataguases, onde residia. Relatado o fato,
foi convidado a participar da reunião que se
realizaria, à noite, naquele centro.
Iniciada a sessão, começa
o Zé a ver entrar Espíritos por todos os
lados. Pelas janelas, pelas paredes, pelo
teto... uma verdadeira invasão de Espíritos.
E via de olhos abertos! Alguns ele conhecera
em vida, como o Jota Lacerda, o Dr. Chico
Reis, o Capitão Isaltino. Outros, não. Eram
pessoas que jamais vira, quando encarnadas.
Aí ele começou a descrever o que via. O que
via e o que ouvia. E dava recados. E
transmitia informações. E renovava
conselhos. Em resumo: orientou o grupo, e
analisou o quadro obsessivo da irmã!
Um fato extraordinário!
Incomum! Raríssimo!
Não é necessário dizer
que, naquela mesma noite, começou a devorar
tudo o que havia à mão da literatura sobre
Espiritismo e mediunidade. Em pouco tempo,
tornou-se um dos mais valorosos
trabalhadores da doutrina na bela cidade de
Cataguases.
Preocupado com o que
passara aos jovens, quando de sua pregação
marxista, procurou um a um, grupo a grupo,
pessoa a pessoa, para relatar-lhes o que
havia acontecido com ele e o novo rumo que
procuraria dar à sua vida, a partir daquela
noite memorável!