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Correio Mediúnico
Ano 1 - N° 11 - 27 de Junho de 2007
 

Os heróis da Era nova

Vianna de Carvalho
 

Programada a vinda de Jesus-Cristo à Terra, as Coortes espirituais apresentaram-se espontaneamente para contribuir da melhor maneira possível em favor do messianato divino

Na política, na arte, na filosofia, tomaram o corpo físico Espíritos nobres que deveriam desempenhar papel de relevância, a fim de que a doutrina do amor encontrasse ressonância na sociedade sedenta de alucinações e prazeres.

O Império Romano ainda se encontrava em plena glória, a grandeza das conquistas e o Fausto deslumbrante dominavam quase toda a Terra conhecida, demonstrando o poder da força das legiões e da habilidade do governo central.

As antes famosas cidades gregas, ora em declínio, contribuíam com filhos ilustres para a grandeza de Roma, na condição de pedagogos, médicos e servidores, embora ainda ostentassem as magníficas edificações do passado e sua cultura permanecesse esplendorosa, apesar da ausência dos grandes filósofos de outrora.

Éfeso erguia-se suntuosa, derramando-se próxima das águas azuis-turquesa do Egeu, em pleno Fausto da Jônia, na Anatólia, visitada pelos romanos ilustres e outros povos que vinham negociar habilmente e distrair-se nos seus banhos e teatros espetaculares…

Ali encontrava-se o famoso templo de Ártemis, a deusa da abundância – anteriormente Cibele e mais tarde Diana, a caçadora – uma das sete maravilhas do mundo antigo. As grandiosas colunas que o ornavam, produziam deslumbramento nos visitantes e podiam ser notadas desde o mar, a quase cinco quilômetros de distância….

Destruído e reconstruído várias vezes, incendiado por um louco, os seus escombros denotam, ainda hoje, a audácia e a beleza dos seus construtores, inclusive Praxíteles e Escopas, dois dos mais famosos do mundo que o enriqueceram com estátuas extraordinárias e perfeitas. A deusa era elaborada em mármore polido e ornada de ouro, apresentando as características da exuberância…

Por Éfeso passaram filósofos, que lá viveram e legaram à humanidade páginas de inconfundível beleza, quais foram Heráclito (de Éfeso) e Tales de Mileto…

Situada em um ponto importante, que liga o Oriente ao Ocidente, era um local de cruzamento entre Mileto e a Jônia.

A cidade, envolvente e tumultuada, nas terras de Esmirna, repousava desde então em verdejante vale cercado de montanhas altaneiras e protetoras, proporcionando-lhe temperaturas agradáveis, embora úmidas, nas diferentes épocas do ano.

Suas festividades em abril chegavam a atrair um milhão de pessoas, embora fosse habitada por umas duzentas e cinqüenta mil, que vinham das redondezas, assim como de distantes terras, quais Jerusalém e Atenas…

Foi embelezada por atenienses, espartanos, romanos e conquistadores diversos, entre os quais o rei Creso da Lídia, egípcios, persas, Alexandre Magno da Macedônia, vencida e ressuscitada por turcos, bizantinos, otomanos, havendo exercido, no seu esplendor, uma grande importância para o Cristianismo nascente, com quase dois mil anos desde quando fundada, antes que os jônios a dominassem no século XI a.C.

Durante o cruel reinado de Cláudio, que expulsou os judeus de Roma, Paulo, que se encontrava em Atenas, desceu na direção de Jerusalém, passando por Corinto, onde se fez acompanhar pelos amigos queridos Áquila e Prisca, visitando outras cidades e chegando a Éfeso, ali apresentando a sua primeira exposição sobre Jesus, na sinagoga local.

Depois, embora solicitado para que ficasse por mais tempo, prometeu retornar, dali seguindo a Cesaréia, de onde rumou a Jerusalém…

Nesse ínterim, um erudito judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, trouxe o verbo inflamado a Éfeso iluminando as consciências que se lhe acercavam, dando-lhes conhecimento da mensagem de Jesus.

A cidade-capital foi beneficiada pelo apostolado de Paulo, que ali viveu por vários anos e, posteriormente, por João, que iniciou, nas suas terras, a escrita das suas memórias, que passou à posteridade como o seu Evangelho, tendo erguido sua residência num dos montes periféricos da cidade, onde, mais tarde, passou a residir, até a sua desencarnação, a Mãe Santíssima da Humanidade.

A casinha de pedras foi erguida nos arredores da cidade, em uma encosta, a 350 metros acima do nível do mar entre oliveiras e verdejante relva, mas de onde se podia vê-lo…

Os enfrentamentos entre os pensadores gregos, efésios e outros, aferrados aos deuses ancestrais do seu panteão, e os ministros do Evangelho nascente fizeram-se formosos dialeticamente e agressivos emocionalmente.

Ao mesmo tempo, o farisaísmo, que predominava nas sinagogas erguidas em toda parte onde viviam os judeus, sempre se levantava com ferocidade para combater Jesus e naturalmente aqueles que se Lhe fizeram mensageiros, conduzindo ao cárcere, muitas vezes, esses notáveis Espíritos que jamais desfaleciam nas refregas ou temiam qualquer tipo de hostilidade.

Paulo de Tarso, que ali esteve por diversas vezes, demonstrou com eloqüência incomum a grandeza da palavra do Crucificado nazareno sensibilizando os ouvintes que se multiplicavam, dando início à construção das primeiras células de discípulos cristãos, conforme os denominara Lucas...

Numa dessas ocasiões, no auge do entusiasmo, o apóstolo dos gentios declarou que Jesus se encontrava acima de todos os deuses, naturalmente incluindo Ártemis, que era fonte de renda para a cidade e para artesãos, funcionários, sacerdotes e exploradores em geral…

Um joalheiro famoso de nome Demétrio, que produzia miniaturas de prata da deusa, tomando conhecimento de que os deuses fabricados pelos humanos não eram sagrados, conforme Paulo proclamara, receou que a deusa perdesse o prestígio e, por conseqüência, ele e os demais artesãos ficassem seriamente prejudicados, deu início a um movimento que atraiu tanta gente ao grande Teatro, gritando Ártemis de Éfeso é grande, recitando orações e homenagens, que o ato redundou num pleito, quando as autoridades, por fim, convidaram o apóstolo a abandonar a cidade…

Logo depois, João deu início ali ao seu ministério de amor, atraindo verdadeiras multidões que o ouviam fascinadas.

Ele e Paulo tornaram-se os ministros do reino de Deus, enfrentando as vãs filosofias e apresentando a incomparável mensagem do amor do Mestre, atitudes essas que os levaram ao testemunho por diversas vezes, sem os abater ou os atemorizar.

A coragem desses heróis da Era Nova constitui um dos grandes e fascinantes estímulos para todos quantos desejam servir ao Bem, porquanto nada havia que os intimidasse ou lhes diminuísse o entusiasmo no trabalho a que se entregavam.

Humilhações, suplícios, cárcere e morte não lhes constituíam impedimento à divulgação da Verdade, tão impregnados se encontravam da certeza da imortalidade do Espírito, que as suas vidas ainda hoje constituem modelos de abnegação e de sacrifício comovedores.

Foram eles e muitos outros que se olvidaram de si mesmos para permitirem que Jesus prosseguisse arrebanhando as multidões, que a Mensagem de Luz chegou aos dias modernos, embora as alterações que sofreu, conservando, no entanto, a sua pulcritude nos conteúdos insuperáveis do amor, da compaixão, da humildade, do perdão, da caridade e da sobrevivência espiritual, ainda conduzindo milhões de vidas na direção do Mestre Insuperado.

Nenhuma edificação do Bem alcança a sua gloriosa destinação dispensando os heróis da abnegação e da renúncia. Incompreendidos, no início, suportam as dificuldades mais sérias confiantes no resultado dos esforços, vencendo as intempéries de todo tipo e os enfrentamentos mais covardes e rudes, traiçoeiros e ignóbeis, firmes na decisão, até o momento em que o triunfo do ideal os aureola com o martírio demorado…

O Cristianismo é a saga de homens e mulheres admiráveis que, fascinados por Jesus, tudo abandonaram para melhor O servirem, vencendo distâncias imensas sob o Sol inclemente e as chuvas torrenciais, dominados pela presença dAquele que nunca os abandonou, conforme lhes houvera prometido.

Sucederam-se os séculos, e, periodicamente, eles retornaram às grandes Éfesos terrestres, sacudindo a comodidade e revolucionando as idéias, firmes no convite à transformação moral e ao amor em plenitude, pagando o alto preço da audácia da fé que não se mancomuna com os interesses sórdidos dos comensais da ilusão.

Com o advento do Espiritismo, trazendo Jesus e Sua mensagem de volta, os desafios fizeram-se inadiáveis e, desde os dias de Allan Kardec, Espíritos portadores de grande vigor moral tomaram a indumentária carnal para levarem a Nova Revelação à humanidade distraída e desinteressada do reino de Deus…

Pagando altos preços de incompreensões e calúnias perversas, de competições desastrosas e perseguições doentias, ei-los seguindo altaneiros com os sentimentos colocados no Mestre de amor, superando-se a si mesmos e pondo marcos definidores dos tempos, a fim de que aqueles que virão depois deles dêem prosseguimento ao programa de libertação e de felicidade.

Eles sabem que são os desbravadores, os audazes desmatadores da ignorância e que o seu ministério é o de quebrar os tabus, vencer as hostilidades, suportar o peso das injunções penosas, facilitando a tarefa dos porvindouros apóstolos do Bem.

Incansáveis, prosseguem, anônimos uns, conhecidos outros, todos porém unidos na Causa comum da Doutrina Espírita, de forma a torná-la conhecida pelas suas palavras lúcidas e sábias, respeitada pelos seus atos desataviados e transparentes, pela sua coragem de não revidar o mal com outro mal, uma com outra calúnia, não se permitindo transformar em inimigo de outrem, mesmo que esse lhe seja inimigo, felizes e certos da vitória final.

Esses heróis que se consomem, na condição de combustível do lume que derrama claridade por onde passam, encontram-se sob o amparo do seu Senhor, conforme Paulo, João evangelista, Barnabé, Pedro, Tiago… e todos os pioneiros da nascente doutrina de Jesus que modificou a história da sociedade, preparando o campo de lutas para este momento de ciência, de tecnologia, de conhecimentos filosóficos e éticos, de arte e beleza, de telecomunicações e convivência virtual, quando o Espiritismo implantará na Terra, com os seus paradigmas grandiosos, a sociedade feliz e livre da ignorância para sempre.

Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 22 de maio de 2007, quando de sua visita a Éfeso (Esmirna), Turquia.


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita