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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 11 - 27 de Junho de 2007

CRISTIAN MACEDO
cristianmacedo@potencial.net
Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil)

A curiosidade não mata
"...ao fim do dia interrogava minha consciência..."
Santo Agostinho (1)

A curiosidade matou o gato. Pode ser. Mas tudo indica que não. Quando somos curiosos, cada descoberta é uma satisfação. Mesmo quando se trata das tais "surpresas desagradáveis", o ato de descobrir sempre nos faz crescer mais um pouquinho.

Lembro-me do Aquamóvel. Era um carro a pilha. Colocávamos água em seu tanque, como se fosse gasolina. Ele batia e voltava, tocava sirene e suas luzes piscavam... Quando meu pai chegou em casa com aquele presente, parecia mais feliz que eu. O carro me fascinou tanto que, por curiosidade, acabei desmontando. Meu desejo era conhecê-lo por dentro. O problema é que não consegui montá-lo novamente.

Minha mãe deu bronca:

— "Mas seu pai nem pagou a segunda prestação."

Eu não sabia o que era prestação (que época boa é a infância), mas, no fim, minha mãe entendeu que a curiosidade era muito forte. Não seria uma prestação ainda não paga que justificaria inibir a curiosidade infantil.

Foi um capítulo bacana da minha vida.

A alma humana: alvo de curiosidade - Existem muitas coisas interessantes no mundo... coisas que aguçam a nossa curiosidade. Porém, nada se compara a alma humana, a mais complexa e intrigante invenção de Deus. Um oceano a se descobrir.

Não é nada fácil navegar nesses mares bravios da intimidade da alma. Mas é profundamente instigante... desafiador.

Tempestades, calmarias, redemoinhos, monstros... dúvidas, paixões, carências, condicionamentos, preconceitos...

Por isso, muitos navegam pelas margens... próximo a praia (mesmo correndo risco de encalhar), dizendo que conhecem tudo em sua profundidade. Não enfrentam. É o auto-engano.

Cultura da curiosidade - Temos que alimentar a curiosidade. Quem é curioso deseja conhecer. E somente quem gosta de conhecer procura se autoconhecer.

Nesse contexto a humildade é muito importante, pois só é verdadeiramente curioso quem se dá conta que é um ser inacabado e mutável. É difícil um "sabe-tudo" ser curioso, pois a curiosidade é alimentada pela consciência da própria ignorância. E pela consciência da complexidade que mora em cada um de nós. É preciso criar a cultura da curiosidade e, é lógico, a cultura da humildade.

Decifrando enigmas - A curiosidade faz enfrentarmos adversidades. O homem quis mergulhar nos oceanos.... desejou pisar na Lua, conhecer outros planetas... conhecer as entranhas da Terra... escalar as mais altas montanhas... descobrir curas para doenças... avançar em técnicas cirúrgicas...

Nisso tudo há paixão, propósito, esforço, curiosidade.

Quando se trata de autoconhecimento não é diferente. Precisamos de esforço, dedicação e disciplina para organizar essa desordem que mora em nossas mentes. Ou para, pelo menos, entendê-la.

É difícil... claro. Mas para quem adora desafios, nada melhor do que orar, olhar para dentro de si, meditar profundamente sobre a própria essência.

É assim que conseguiremos ouvir um sussurro, bem baixinho, da esfinge mítica a nos propor: "Decifra-me ou te devoro".

Ou iniciamos agora esse processo de autoconhecimento e auto-reforma, ou seremos devorados por nossas paixões, nossos medos, preconceitos e ignorância.

É mais difícil que desmontar e montar novamente o Aquamóvel... Mas vale a pena.

(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, item 919, a.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita