De:
José
Passini
(Juiz
de
Fora,
MG)
Quinta,
dia
5 de
julho
de
2007,
à
00:41
Caro
amigo,
Uma
luz
no
fim
do
túnel...
Odilon
de
Oliveira,
juiz
federal,
este
merece
o
nosso
aplauso.
Nem
tudo
está
perdido
neste
nosso
Brasil...
O
juiz
-
Odilon
de
Oliveira,
de
56
anos,
estende
o
colchonete
no
piso
frio
da
sala,
puxa
o
edredom
e
prepara-se
para
dormir
ali
mesmo,
no
chão,
sob
a
vigilância
de
sete
agentes
federais
fortemente
armados.
Oliveira
é
juiz
federal
em
Ponta
Porã,
cidade
de
Mato
Grosso
do
Sul
na
fronteira
com
o
Paraguai
e,
jurado
de
morte
pelo
crime
organizado,
está
morando
no
fórum
da
cidade.
Só
sai
quando
extremamente
necessário,
sob
forte
escolta.
Em
um
ano,
o
juiz
condenou
114
traficantes
a
penas,
somadas,
de
919
anos
e 6
meses
de
cadeia,
e
ainda
confiscou
seus
bens.
Como
os
que
pôs
atrás
das
grades,
ele
perdeu
a
liberdade.
'A
única
diferença
é
que
tenho
a
chave
da
minha
prisão.'
Traficantes
brasileiros
que
agem
no
Paraguai
se
dispõem
a
pagar
US$
300
mil
para
vê-lo
morto.
Desde
junho
do
ano
passado,
quando
o
juiz
assumiu
a
vara
de
Ponta
Porã,
porta
de
entrada
da
cocaína
e da
maconha
distribuídas
em
grande
parte
do
País,
as
organizações
criminosas
tiveram
muitas
baixas.
Nos
últimos
12
meses,
sua
vara
foi
a
que
mais
condenou
traficantes
no
País.
Oliveira
confiscou
ainda
12
fazendas,
num
total
de
12.832
hectares,
3
mansões
-
uma,
em
Ponta
Porã,
avaliada
em
R$
5,8
milhões
- 3
apartamentos,
3
casas,
dezenas
de
veículos
e 3
aviões,
tudo
comprado
com
dinheiro
das
drogas.
Por
meio
de
telefonemas,
cartas
anônimas
e
avisos
mandados
por
presos,
Oliveira
soube
que
estavam
dispostos
a
comprar
sua
morte.
'Os
agentes
descobriram
planos
para
me
matar,
inicialmente
com
oferta
de
US$100
mil.'
No
dia
26
de
junho,
o
jornal
paraguaio
Lá
Nación
informou
que
a
cotação
do
juiz
no
mercado
do
crime
encomendado
havia
subido
para
US$
300
mil.
'Estou
valorizado',
brincou.
Ele
recebeu
um
carro
com
blindagem
para
tiros
de
fuzil
AR-15
e
passou
a
andar
escoltado.
Para
preservar
a
família,
mudou-se
para
o
quartel
do
Exército
e em
seguida
para
um
hotel.
Há
duas
semanas,
decidiu
transformar
o
prédio
do
Fórum
Federal
em
casa.
'No
hotel,
a
escolta
chamava
muito
a
atenção
e
dava
despesa
para
a
PF.'
É o
único
caso
de
juiz
que
vive
confinado
no
Brasil.
A
sala
de
despachos
de
Oliveira
virou
quarto
de
dormir.
No
armário
de
madeira,
antes
abarrotado
de
processos,
estão
colchonete,
roupas
de
cama
e
objetos
de
uso
pessoal.
O
banheiro
privativo
ganhou
chuveiro.
A
família
-
mulher,
filho
e
duas
filhas,
que
ia
mudar
para
Ponta
Porã,
teve
de
continuar
em
Campo
Grande.
O
juiz
só
vai
para
casa
a
cada
15
dias,
com
seguranças.
Oliveira
teve
de
abrir
mão
dos
restaurantes
e
almoça
um
marmitex,
comprado
em
locais
estratégicos,
porque
o
juiz
já
foi
ameaçado
de
envenenamento.
O
jantar
é
feito
ali
mesmo.
Entre
um
processo
e
outro,
toma
um
suco
ou
come
uma
fruta.
'Sozinho,
não
me
arrisco
a
sair
nem
na
calçada.'
-
diz.
Uma
sala
de
audiências
virou
dormitório,
com
três
beliches
e
televisão.
Quando
o
juiz
precisa
cortar
o
cabelo,
veste
colete
à
prova
de
bala
e
sai
com
a
escolta.
'Estou
aqui
há
um
ano
e
nem
conheço
a
cidade.
Na
última
ida
a um
shopping,
foi
abordado
por
um
traficante.
Os
agentes
tiveram
de
intervir.
Hora
extra
-
Azar
do
tráfico
que
o
juiz
tenha
de
ficar
recluso.
Acostumado
a
deitar
cedo
e
levantar
de
madrugada,
ele
preenche
o
tempo
com
trabalho.
De
seu
'bunker',
auxiliado
por
funcionários
que
trabalham
até
alta
noite,
vai
disparando
sentenças.
Como
a
que
condenou
o
mega
traficante
Erineu
Domingos
Soligo,
o
Pingo,
a 26
anos
e 4
meses
de
reclusão,
mais
multa
de
R$
285
mil
e o
confisco
de
R$
2,4
milhões
resultantes
de
lavagem
de
dinheiro,
além
da
perda
de
duas
fazendas,
dois
terrenos
e
todo
o
gado.
Carlos
Pavão
Espíndola
foi
condenado
a 10
anos
de
prisão
e
multa
de
R$
28,6
mil.
Os
irmãos
Leon
e
Laércio
Araújo
de
Oliveira,
condenados
respectivamente
a 21
anos
de
reclusão
e
multa
de
R$78,5
mil
e 16
anos
de
reclusão,
mais
multa
de
R$56
mil,
perderam
três
fazendas.
O
mega
traficante
Carlos
Alberto
da
Silva
Duro
pegou
11
anos,
multa
de
R$
82,3
mil
e
perdeu
R$
733
mil,
três
terrenos
e
uma
caminhonete.Aldo
José
Marques
Brandão
pegou
27
anos,
mais
multa
de
R$
272
mil,
e
teve
confiscados
R$
875
mil
e
uma
fazenda.
Doze
réus
foram
extraditados
do
Paraguai
a
pedido
do
juiz,
inclusive
o
'rei
da
soja'
no
país
vizinho,
Odacir
Antonio
Dametto,
e
Sandro
Mendonça
do
Nascimento,
braço
direito
do
traficante
Luiz
Fernando
da
Costa,
o
Fernandinho
Beira-Mar.
'As
autoridades
paraguaias
passaram
a
colaborar
porque
estão
vendo
os
criminosos
serem
condenados.
O
juiz
não
se
intimida
com
as
ameaças
e
não
se
rende
a
apelos
da
família,
que
quer
vê-lo
longe
desse
barril
de
pólvora.
Ele
é
titular
de
uma
vara
em
Campo
Grande
e
poderia
ser
transferido,
mas
acha
'dever
de
ofício'
enfrentar
o
narcotráfico.
'Quem
traz
mais
danos
à
sociedade
é
mega
traficante.
Não
posso
ignorar
isso
e
prender
só
mulas
(pequenos
traficantes)
em
troca
de
dormir
tranqüilo
e
andar
sem
segurança.
Uma
pergunta
-
Minha
humilde
pergunta:
A
mídia
noticiou
essa
bravura
que
o
Brasil
precisa
saber?
José
Passini |