As ratoeiras têm a
ver com o boi
“...tudo se encadeia,
tudo é solidário na
Natureza.”
Allan Kardec
Recebi esta historinha
pela internet.
O rato, sorrateiro, vê o
fazendeiro
desembrulhando uma
ratoeira. Desesperado, o
roedor sai pela fazenda
gritando: “Cuidem-se,
tem uma ratoeira na
casa... tem uma ratoeira
na casa.”
A galinha sorriu, e
disse: “Ora, por que me
preocupar? Ratoeiras
devem preocupar só os
ratos”.
O porco, um pouco mais
sensível, se dirigiu ao
ratinho: “Tome cuidado,
mas caso algo aconteça
com você prometo lhe
endereçar uma prece.”
O boi continuou
ruminando, não dando a
mínima para a apreensão
do rato.
O rato sentiu-se só,
diante de tamanho risco.
Chegando a noite, a
ratoeira funcionou, mas
não com o rato. Uma
cobra venenosa acabou
caindo na armadilha. Seu
rabo ficou preso nela.
Quando o fazendeiro foi
conferir a ratoeira, sua
mulher (um pouco
curiosa) acabou sendo
picada pela cobra. Foi
levada imediatamente ao
hospital.
Precisou ficar duas
semanas de cama. E para
quem se recupera de algo
assim, tão grave, nada
melhor que uma canja. E
lá se foi a galinha.
Os parentes que foram
visitar a esposa do
fazendeiro tiveram carne
de porco nas refeições.
Ao final da difícil
recuperação, a mulher do
fazendeiro estava
intacta. Cheia de saúde
e entusiasmo. Para
comemorar amigos e
parentes foram
convidados para um
churrasco. E o boi teve
que ser sacrificado.
A
indiferença à dor alheia
A indiferença é algo
terrível. Somos seres de
convivência de
afetividade. Precisamos
afetar e ser afetados
pelos outros. Precisamos
de compaixão e
solidariedade. Caso
contrário, nos tornamos
pessoas tristes, amargas
e sem vida.
Muitas vezes já ouvi de
pessoas religiosas
(aquelas que,
teoricamente, deveriam
ser as mais compassivas)
explicações tolas para
sua indiferença à dor
alheia. Uns dizem: “É
coisa de Deus. Não
podemos interferir”.
Outros, mais
“preocupados” com a
felicidade futura dos
que sofrem, falam: “Eu
não me envolvo para não
atrapalhar seu resgate.
Isso é karma”.
Pessoas precisando de
uma orientação, de um
apoio, de amizade... Mas
muitas são as desculpas.
Em se tratando de
filantropia, aí existe
uma desculpa
interessante: o medo da
cachaça. “Eu não dou
dinheiro, senão ele
compra cachaça” ou o
mais interessante: “Eu
não dou comida, senão
ele troca por cachaça”.
Fico imaginando os donos
de brechó, com um
engradado de cachaça nos
fundos da loja, para
trocar com alguém que
traga uma sacola de
roupas usadas. É muita
criatividade. Bastaria
dizer: não quero ajudar
e pronto. Afinal,
ninguém é obrigado a dar
coisas ou dinheiro pra
ninguém.
Solidariedade é artigo
escasso... que o diga o
pobre ratinho.
Fazer o
bem faz bem pra gente
Nossas vidas estão
inter-relacionadas.
Escrevo este texto
graças a muitas outras
pessoas. A meus pais
(por me darem a chance
de estar no mundo); ao
Maurício de Souza, que
criou a Turma da Mônica
(e todos aqueles
balõezinhos cheios de
letras que aguçaram
minha curiosidade para a
leitura); aos meus
professores; aos
escritores dos livros
que li; aos que
construíram este
computador; aos amigos
que lêem meus textos; ao
padeiro (adoro escrever
depois de um lanche — a
fome me tira a
inspiração)...
Tudo o que fazemos está
mergulhado numa rede sem
fim de relações. Não dá
pra visualizarmos começo
ou fim... apenas estamos
interconectados. Essa é
a verdade.
Todo o bem que fazemos
ou deixamos de fazer vai
interferir no universo,
de forma positiva ou
negativa. Quando
deixamos de fazer o bem,
acabamos sofrendo logo
adiante. Não por
“castigo dos deuses”.
Simplesmente porque
criamos um ambiente
positivo ou negativo a
partir de nossas ações
ou omissões.
É melhor viver rodeado
de amor, felicidade e
gratidão do que ter em
torno de si raiva,
rancor e desejo de
vingança.
Ao construirmos um mundo
bom, com o bem que a
gente faz, é óbvio que
colheremos coisas boas.
Ajudar as pessoas, dar
atenção, respeitar...
tudo isso faz com que o
bem se espalhe.
Cuidado, galinhas,
porcos e bois... tudo
tem a ver com tudo, até
o risco que corre um
pobre ratinho.