Subjugação
após a morte
Abel tomou a
palavra e foi logo avisando: – O
trabalho de hoje será em
benefício da Fundação.
Eu tinha
acabado de fazer a prece, quando o
recado chegou. A médium era Laura
Pacheco.
Esse Abel é
Abel Gomes, o introdutor do
Espiritismo na cidade em que
nasci, e hoje, no plano
espiritual, com importante tarefa
ligada ao desenvolvimento da
doutrina espírita, na zona da
mata mineira. A Fundação é a
Fundação Espírita Abel Gomes,
que recolhe meninas desamparadas,
de zero a cinco anos de idade, na
cidade de Astolfo Dutra, a 110 km
de Juiz de Fora.
Desde sua
criação, em 1942, tem sido a
Fundação assediada por
insidiosos inimigos desencarnados.
Parte desses obsessores são
inimigos da Doutrina, que não
toleram ver uma instituição dita
espírita prestando tais serviços
à comunidade, e parte são
Espíritos vinculados às meninas
abrigadas por erros cometidos no
passado e que vêm cobrar o que
acham que elas lhes devem, numa
sede insaciável de vingança.
A sessão
começou e os Espíritos foram
chegando e conversando conosco.
Alguns aceitando, com facilidade,
o auxílio oferecido; outros,
rebeldes, ficando para depois,
quando estivessem em melhores
condições de entender.
Um deles, no
entanto, despertou-me atenção
especial. Não sei por quê. Um
sinal forte cá dentro do
coração. Quis saber quem era.
Seu nome, endereço, CPF. Não
deu. Insisti. Não quis dar. Aí,
dona Yolanda, uma das médiuns do
grupo, começou a descrever:
– É um
mulato forte, leve entrada na
fronte denunciando calvície a se
instalar; suavemente obeso,
residia na Rua de Cima, a uns
duzentos metros da Fundação,
trabalhava com açougue, e se
chamava...
Quando Dona
Yolanda ia pronunciar seu nome,
não podendo mais esconder a
identidade, disse ao mesmo tempo
que ela:
– Sebastião
de Sousa!
Tinha sido meu
amigo! Companheiro de mocidade.
Pai de alunos meus a quem sempre
quis muito bem! Aí, desabafei:
– Mas você, meu caro! Amigo
nosso! Conhecedor das dificuldades
de nossa instituição. Vizinho
das meninas! Que é isso, rapaz?!
– Ah! Arthur
– falou, envergonhado e em
prantos. Desde meu desencarne que
não sou dono de mim mesmo. Fui
dominado por um grupo de demônios
que fizeram de mim o que quiseram
e que me tornaram, sem que eu
pudesse reagir, instrumento de
perseguição às meninas. São
inimigos da Casa e da Doutrina,
liderados por um ex-sacerdote,
Padre Sérgio, que empregam suas
energias, diuturnamente, nas
tarefas do mal! Não tive como me
livrar. Espero que Deus me liberte
desse sofrimento!
Vivenciamos,
ali e naquele momento,
experiência semelhante àquela
vivida por André Luiz, quando da
desencarnação de Fernando,
narrada por ele em seu livro Os
Mensageiros. Espíritos maus,
impacientes, aguardavam a
desencarnação do desafeto para
subjugá-lo e submetê-lo a todo
tipo de humilhações.
Saímos todos pensando: Como é
importante a gente viver bem para
que isso não venha a acontecer
conosco.