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A certeza da vida futura
não exclui as apreensões
do homem quanto à
desencarnação. Há muitos
que temem não propriamente
a vida futura, mas o
momento da morte. Será ele
doloroso? Tentando
elucidar essas questões,
Allan Kardec inquiriu
os Espíritos e
deles recebeu a
informação de que o
corpo quase
sempre sofre
mais durante a
vida do que
no
|
momento da morte e que os
sofrimentos que algumas
vezes se experimentam no
instante da morte são um
gozo para o Espírito. |
É
preciso, no entanto,
que consideremos que a
desencarnação não é
igual para todos, mas,
ao contrário, há uma
variação muito grande,
visto que
numerosas são
as formas de viver
adotadas pelos
encarnados. Vendo-se a
calma de alguns
moribundos e as
convulsões terríveis
de outros, pode-se
previamente julgar que
as sensações
experimentadas nem
sempre são as mesmas.
A
separação da alma é
feita de forma gradual,
pois o Espírito se
desprende pouco a pouco
dos laços que o prendem,
de forma que as
condições de encarnado
ou desencarnado, no
momento do desenlace, se
confundem e se tocam, sem
que haja uma linha
divisória entre as duas.
Alguns
fatores podem influir para
que o desprendimento
ocorra com maior ou menor
facilidade, fatores
relacionados com o estado
moral do homem quando
encarnado. A afinidade
entre o corpo e o
perispírito é
proporcional ao apego do
indivíduo à matéria,
que atinge seu ponto
máximo no homem cujas
preocupações dizem
respeito exclusivamente à
vida de gozos materiais.
Ao contrário disso, nas
almas puras – que
antecipadamente se
identificam com a vida
espiritual – o apego é
quase nulo.
O
desprendimento da alma
jamais
é brusco, mas gradual
Em se
tratando de morte natural
resultante da extinção
das forças vitais por
velhice ou enfermidade, o
desprendimento opera-se
gradualmente. Para o homem
cuja alma se desmaterializou
e cujos pensamentos se
destacam das coisas
terrenas, o desprendimento
quase se completa antes da
morte real, ou seja, tendo
o corpo ainda vida
orgânica, o Espírito já
começa a penetrar a vida
espiritual, apenas ligado
à matéria por elo tão
frágil que se rompe com a
última pancada do
coração.
No
homem materializado e
sensual, que mais viveu do
corpo que do espírito, e
para quem a vida
espiritual nada significa,
tudo contribui para
estreitar os laços
materiais; e quando a
morte se aproxima, o
desprendimento, embora
também se opere
gradualmente, demanda
contínuos esforços. As
convulsões da agonia são
indícios da luta do
Espírito, que às vezes
procura romper os elos
resistentes e outras vezes
se agarra ao corpo, do
qual uma força
irresistível o arrebata
com violência, molécula
por molécula.
O
desconhecimento da vida
espiritual faz com que o
Espírito se apegue à
vida material, estreitando
seus horizontes e
resistindo à morte com
todas as forças, com o
que consegue prolongar a
vida e, conseqüentemente,
sua agonia, por dias,
semanas ou meses. Em tais
casos, a morte não
implica o fim da agonia,
pois a perturbação
continua e ele, sentindo
que vive, sem saber
definir seu estado, sente
e se ressente da doença
que pôs fim aos seus
dias, permanecendo com
essa impressão
indefinidamente, uma vez
que continua ligado à
matéria por meio de
pontos de contato do
perispírito com o corpo.
Dá-se
o contrário com o homem
que se espiritualizou
durante a vida. Depois da
morte, nem uma só
reação o afeta. Seu
despertar na vida
espiritual é como quem
desperta de um sono
tranqüilo, lépido, para
iniciar uma nova fase de
sua vida.
No
suicídio, a separação
da alma
é bastante dolorosa
Nas
mortes violentas, como nos
acidentes, tendo em vista
que nenhuma desagregação
se iniciou antes da
separação do
perispírito, o
desprendimento só começa
depois da morte e seu
término não ocorre
rapidamente. O Espírito
fica aturdido, não
compreende seu estado,
permanecendo na ilusão de
que vive materialmente por
período mais ou menos
longo, conforme seu nível
de espiritualização.
Nos
casos de suicídio, a
separação da alma é
extremamente dolorosa.
Constituindo o suicídio
um atentado contra a vida,
o sofrimento quase sempre
permanece por período
igual ao tempo em que o
Espírito deveria estar
encarnado. Além disso, as
dores da lesão física
provocada repercutem no
Espírito. A
decomposição do corpo e
sua destruição pelos
vermes são sentidas pelo
Espírito desencarnado,
conquanto tal fato não
constitua regra geral. Há
ademais o remorso, gerando
sofrimento moral para
aquele que decidiu
desertar da vida.
O
espírita sério,
adverte-nos Kardec, não
se limita a crer, porque
compreende, e compreende,
porque raciocina. A vida
futura é para ele uma
realidade que se desenrola
incessantemente aos seus
olhos, uma realidade que
ele toca e vê a cada
passo, e de tal modo, que
a dúvida não pode ter
guarida em sua alma. A
existência corporal, tão
limitada, amesquinha-se
diante da vida espiritual.
Que lhe importam os
incidentes da jornada, se
compreende a causa e a
utilidade das vicissitudes
humanas quando suportadas
com resignação?
A alma
se eleva então em suas
relações com o mundo
visível; os laços
fluídicos que a ligam à
matéria enfraquecem-se,
operando por antecipação
um desprendimento parcial
que facilita a passagem
para a outra vida. A
perturbação conseqüente
à transição pouco
perdura, porque, uma vez
franqueado o passo, para
logo se reconhece, nada
estranhando, mas antes
compreendendo sua nova
situação.
A prece
é útil no desprendimento
da alma
O
desprendimento da alma,
uma vez morto o corpo
físico, começa pelas
extremidades e vai-se
completando na medida em
que forem desligados os
laços fluídicos que a
prendem ao veículo
carnal. |
No
livro Obreiros da Vida
Eterna, de André
Luiz, cap. XIII, o
instrutor Jerônimo
informa que há três
regiões orgânicas
fundamentais que demandam
extremo cuidado nos
serviços de liberação
da alma: o centro
vegetativo, ligado ao
ventre, como sede das
manifestações
fisiológicas; o centro
emocional, zona dos
sentimentos e desejos,
sediado no tórax, e o
centro mental, situado no
cérebro. Essa foi a ordem
em que ele atuou para
facilitar o desprendimento
de Dimas, descrito no
referido livro. |
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A prece
auxilia bastante o
desprendimento do
Espírito. Allan Kardec
relata no livro O Céu
e o Inferno o caso
Augusto Michel, ocorrido
em 1863, o qual pediu a um
médium fosse até o
cemitério orar no seu
túmulo. O Espírito de
Augusto Michel suplicou
tanto, que o médium
atendeu e no próprio
cemitério ouviu o
agradecimento de Michel,
que se disse aliviado da
constrição que antes o
fazia preso ao corpo. Ao
comentar o caso, Kardec
indaga se o costume quase
geral de orarmos ao pé
dos defuntos não proviria
da intuição inconsciente
que se tem desse efeito. |
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