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Entrevista
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Ano
1 - N° 13 - 11 de Julho
de 2007 |
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THIAGO
BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
Curitiba, Paraná
(Brasil) |
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Dr. Javier Salvador Gamarra:
"Na
Homeopatia compreendemos
que cada criatura faz sua
própria doença"
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Dr. Javier
Salvador Gamarra, médico
homeopata, ex-presidente da
Associação Médica Homeopática
Brasileira e presidente da
Fundação de Estudos Médicos
Homeopáticos do Paraná, é
reconhecidamente uma autoridade
nacional em medicina homeopática,
além de confrade atuante nas
lides espíritas na Capital de
nosso Estado.
Na entrevista
que se segue, Dr. Gamarra nos fala
sobre a Homeopatia, ciência
fundada por Christian Friedrich
Samuel Hahnemann (Meissen,
Saxônia, 1755 - Paris 1843), e o
que existe de comum entre ela e os
princípios espíritas.
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Christian Friedrich Samuel
Hahnemann |
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Dr. Javier
Salvador Gamarra, médico
homeopata, ex-presidente da
Associação Médica Homeopática
Brasileira e presidente da
Fundação de Estudos Médicos
Homeopáticos do Paraná, é
reconhecidamente uma autoridade
nacional em medicina homeopática,
além de confrade atuante nas
lides espíritas na Capital de
nosso Estado.
Na entrevista
que se segue, Dr. Gamarra nos fala
sobre a Homeopatia, ciência
fundada por Christian Friedrich
Samuel Hahnemann (Meissen,
Saxônia, 1755 - Paris 1843), e o
que existe de comum entre ela e os
princípios espíritas.
– Como
definir a Homeopatia?
Dr. Gamarra
– A Homeopatia, como o seu nome
indica - "Homoios =
Semelhante; Pathos =
sofrimento" -, é uma
especialidade médica que para o
tratamento se baseia da lei da
semelhança. Um de seus
princípios é o de que os
experimentos devem ser realizados
no homem sadio, ou seja, qualquer
substância pode ser experimentada
num homem são e nele produzir uma
série de sintomas
característicos, individuais.
Nós somos,
cada um de nós, um todo
indivisível, que reage a
estímulos, como por exemplo, à
luz do raio solar, a trovoadas, à
neve, à umidade, ou vento etc.,
com uma particularidade que é a
que tem cada indivíduo de reagir
a seu próprio modo. Nesta
reação, que surge na
experiência do homem sadio, nós
verificamos então a
susceptibilidade (de que maneira
essa pessoa adoece), a tendência
mórbida (em que sentido se
processa a doença), o modo como
esse indivíduo é pressionado a
ponto de apresentar uma série de
sintomas. A Homeopatia é um ponto
de vista, é uma idéia que
atravessa o tempo, desde
Hipócrates até Hahnemann e dele
até os nossos dias. É uma
compreensão diferente do homem,
caracterizando-se fundamentalmente
por considerar os aspectos morais
do ser humano, o seu
comportamento, as suas atitudes,
os aspectos através dos quais o
homem pode adoecer.
Na Homeopatia
nós encontramos quatro pilares
básicos:
- A experiência no homem
são;
- A Lei da similitude;
- Medicamento único;
- A dinamização do
medicamento.
Com relação
ao medicamento único, sempre é
utilizada uma substância única e
simples para ser experimentada no
homem são, e essa substância
única e simples é que nos deu a
certeza da modificação de cada
criatura na sua susceptibilidade e
no seu dinamismo. Por exemplo: uma
pessoa pode se tornar ciumenta por
causas desconhecidas por nós,
como também avarenta, porque
estes fenômenos são da
movimentação do dinamismo mental
de cada pessoa num sentido muito
profundo. É difícil dizer por
que alguém tem ciúmes, por que
alguém fica infeliz com a
felicidade de outrem, e neste
sentido a homeopatia apresenta um
avanço muito grande na
compreensão do ser humano.
Hahnemann,
o pai da Homeopatia, a
chamava
de psicologia experimental
– Qual a
origem da Homeopatia?
Dr. Gamarra
– A Homeopatia foi idealizada e
comprovada por Samuel Cristiano
Frederico Hahnemann, da Alemanha.
Pode-se dizer que Hahnemann é
realmente o fundador da psicologia
experimental, porque quarenta anos
antes que Kluberman lançasse seu
primeiro trabalho Hahnemann já
tinha feito a experiência no
homem são. Numa obra intitulada
em latim "Fragmenta virilibus",
ele lança a primeira idéia, o
primeiro resultado de sua
experiência, para dar a conhecer
ao mundo um novo método para o
conhecimento da ação
farmacodinâmica das drogas, que
nada mais, nada menos, era a
experiência no homem são. Ele
experimentou em si essas
substâncias. Começou pela
Quinina (Quina ou china
officinalis) ou cinchona do
Peru, que era usada no combate à
malária. Em 1789, ele ficou
doente de malária e curou-se com
o exposto de Quina.
Na tradução
de uma obra importante da época,
de um inglês chamado Cullen, em
que este se referia à ação da china
officinalis como sendo uma
substância que era
tônico-disclônica e que por essa
razão seria capaz de curar a
febre intermitente, Hahnemann não
concordou. Tornou a experimentar
então em si esse exposto de
china, mas com a idéia febril de
que esse exposto curava as febres
intermitentes porque seria capaz
de produzi-las. Sem dúvida, ele
chegou a experimentar em si cerca
de quatro gramas por dia, o que
representa uma quantidade bastante
tóxica. No período de um mês,
possivelmente, experimentou dores
muito intensas. Sofreu bastante
para conhecer a ação tóxica
dessa substância em si próprio e
descobriu, então, que a febre
intermitente se apresentava tal
qual ele a havia tido, um ano
antes.
Nessa
experiência, Hahnemann sanciona,
através da experimentação no
homem são, a lei de similitude,
que fora dada inicialmente ao
mundo por Hipócrates, que disse:
"Similia similibus curantur"(o
semelhante cura o semelhante). Mas
Hahnemann disse: "Similia
similibus curentur"(o
semelhante cure o semelhante). Ao
verificar que é possível
conhecer a ação de uma
substância pela experiência no
ser humano sadio, ele descobriu o
caminho de uma nova terapêutica,
de uma nova forma de tratar, que
seria a comparação entre o
sofrimento produzido por uma droga
qualquer no ser humano são e o
sofrimento de cada ser humano
doente. O sofrimento do ser humano
doente é dado pela doença
natural, mas é exatamente o
conhecimento da experiência no
homem são que nos permite dizer
que determinada substância
poderá servir de medicamento
àquele ser humano doente.
Ele lançou sua
informação em 1796, ano que nós
consideramos como o de fundação
da Homeopatia. Hahnemann, em 1805,
em seus "Escritos
menores", utiliza pela
primeira vez o termo psicologia
experimental. Pode-se dizer que
ele a criou, embora ainda não
tenha sido reconhecido. Será
certamente, no futuro, reconhecido
como benfeitor da humanidade. Ele
experimentou em si cerca de 101 a
120 medicamentos em sua vida.
Contribuiu decisivamente para a
criação da farmacotécnica
homeopática. Nela, ele nos
ensinou a fugir da ação tóxica
e colateral das substâncias que
há à nossa disposição. Depois
das experiências com a china
officinalis, ele foi diluindo
cada vez mais as substâncias
utilizadas nas experiências para
fugir à ação tóxica delas.
– Em que
difere a Homeopatia da medicina
alopática?
Dr. Gamarra
– A experiência no homem sadio
faz com que a Homeopatia seja
completamente diferente da
medicina que nós compreendemos
nos bancos escolares, embora já
tenhamos hoje, como médicos, o
conceito da individualidade, do
ser indivisível e, também, uma
noção aprofundada do ponto de
vista da psicossomática, em
muitos aspectos, pelas diversas
escolas. Todos temos hoje uma
noção de susceptibilidade, por
exemplo, à infecção, às
bactérias, aos vírus. Na
Homeopatia nós compreendemos que
cada criatura faz a sua própria
doença, sendo o homem o herdeiro
de si mesmo, de acordo com seus
sentimentos, seus pensamentos, sua
maneira de agir, de sentir, de
compreender a vida e que levaria
à sua doença. "Cure-se o
semelhante pelo semelhante",
como disse Hahnemann, e então ela
difere fundamentalmente da
medicina alopática. Mas hoje nós
consideramos que não deve haver
divisão na medicina. A
Homeopatia, como a alopatia, como
os outros métodos de caminhos
terapêuticos, visam todos ao
objetivo maior da Medicina, que é
um só. Essa divisão não deve,
portanto, existir. Mas existem
certamente aqueles que não
compreendem o que é a Homeopatia.
Ela difere da
alopatia porque não provoca
dependência em suas substâncias,
não provoca vícios. Ela pode
provar acentuação de alguns
sintomas em determinados
pacientes, por isso aconselhamos a
ninguém se autotratar. A
automedicação na homeopatia é
proibida muito mais que na
medicina convencional, porque o
medicamento homeopático produz
alterações energéticas que
modificam o curso de uma
sintomatologia e que podem deixar
bastante doente o paciente quando
mal orientado. A Homeopatia difere
também da medicina convencional
na relação médico-paciente.
Nós não podemos conversar com o
paciente em vinte minutos. Uma
conversa de uma hora a duas horas
nos dará uma primeira idéia de
quem é o paciente. A Homeopatia
busca a etiologia profunda dentro
da criatura doente. Nós
procuramos conhecer as
decepções, as tristezas, o
efeito da perda de seres amigos,
os desgostos de cada criatura, as
alegrias. A Homeopatia é,
portanto, uma medicina da alma. É
uma medicina que caracteriza não
somente o estado atual, porque o
temperamento é o somatório dos
valores das nossas vidas.
Portanto, não estamos nos
referindo somente à nossa
existência atual, estamos nos
referindo a todas as existências
anteriores somadas à nossa
existência atual. Então teremos
um somatório dos valores vividos
nas vidas passadas e que agora se
apresentam. Hahnemann não
descobriu somente o momento
próprio de nossas vidas, mas
também os nossos delírios, as
nossas alucinações, as nossas
ilusões.
A
causa da doença está em nós
mesmos,
não fora de nós
–
Qual a relação da Homeopatia com o
Espiritismo? A Homeopatia leva em
conta também o elemento espiritual
no diagnóstico e tratamento das
enfermidades?
Dr. Gamarra
– A Homeopatia colocada diante do
Espiritismo é a procura da verdade
de cada ser, de cada viver, de cada
doente, de cada vida. Então, nós
vamos conhecer as suas atitudes, os
seus delírios, os seus afetos e
desafetos, os seus desejos e
seleções alimentares. Mas não
estamos falando só desta vida,
estamos falando das vidas. Então,
para mim, a Homeopatia é também a
terapêutica fundamental das vidas
passadas. A Homeopatia apaga os
sintomas que estão nos
impressionando, nos perturbando, nos
massacrando, nos machucando, e esses
sintomas não são exatamente dor. A
ação do medicamento homeopático
tem uma correlação com o que no
Espiritismo chamamos de perispírito,
onde ela tem uma ação magnética.
O tratamento das enfermidades de
caráter espiritual é o campo
essencial da Homeopatia. Todas as
alterações comportamentais, todas
as alucinações, as ilusões, ou,
saindo da realidade do momento atual
para penetrar na realidade do
passado, onde a nossa mente, a nossa
vontade quer se localizar,
certamente por saudade, certamente
pelo efeito daquele momento que
ficou, podem ser retiradas pela
Homeopatia, trazendo-nos novas
realidades para que nos
compreendamos intimamente e possamos
iniciar a caminhada evolutiva no
sentido da depuração do nosso eu.
Ela é a medicina que caminha a
nosso lado até, seguramente, o
final dos tempos.
A relação da
Homeopatia com o Espiritismo é a da
verdade. A 18 de abril de 1857 foi
lançado "O Livro dos
Espíritos", mas Hahnemann já
havia morrido a 2 de julho de 1843.
Então, a relação é dada pelo
laço da verdade. A Homeopatia nos
ensina que no homem é o princípio
vital o responsável pela
manutenção da vida, no conceito
homeopático, e assim é o
responsável por toda a
sintomatologia. É exatamente no
princípio vital que se manifestam
as doenças crônicas, ou seja, o
dinamismo mórbido, porque o nosso
dinamismo mórbido é dependente de
uma relação e causa e efeito.
Quando a nossa vontade induz a
energia vital (princípio vital) a
realizar um ato que é contrário ao
que a lei determina, nós adoecemos.
A lei é de maturação, de
compreensão de Deus e da vida.
Enquanto a alopatia vê o indivíduo
do ponto de vista puramente
clínico, nós, além disso,
estudamos os sentimentos da alma,
interessados em que o homem se
melhore, evolua.
– Dr. Bernard
Grad, em suas conclusões acerca do
passe magnético e seus efeitos, diz
que a energia transmitida na
imposição de mãos "parece
estar intimamente associada a
mecanismos homeopáticos, ou seja,
parece agir de forma a manter o
organismo num nível ótimo de
funcionamento". Que pode você
dizer a respeito?
Dr. Gamarra
– A ação do medicamento
homeopático é uma ação física e
não química. Quando damos um
remédio homeopático, damos um
estímulo energético. É uma
mensagem que vai determinar uma
reação biológica. Nós podemos
comparar a ação do medicamento à
ação de uma música sobre o nosso
modo de ser. Determinadas músicas
nos elevam às alturas, nos
inebriam, levando-nos a um estado de
satisfação íntima de harmonia. O
passe é uma transfusão de energia,
uma renovação na condição
molecular, perispiritual e
orgânica. Nós podemos dizer que
há uma correlação muito grande
entre a Homeopatia e o passe. No
passe, por exemplo, o
condicionamento moral faz com que
nossas forças radiantes se
melhorem, podendo dar uma
contribuição para o companheiro
adoentado, no sentido de que ele se
cure mais rapidamente.
O medicamento
homeopático na sua dimensão
progressiva atinge o que Hahnemann
chamou de espiritualização da
matéria, ou seja, uma similitude
com os aspectos energéticos mais
profundos do ser humano. Apesar
dessa correlação, a energia
transmitida pela imposição das
mãos está intimamente relacionada
não com o mecanismo homeopático,
mas com o mecanismo biológico que
corresponde ao homem como ser
humano, como ser espiritual. Nós
não sabemos exatamente qual é o
limite tanto da ação do passe,
quanto do medicamento homeopático.
Somos limitados pela lei de causa e
efeito que rege nossas vidas.
– Como
conceituar a doença à luz da
Homeopatia e do Espiritismo?
Dr. Gamarra –
De certa forma, nós entendemos que
a doença está no bojo do
Espírito, está na escolha que ele
faz de sua vida, de como ele quer
ser, de como se comporta diante da
lei. A causa da enfermidade está em
nós, não fora de nós. Nós somos
herdeiros de nosso destino e de
nossa condição psicológica.
– No Brasil
volta-se a discutir a liberação do
aborto e a legalização da
eutanásia. Qual é sua posição a
respeito, do ponto de vista da
medicina e do Espiritismo?
Dr. Gamarra –
As pessoas que praticam o aborto o
praticarão sempre, de acordo com
sua vontade. Somente a educação
pode salvar, somente ela pode
ensinar a amar e a assumir o
compromisso do sexo. Todos desejam
praticar o ato sexual, mas muito
poucos são capazes de assumir o
compromisso que isso acarreta. O
problema não está tanto na
liberação do aborto, mas sim, no
homem, no que ele pode fazer com
essa liberação. Eu, como médico,
não o pratico nem o praticarei
nunca. Ninguém deveria optar pelo
aborto a menos que este fosse
terapêutico, ou seja, para salvar a
vida da mãe. Cada um é livre para
viver a sua consciência, mas nós
devemos apontar o mal, no sentido de
que outros não o pratiquem. Diz
Joanna de Ângelis que o mal é tão
infeliz em si mesmo, que não
convém apontá-lo. Não obstante,
eu digo que devemos apontá-lo no
sentido de educar, esclarecer,
ajudar, estimular.
Eu me oponho,
fundamentalmente, à legalização
da eutanásia, por uma razão muito
simples. Ao lado do mal, está
sempre o remédio. Quando não
conseguimos o remédio é porque
não compreendemos o paciente. O
grande objetivo da Homeopatia é que
o homem venha a desencarnar,
falecer, morrer em estado de saúde.
Nós não devemos praticar a
eutanásia, porque nesses instantes
difíceis, de dor e sofrimento,
estamos certamente liberando tudo
aquilo que nós carregamos dentro de
nós, das vidas passadas. É
essencial que citemos a necessidade
de respeitar a vida, de estimular a
vida, de fazer com que o homem torne
a viver a vida em simplicidade,
respeitando tudo o que ela nos deu.
Acreditamos
que a medicina seja
realmente um sacerdócio
– Qual é a
importância do conhecimento do
perispírito para os que se dedicam
à área médica no setor da
Homeopatia?
Dr. Gamarra
– O perispírito é conhecido na
Homeopatia como força vital ou
princípio vital, e é ali que se
situa a enfermidade. O que pensamos
se transmite através de nossa mente
para o perispírito. Portanto, nós
o alteramos molecularmente. E isso
provoca uma série de sensações,
que o medicamento homeopático, na
experiência no homem são, faz
conhecer a todos nós. Assim, o
médico homeopata, mesmo o que não
é espírita, conhece perfeitamente
os aspectos da força vital, os
sinais e sintomas que apresenta
quanto alterada, e reconhece a sua
evolução. Na Homeopatia existem
leis e uma delas é a lei da cura,
que foi expressada primeiramente por
Hahnemann e depois por outro médico
alemão que se radicou nos Estados
Unidos, chamado Hering. Ele
verificou como se manifesta a
energia no sentido da cura ou no
sentido de o paciente não
apresentar a cura que estamos
esperando.
– Como a
Homeopatia poderá auxiliar a
humanidade a ingressar numa era de
paz e harmonia?
Dr. Gamarra
– Creio que com o que expusemos
até agora ficou claro que a
Homeopatia se preocupa com a
humanidade, com o ser humano. Ela
faz o possível para tornar cada
homem melhor. Ela não é uma
medicina que se preocupa com o
diabetes, com a hipertensão, com a
bronquite. Ela se preocupa com o
homem portador da hipertensão, da
úlcera, da bronquite. É esse homem
que deve ser tratado, condicionado a
se tornar um homem pacífico,
esclarecido, que aproveite suas
potencialidades, que se torne melhor
como ser vivo. Dizia Hahnemann que o
médico homeopata que não tivesse
condição moral não curaria
ninguém. Hahnemann era deísta, ele
tudo pedia a Deus. Muitos médicos
homeopatas, obviamente, não
precisam ser deístas; não
obstante, ele, Deus, é o autor e a
causa de nossa vida.
Logicamente, essa
compreensão só se dá através do
tempo. Só acontece com a criação
de um jardim em nossa alma. Esse
jardim se caracteriza por uma flor,
a humildade. Enquanto a humildade
não surgir em nosso coração, nós
não teremos a noção de Deus
instalada em nossa alma, e, enquanto
isso não acontecer, não teremos a
condição para que as aspirações
superiores venham a participar de
nossa vida. Por esta razão,
freqüentemente esquecemo-nos de
Deus. Hahnemann, porque era deísta,
tudo agradecia a Deus. Desde o
início de sua carreira como médico
ele ouvia vozes que o orientavam em
sua procura, em sua investigação.
As vozes que o orientavam
perguntavam se ele estava procurando
uma terapêutica para a satisfação
de seu egoísmo, de sua vaidade, ou
para realmente amenizar o sofrimento
de seu irmão doente. Somente quando
Hahnemann se comprometeu realmente a
amenizar o sofrimento do seu irmão
doente é que as vozes lhe
permitiram conhecer o caminho que o
levaria à compreensão do que hoje
nós chamamos de Homeopatia.
– O avanço da
medicina foi notável nas últimas
décadas. Todavia, o povo mais
simples parece estar cada vez mais
distante dos recursos médicos em
vista de sua elitização. Como é
que a medicina voltará a ser
acessível às camadas mais pobres,
cumprindo sua missão de
sacerdócio, antes que profissão?
Dr. Gamarra
– É porque o amor não está em
nossas almas que a medicina não
atinge a todas as camadas da
população. Quando atingimos o
sucesso e a vaidade nos assola,
deixamos de cumprir a tarefa de
curar, de prescrever em favor dos
que sofrem, seja quem for e como
for.
Aquele que nos
oferta a possibilidade de tratá-lo,
esse é o nosso real benfeitor. Nós
apenas cumprimos a tarefa pela qual
viemos para cá. Nós não podemos
deixar de atender a quem quer que
seja, não porque o paciente
represente um ganho, mas porque ele
é uma alma habitando um corpo.
Estamos fracassando quando deixamos
de atender ao nosso irmão menos
feliz, aquele que muitas vezes não
pode ter o pão de todos os dias na
mesa. Estamos fracassando na missão
de transmitir amor.
O fato de dizer
que é o Governo que tem de resolver
esses problemas é simplesmente como
colocar uma laranja em outro cesto,
escapando de nossa responsabilidade
como seres humanos. Nós
compreendemos que, se nós comermos
bem hoje, ninguém que estiver a
nosso lado pode comer pior ou se
vestir pior do que nós, ou estar
trabalhando conosco e não receber
um bom salário. Eu acredito que a
medicina é realmente um
sacerdócio, inspirado na mais pura
expressão.
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