Este, sem
nenhuma dúvida, é um dos pontos
que geram controvérsias.
A intenção
deste trabalho não é fazer
apologia a procedimentos que
envolvam decisões delicadas e
muito menos polemizar a questão.
Sabemos que
tudo na vida não é só uma
questão de compreensão, mas de
costumes, hábitos, conceitos,
raízes essas profundas que estão
conosco desde o berço e custam
algum tempo para que sejam
modificadas.
Não se
pretende, é claro, num simples
comentário, que as pessoas passem
a tomar decisões até então
diferentes das que até agora
foram decididas em família, e da
forma convencional.
Quando se fala
ou se mostra fatos e fotos de
países que adotam sistemas
diferentes dos praticados, por
exemplo, em nossa pátria, muitos
são os que ainda não aceitam
sequer comentar a respeito.
Bem sabemos que
países europeus e asiáticos
adotam o sistema da cremação.
Embora essa
prática não seja ainda muito
aceita no Brasil, de acordo com o
crematório de Vila Alpina, na
Capital paulista, a cada três ou
quatro meses há necessidade de se
rever o percentual de interessados
nessa modalidade de procedimento,
em razão do crescente interesse
demonstrado.
Um detalhe
interessante e fornecido pelo
próprio crematório é que o
número de espíritas que optam
por essa forma é maior que de
outras religiões. É apenas uma
questão de curiosidade, mas com
fundamento lógico.
Como os
números não mentem, mesmo quando
aproximados, somente na capital de
São Paulo tem-se em média o
registro de 300 óbitos diários.
Desse total, cerca de 25 deles
são encaminhados ao crematório,
o que corresponde a 8%. Isso está
significando maior aceitação,
mesmo porque outras cidades do
Estado de São Paulo já estão em
atividade nessa área, como
Guarulhos, Santos, São José dos
Campos, Sorocaba, Taboão da Serra
e Itapecirica. São José do Rio
Preto e Santo André estão em
fase de preparação.
Enquanto outros
países têm número elevadíssimo
de cremações, o Brasil, que
conta com 3.400 óbitos por dia,
tem apenas 100 desse total
encaminhados para esse sistema,
somando cerca de 3%.
Hoje, a
justificativa para essa opção
está contida num pacote com
vários argumentos, conforme
alegam. O primeiro deles é o
custo com operação de
aquisição de jazigo, inumação
e sua perpétua manutenção.
Mesmo pela
ótica espírita, há que se
considerar, primeiramente, a
formação individual. O aspecto
da educação cultural é
muitíssimo importante.
O
desprendimento é o fator
fundamental para a tranqüilidade
de qualquer decisão a ser tomada
nesse sentido. O arrependimento,
como sabemos, é uma sombra
eterna.
Por um lado, na
questão n° 151 de "O
Consolador", cuja
orientação procede de Emmanuel,
essa figura exponencial que
acompanhou Chico Xavier na
condição de Mentor por quase 75
anos, é afirmado que devemos
aguardar por mais horas o ato de
destruição das vísceras
materiais, em razão de possíveis
ecos que ainda possam existir,
cujos fluidos solicitem a alma
para as sensações da existência
material. É um fato.
De outra parte,
temos no "O Céu e o
Inferno", de Allan Kardec, em
sua segunda parte, Cap. I - A
Passagem nos tópicos
"4" e "5" onde
vamos encontrar "...de
sorte que a separação não é
completa e absoluta senão quando
não reste mais um único átomo
do perispírito unido a uma
molécula do corpo; Disso
resulta que o sofrimento que
acompanha a morte está
subordinado à força de
aderência que une o corpo e o
perispírito".
Quanto à
perturbação, no tópico
"6" do mesmo livro
vemos: "a perturbação
pode, pois, ser considerada como
normal no instante da morte; a sua
duração é indeterminada; varia
de algumas horas a alguns anos"
(grifo nosso)
Porém, nos
casos de morte natural ou
doenças, no tópico
"9", idem, aborda-se da
seguinte forma: "no homem,
cuja alma está desmaterializada,
e cujos pensamentos se separam das
coisas terrestres, o desligamento
é quase completo antes da morte
real; o corpo vive ainda a vida
orgânica e a alma já entrou na
vida espiritual e não se prende
mais ao corpo senão por um laço
tão fraco que se rompe, sem
dificuldade, ao último batimento
do coração".
Na morte
violenta, contudo, o tópico
"12", idem, esclarece: "Sendo
a força da vida orgânica
subitamente detida, o desligamento
do perispírito não começa,
pois, senão depois da morte, e,
nesse caso, como os outros, não
pode se operar instantaneamente.
O Espírito, apanhado de
improviso, está como
atordoado".
Para finalizar,
o tópico "13", idem,
traz: "...a prontidão do
desligamento está em razão do
grau de adiantamento do Espírito;
para o Espírito desmaterializado,
cuja consciência é pura, a morte
é um sono de alguns instantes,
isenta de todo sofrimento e cujo
despertar é cheio de
suavidade" (grifo nosso).
À vista de
todo o exposto, compreendemos que
para quaisquer dos casos de
desencarnação, seja através de
morte violenta ou natural, há que
se ter, sempre, leveza de
espírito e de coração, pois foi
Jesus que o disse: "Vigiai,
porque não sabeis em que dia vem
o vosso Senhor. Mas considerai
isto. Se o pai de família
soubesse a que hora viria o
ladrão, vigiaria e não deixaria
que fosse arrombada a sua casa.
Por isso ficai também vós
apercebidos, porque, à hora em
que não cuidais o Filho do homem
virá" (Mateus, 24,
42-44).
Há que se
pensar bem, para não se
arrepender das atitudes tomadas.
Como compreenderíamos aqueles que
são lançados ao mar? Como
ficariam os que se perdem nas
geleiras eternas? E os que nunca
foram encontrados por razões
diversas? Estariam perdidos pela
eternidade ?
Através dos
próprios Espíritos, nos é
esclarecido que o corpo é mero
veículo, é móvel de ação da alma,
é matéria deteriorável; sem o
halo vital é, de fato, verdadeiro
resto.
"Deixai
que os mortos enterrem seus
mortos".
É um assunto
para refletir.