Quando a violência
começa
A violência nunca se
excedeu tanto como
agora. Em nosso país,
ela se generaliza de uma
maneira cruel. São de
estarrecer as
ocorrências de lesões
corporais, de
latrocínios e de alguns
assassinatos, cometidos
com tamanha frieza por
jovens, que chegam a
traumatizar uma nação.
“Onde foi que eu
errei?”, perguntam-se os
pais de delinqüentes
pobres da periferia e os
dos que moram em
condomínio de luxo.
Antigo
estudo feito pela Universidade de Harvard,
Estados Unidos, revelou a principal causa da
violência. Os especialistas concluíram que
ela se inicia em lares onde haja pais cruéis
ou omissos ou irresponsáveis que descurem de
suas obrigações de educadores, que não
acompanhem o desenvolvimento da criança, do
adolescente, concedendo-lhes excessos de
liberdade, de egocentrismo e de poder capaz
de transformá-los em incendiários ou em
espancadores de pessoas de condição humilde,
e isso, infelizmente, já ocorreu em nosso
país.
Pais
usuários de drogas ou aqueles que permitem
tudo aos filhos de modo direto ou indireto
produzem adultos-problema. Filhos de pais
permissivos, dos que deixam fazer tudo o que
eles bem entendem, de casais que não se
harmonizam, ou de pais separados podem dar
desgostos à sociedade. Delinqüentes
infanto-juvenis têm se queixado da
indiferença de seus genitores ou da infância
abandonada, das agressões físicas, do abuso
sexual, fazendo essas vítimas fugirem de
casa para, não raro, se transformarem em
meninos ou meninas de rua sujeitos a sofrer
muito mais constrangimento físico e moral.
Por esta ou
por aquela razão, o fato é que está
acontecendo uma série de barbárie a envolver
jovens, adolescentes de todas as classes
sociais em grandes ou em pequenos centros
urbanos. Educadores, psicólogos, médicos
vêem nas bebidas alcoólicas e outras drogas
a mais grave das causas de toda essa
violência que grassa irrefreável. Críticos
de comportamento, especialistas em educação
e ensino acham que tudo se concentra na
falta de normas preventivas imprescindíveis
de algo que possa resultar em
responsabilidade e cidadania.
Não
cessam conceitos
— Conceitos não cessam sobre o que
ora deveria ter sido encarado face a face,
na prática, sem abstrações. Para quem opina
a respeito, se trata de um caso de nossa
realidade, aliás, tão complexa, que precisa
ser melhor entendido por se tratar de
gravíssimo problema social, haja vista a
quantidade de gente que deseja o seu fim, de
tantos clamores antiviolência em toda a
parte.
O ideal
seria o diálogo entre pais e filhos, sugerem
os analistas, sobretudo, relativo a
observações quanto a certos apelos da mídia.
Escrevi em uma outra matéria que a criança,
o adolescente passam a maior parte do tempo
diante de um aparelho de TV, em que alguns
programas lhe apresentam o que não deveriam
apresentar.
(1) Permissividade dos
costumes, modelos de virtudes que não passam
de soberba, falsa e perigosa noção de poder,
de liberdade corrompem mentes
infanto-juvenis em crescimento.
Há quem
tenha sugerido a melhora no sistema do
ensino, incluindo a idéia de
responsabilidade social nas escolas. Segundo
alguns, os educadores deveriam instruir
indivíduos a respeito de seus direitos civis
e políticos, mas também de seus deveres como
cidadãos. Sai governo, entra governo, e o
Estado não corresponde ao que tanto dele se
espera referente à devida recuperação dos
menores infratores.
A educação
deveria ser levada a efeito. Estimular
crianças e adolescentes a adquirir um juízo
crítico seria uma saída no que concerne a
excessos da sensualidade, ao culto ao corpo
perfeito, a anabolizantes, a transgressões
da Lei do Trânsito e à propaganda de
alcoólicos que impinge suas marcas e
mensagens com este objetivo: o negócio é
consumir cerveja para se ser livre, feliz e
bem sucedido com o sexo oposto. Em escolas,
por que não mais palestras, mais encontros
com especialistas que falem dos perigos das
drogas, alcoólicas ou não?, por que não
revisam as leis, o Estatuto da Criança e do
Adolescente?
Vigorosa
oficina
— Essas e as outras medidas poderiam
estimular o adolescente, o jovem a uma
convivência saudável dentro de um clima de
respeito mútuo, por sinal, pouco comum nas
famílias. Por outro lado, assim como
disseram que a criminalidade começa em casa,
nela pode-se dar início a uma vigorosa
oficina de grandes conquistas sob a égide do
amor no trato diário da assistência
fraterna.
Sem dúvida,
os cidadãos possuem todo o direito de exigir
leis mais rígidas sem prerrogativas
jurídicas em favor da impunidade. Contudo,
algo muito mais que isso, que transcende,
precisaria ser levado em conta: a parte
espiritual das criaturas. Recomenda-se, além
de outras medidas, diálogo, regras de
limite, o bom exemplo paterno, uma religião.
Não se pode dizer que religião não ajuda.
Mas religião e religiões são coisas
diferentes: estas não passam de institutos
humanos, falíveis como os homens; aquela se
trata de um profundo e sincero sentimento
nobre capaz de ligar a criatura ao
Criador...
“Educai as
crianças, e não será preciso punir os
homens”, disse Pitágoras. Em O
Livro dos Espíritos, destacamos um
trecho que dá o verdadeiro sentido de
educação:
... A
educação, convenientemente entendida,
constitui a chave do progresso moral. Quando
se conhecer a arte de manejar os caracteres,
como se conhece a de manejar as
inteligências, conseguir-se-á corrigi-los,
do mesmo modo que se aprumam plantas novas.
Essa arte, porém, exige muito tato, muita
experiência e profunda observação...
(2)
O criminoso
começa em casa, se você pensa que ser bom
para o seu filho é terceirizar o encargo de
educá-lo, de compensá-lo
com pertences materiais, deixando-o à vontade para fazer o que der na
veneta. Onde foi que eu errei...
Quanto a isso, a excelsa e inigualável
pedagogia espírita responde: “Ao deixar que
se desenvolvesse na criança os germes do
orgulho, do egoísmo e da tola vaidade”
(3)
sem a força moral, exemplar de que nenhum
pai e mãe jamais poderiam se eximir,
independente da classe pobre, média, média
alta ou rica.
Notas:
(1) Vide artigo publicado na Revista
Internacional de Espiritismo, abril de
07, pág. 140, Violência combina com mídia,
o que motivou a capa da edição desse
importante mensário.
(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos,
62. ed. São Paulo, Lake — Livraria Allan
Kardec Editora, 2001, capítulo 12, questão
917, p. 295.
(3) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo, 62. ed. São Paulo, Lake
— Livraria Allan Kardec Editora, 2001,
capítulo 5.o ,
item 4 e 5, p. 75.
O autor é jornalista, escritor, expositor
espírita, membro-fundador da UDEsp (União
dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado
de São Paulo) e
presidente-fundador da Fraternidade Espírita
Aurora da Paz (Feap), São Paulo, Capital.