A milhares de
quilômetros de sua terra
natal, a paranaense Elsa
Rossi fala do
Espiritismo como se
estivesse cantarolando
uma bela canção,
recheada de notas
escritas com muito amor
e carinho. Diretora do
Departamento de
Unificação para os
Países da Europa, da
Coordenadoria Europa do
Conselho Espírita
Internacional, Elsa, que
hoje vive em Londres
trabalhando na
divulgação da Doutrina
Espírita, conta à
revista O Consolador
um pouco de sua vida,
seu envolvimento com o
Espiritismo, além de
registrar aqui sua visão |
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com
relação a algumas obras e
assuntos relacionados à
Doutrina codificada por Allan Kardec. |
Por meio de palavras que
nos revelam uma história
de amor e dedicação,
Elsa reforça, a todo
momento, a importância
do Espiritismo em sua
vida. Como destacamos no
título da matéria, para
ela “a Doutrina Espírita
é um grande canteiro que
tem sementes sob toda a
terra que o jardineiro,
amoroso, faz o trabalho
de regar”. Ela acredita
que somos jardineiros do
Senhor Jesus, o grande
semeador de luz. “O
nosso exemplo de vida
cotidiano é que mostra
quanto espíritas somos,
o que fazemos para
diminuir as nossas
inclinações ou
tendências. A nossa
Doutrina de amor me dá o
sustento nas minhas
amizades”, salienta.
É com frases de carinho
e otimismo como essas
que Elsa Rossi nos
concedeu uma entrevista
exclusiva que marca o
início de uma série de
matérias que serão
produzidas também com
outros grandes nomes
envolvidos na divulgação
do Espiritismo.
O Consolador: Elsa, onde
você nasceu?
Elsa: Nasci
em Ribeirão do Pinhal,
no Paraná.
O Consolador: Em que
cidade reside e por que
se mudou para o atual
domicílio?
Elsa:
Moro em Londres,
Inglaterra (UK).
Mudei-me para a
Inglaterra para
trabalhar na divulgação
da Doutrina Espírita.
O Consolador: Qual a sua
formação?
Elsa:
Fiz o curso superior em
Belas Artes pela
Faculdade Belas Artes de
São Paulo, SP.
O Consolador: Que cargos
ou funções você já
exerceu no movimento
espírita?
Elsa:
Diretora do Departamento
de Assistência Social
Espírita da Federação
Espírita do Paraná;
presidente da Fundação
Hildebrando de Araújo da
Federação Espírita do
Paraná; vice-diretora da
Creche Josefina Rocha,
também da Federação
Espírita do Paraná.
O Consolador: Em que
setor do movimento
espírita você atualmente
trabalha?
Elsa:
Atuo na direção do
Departamento de
Unificação para os
Países da Europa da
Coordenadoria Europa do
Conselho Espírita
Internacional; Editora
dos dois Boletins do
Conselho Espírita
Internacional,
disponibilizados nos
sites:
www.spiritist.org
e
www.spiritismo.org.
Atualmente no movimento
espírita do Reino Unido,
sou secretária da
British Union of
Spiritist Societies (BUSS).
O Consolador: Quando
você teve o primeiro
contato com o
Espiritismo?
Elsa:
O primeiro contato se
deu aos 15 anos de
idade, mas não aceitei a
idéia. Depois, aos 24
anos, quando nasceu
minha terceira filha,
tive de aceitar a
mediunidade de vidência,
que explodiu, e eu não
entendia o que
acontecia, porque via e
ouvia os mortos. Só
então foi que aceitei ir
para uma casa espírita,
em Londrina e, com o
senhor Rubens Denizard
dos Santos, iniciei
juntamente com meu
esposo, Luis Rossi, já
desencarnado, o estudo
do livro “O Consolador”.
Desde então, nunca mais
parei de ir ao centro
espírita.
O Consolador: Qual foi a
reação de sua família
diante de sua adesão à
Doutrina Espírita?
Elsa:
Meu esposo já era
espírita, era eu que não
aceitava. Mas isso se
deu há 32 anos. A
reação, portanto, foi
ótima.
O Consolador: Dos três
aspectos do Espiritismo
– Científico, Filosófico
e Religioso – qual é o
que mais a atrai?
Elsa:
Os três. Não tenho uma
preferência exata e
definida, mas pelo
trabalho que fazemos
aqui podemos notar que
temos mais facilidade no
meio nativo do país pela
parte científica,
filosófica.
O Consolador: Que
autores espíritas mais
lhe agradam?
Elsa:
André Luiz, Emmanuel,
Joanna de Ângelis,
Yvonne do Amaral Pereira
etc. Nossa! são
tantos...
O Consolador: Que livros
espíritas você considera
de leitura indispensável
aos confrades neófitos?
Elsa:
“O Livro dos Espíritos”,
sem sombra de dúvida,
mais o “Nosso Lar”, “Há
2000 Anos”, “Renúncia”,
“Paulo e Estêvão”. E por
viver na Europa agora, a
trilogia de Yvonne do
Amaral Pereira: “O
Cavaleiro de Numiers”,
“O Drama da Bretanha” e
“Nas Voragens do
Pecado”, que são
indispensáveis. Eles
deveriam estar
disponíveis em vários
idiomas, assim como as
obras da coleção “No
Mundo Espiritual” de
André Luiz.
O Consolador: Se você
fosse passar alguns anos
num lugar remoto, com
acesso restrito às
atividades e trabalhos
espíritas, que livros
pertinentes à Doutrina
Espírita você levaria?
Elsa:
“Pão Nosso”, “Caminho,
Verdade e Vida”, “Fonte
Viva”, “Vinha de Luz”,
todos de Emmanuel, e as
obras da codificação.
O Consolador: As
divergências
doutrinárias em nosso
meio reduzem-se a poucos
assuntos. Um deles diz
respeito ao chamado
Espiritismo laico. Para
você, o Espiritismo é
uma religião?
Elsa:
No livro “O que é o
Espiritismo”, Allan
Kardec afirma no
preâmbulo: “O
Espiritismo é ao mesmo
tempo uma ciência de
observação e uma
doutrina filosófica.
Como ciência prática,
ele consiste nas
relações que se podem
estabelecer com os
Espíritos; como
filosofia, ele
compreende todas as
conseqüências morais que
decorrem dessas
relações”. “O
Espiritismo sendo
independente de toda
forma de culto, não
prescreve nenhum deles,
e não se ocupa de dogmas
particulares, não é uma
religião especial,
porque não tem nem seus
sacerdotes e nem seus
templos.” “Eis porque
sem ser, em si mesmo,
uma religião, ele leva
essencialmente às idéias
religiosas, as
desenvolve naqueles que
não as têm e as
fortifica naqueles em
que elas são
hesitantes.”
O Consolador: Outro tema
que suscita geralmente
debates acalorados, diz
respeito à obra
publicada na França por
J. B. Roustaing. Qual é
sua apreciação dessa
obra?
Elsa:
Desconheço a obra, não a
li.
O Consolador: O terceiro
assunto em que a prática
espírita às vezes
diverge está relacionado
com os chamados passes
padronizados, propostos
na obra de Edgard
Armond. Embora saibamos
que no Paraná a opção já
definida pela Federação
seja tão-somente a
imposição das mãos tal
como recomenda J.
Herculano Pires, qual é
sua opinião a respeito?
Elsa:
Concordo com o nosso
Paraná, que é o que
utilizamos aqui, pela
simplicidade e alcance
do trabalho.
O Consolador: Como você
vê a discussão em torno
do aborto? No seu modo
de ver as coisas, os
espíritas deveriam ser
mais ousados na defesa
da vida como tem feito a
Igreja?
Elsa:
Vejo, por meio da mídia,
que se faz algo no
Brasil e recentemente
soubemos do encontro
realizado em torno do
tema, com debates, onde
esteve presente a
doutora Marlene Nobre e
outros.
O Consolador: A
eutanásia, como sabemos,
é uma prática que não
tem o apoio da Doutrina
Espírita. Kardec e
outros autores, como
Joanna de Ângelis, já se
posicionaram sobre esse
tema. Surgiu, no
entanto, ultimamente a
idéia de ortotanásia,
defendida até mesmo por
médicos espíritas. Qual
a sua opinião a
respeito?
Elsa:
Veja bem, não sou da
área acadêmica e é um
risco falar sobre algo
que desconhecemos e de
que só ouvimos falar.
Mas penso, quando o
Espírito precisa partir,
é uma tristeza saber que
as máquinas prendem-no
no corpo, muitas vezes
sendo observado por
videntes esse
desconforto do Espírito.
Um corpo sem vida,
suportado por máquinas,
em doença terminal, cujo
repouso esta sendo
negado ao Espírito,
requer mais
consideração, estudos
aprofundados e muita
orientação pelo
benfeitores. Um dia o
meio laico entenderá
isso também.
“Na minha vida, a
Doutrina Espírita está
em
primeiro lugar.
Chegou-me de mansinho,
com o nascimento de
minha filha
Giovana, isso há 32
anos”
O Consolador: O
movimento espírita em
nosso país lhe agrada ou
falta algo nele que
favoreça uma melhor
divulgação da Doutrina?
Elsa:
Agrada-me muito o nosso
movimento espírita no
Brasil, mesmo porque é
nele que tenho vindo
buscar recursos
energéticos e muitos
aprendizados para poder
dar conta da tarefa que
nos cabe aqui fora.
Contudo, eu diria que
está existindo
desperdício de tempo de
alguns caros
companheiros que
ingenuamente entram em
polêmicas
desnecessárias. Costumo
utilizar a frase já tão
conhecida de todos: “O
movimento espírita será
o que dele fizermos, a
Doutrina Espírita... ela
é”! Portanto,
concentrando-nos com
sabedoria no Evangelho
de Jesus aplicando-o em
nossas vidas diárias,
seja onde for e a hora
que for, estaremos no
caminho sempre certo e,
com certeza, erraremos
menos. Nosso caminho de
cristãos é o Mestre, é
Jesus.
O Consolador: Como você
vê o nível da
criminalidade e da
violência que parece
aumentar em todo o mundo
e como nós, espíritas,
podemos cooperar para
que essa situação seja
revertida?
Elsa:
Começando pelo começo,
tendo paz interior para
poder refletir no que
fazer de melhor e como
agir em determinadas
situações. Se não
podemos mudar o mundo,
em um momento, usemos
nossos momentos para
modificar o que está
mais próximo de nós
através de exemplos.
Pelas nossas atitudes,
podemos conquistar os
adolescentes nas ruas, e
na rua mesmo com ele
conversar, levar uma
camiseta “massa”, um
boné “bacana”, depois
convidar para ir à
evangelização assistir a
uma peça de teatro
juvenil, depois
biscoito, etc. Agora, se
só criticarmos e não
fizemos absolutamente
nada, penso que nem
devemos reclamar de nada
mesmo.
O Consolador: A
preparação do advento do
mundo de regeneração em
nosso planeta já deu,
como sabemos, seus
primeiros passos. Daqui
a quantos anos você
acredita que a Terra
deixará de ser um mundo
de provas e expiações,
passando plenamente à
condição de um mundo de
regeneração, em que,
segundo Santo Agostinho,
a palavra “amor” estará
escrita em todas as
frontes e uma equidade
perfeita regulará as
relações sociais?
Elsa:
Penso que milênios ainda
temos para nos
libertarmos do mal que
ainda está enraizado na
humanidade, para que a
palavra amor seja a
norma de conduta de
todos...
O Consolador: Em face
dos problemas que a
sociedade terrena está
enfrentando, qual deve
ser a prioridade dos que
dirigem atualmente o
movimento espírita no
Brasil e no mundo?
Elsa:
A prioridade no Brasil é
diferente dos demais
países. Cada país tem a
sua história cultural,
passada de pai a filho.
As guerras religiosas
deixaram um rombo na
crença em Deus, e, por
isso, muitos têm ojeriza
de falar em religião.
Cada país, com sua
cultura própria, tem uma
realidade e uma
necessidade diferentes.
Com mais de nove anos
vivendo aqui no Reino
Unido, experienciando as
mais diversas situações
com amigos ingleses,
somente agora que
desperto para perceber
que é mais fácil um
inglês aceitar “O Livro
dos Espíritos” do que
“O Evangelho segundo o
Espiritismo”. Mas,
depois de um certo tempo
lendo “O Livro dos
Espíritos”, pela sua
coerência, ele aceita o
Evangelho do mesmo
autor, Allan Kardec.
Isso para começar.
Portanto, não dá para
trazer o Movimento
Espírita que se faz no
Brasil para colocar
dentro de outras
culturas, sem ter de
fazer um ajuste na
forma, de modo a criar
condições para que o
terreno se fertilize.
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