Conta Esopo (1)
que existiam uma raposa e uma
cegonha bastante amigas.
Certa vez, a
raposa convidou a cegonha para
jantar em sua casa. Dizia ela que
seria um jantar para selar a
amizade das duas, e, por isso,
não poderia aceitar um não como
resposta.
A cegonha
aceitou, pois, a gentileza.
Contudo, na realidade, a canídea
queria pregar uma peça na ave, e,
assim, planejou servir uma
suculenta sopa, porém em um prato
raso, e o fez, na hora aprazada.
Logicamente, a
mamífera tomou, sem dificuldades,
toda a refeição, mas a pobre
cicônia, devido ao seu bico ser
muito comprido, mal conseguiu
tomar uma gota, e, assim, voltou
para casa, depois do jantar,
morrendo de fome.
A carnívora,
obviamente, fingiu preocupação,
perguntando, um tanto quanto
ironicamente, se a sopa não
estava a gosto da amiga cegonha.
Essa, entretanto, porque mais
sábia, nada disse, apenas
agradeceu a ocasião simpática e,
externou, outrossim, a vontade de
retribuir, no dia imediato, o
jantar, o que foi aceito, de bom
grado, pela raposa.
Na noite
seguinte, pois, assim que chegou
na casa da ave, a canídea se
sentou à mesa lambendo os lábios
de fome, e, também, curiosa para
ver as delícias que a outra ia
servir.
Dentro em
pouco, o jantar foi servido,
contudo, para a surpresa da
carnívora, em uma jarra alta, de
gargalo estreito, no qual a
cegonha podia beber sem o menor
problema, e a raposa,
amoladíssima, não tinha outra
saída, a não ser lamber as
pequenas gotas de sopa que
escorriam pelo lado de fora da
jarra.
A canídea
tinha aprendido a lição que a
cegonha queria lhe ensinar. E, por
isso, quando de volta para casa,
igualmente com fome, pensava de si
para consigo mesma:
- "Não
posso reclamar da cegonha. Ela só
me fez aquilo que eu lhe fiz
anteriormente".
Com semelhante
fábula, simples exteriormente,
conseguimos aprender uma lição
profunda interiormente. Tão
importante que o Mestre Jesus,
mais tarde, colocaria como sendo o
resumo de todas as leis e de todos
os profetas, (2) quando
dissera "fazei aos homens
tudo o que queirais que eles vos
façam, pois é nisto que
consistem a lei e os
profetas", ou, ainda, quando
recomendara "tratai todos os
homens como quereríeis que eles
vos tratassem". (3)
Na sociedade
tão competitiva como a dos dias
de hoje, o respeito parece querer
se esconder tímido. Contudo, ele
nunca ficará totalmente
encoberto, já que, estando em a
Lei do Pai, é eterno, sendo,
ainda, um pré-requisito para a
obtenção da capacidade de amar
verdadeiramente.
Dessa maneira,
com exceção da fábula, vê-se
que, em a natureza, tudo é
harmonia, já que as relações
ecológicas são permeadas dessa
virtude sacrossanta. E, nesse
ínterim, só a espécie Homo
Sapiens não consegue se
enquadrar, quebrando,
conseqüentemente, a sutil cadeia
harmônica do ecossistema.
Tal
desrespeito, porém, para com o
meio ambiente, nada mais é do que
um reflexo do intenso turbilhão
aflitivo em que vive o homem. E,
como o meio não é, apenas,
permeado de vegetais, o ser humano
desrespeita, igualmente, o seu
semelhante. Paradoxalmente, ao se
analisar os diversos espécimes
animais, ver-se-á que, dentro
deles, não há semelhantes
atitudes.
Na história
contada, observa-se um quadro de
rotina. E poder-se-ia perguntar:
"e o respeito não é,
somente, para os grandes feitos
homéricos?".
Em absoluto. A
virtude ensinada por Cristo em
tais passagens evangélicas não
é destinada, somente, para as
horas extraordinárias, mas,
sobretudo, para aquelas
ordinárias do dia-dia, já que
são essas que geram no
"eu" espírito, pela
constância do hábito, tal
sentimento divino.
Só existem os
grandes erros porque há aqueles
menores.
Desse modo,
tenhamos em vista que respeitar é
seguir essa máxima de Jesus em
todos os âmbitos da vida, e,
sendo assim, tentemos colocar em
prática tal ensinamento, pois
"não podemos encontrar
roteiro mais seguro que tomar para
padrão, do que devemos fazer aos
outros, aquilo que para nós
desejamos". Fazendo isso,
destruiremos o egoísmo, e,
conseqüentemente, "os homens
compreenderão a verdadeira
fraternidade". (4)