Lágrima, suave remédio
Quase todas as
religiões, senão todas,
tiveram seus princípios
imaginados por alguns de
seus líderes, e aceitos
pelos que os seguiram
depois. Alguém
precisava explicar
certas coisas, ou
responder a certas
perguntas, e punha a
trabalhar a imaginação.
Algumas idéias
aceitáveis provavelmente
vinham de cima pelos
canais normais da
intuição. Outras, não.
Eram puro exercício de
adivinhação.
A idéia do inferno, por
exemplo, que acompanha
certos crentes desde
tempos imemoriais, é uma
idéia interessante,
nascida do senso de
justiça presente na
consciência do ser
humano. Tal como a idéia
do céu.
Não tendo como entender
o funcionamento da
justiça divina, o homem
imaginou, com razão, que
o mal haveria de ser
punido, assim como o bem
teria que ser
recompensado. Vendo o
mal prosperar de tal
forma entre os homens,
ao lado do bem, quase
sempre espezinhado nos
trancos da vida, nada
mais justo que, depois
da morte, um fosse
punido, enquanto o outro
tivesse régia
recompensa.
Como a dor mais difícil
de suportar era, e
continua sendo. a dor da
queimadura, eis o
inferno. Como o bom da
vida é ficar à toa, de
papo pro ar, sem
compromisso com nada,
eis a idéia do céu.
Só que tais idéias
chocam com a razão e
fazem de Deus um juízo
muito desrespeitoso.
Como imaginar que um Pai
magnânimo e bom pudesse
admitir a hipótese de
ter filhos eternamente
apartados de seu carinho
e de seu afeto? Que
tipo de crime mereceria
punição tão desumana?
Claro que o mal há de
ser eliminado e o bem há
de ser enaltecido. Não,
porém, no caso do mal,
como punição, mas como
correção, como
aprendizado.
O Espiritismo veio nos
dizer que o mal é fruto
da ignorância. Não
existe por si mesmo. É
conseqüência de falta de
conhecimento, de
educação. É doença
séria que o
conhecimento há de
curar. E, como toda
doença séria, tem
tratamento doloroso,
difícil, demorado. A
cada existência vamos
nos curando um pouco.
Às vezes, o remédio é a
lágrima. Nada melhor
para nos lavar a alma e
o coração. E para nos
ensinar a viver.