RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio de Janeiro, RJ
(Brasil)
Reflexões sobre o
conceito de ressurreição
Segundo o
conhecimento atual, os processos de
decomposição dos corpos, no mais das vezes,
acabam por devolver à natureza os elementos
que os constituíam, na condição de matéria
inorgânica. Esta, por sua vez, por obra dos
mecanismos naturais, acaba sendo absorvida
pelas plantas e estas pelos animais,
inclusive pelo homem. Desse modo, a matéria
inorgânica que, em uma ocasião, havia sido
usada para fornecer um corpo a um
determinado ser vivo estará sendo, no
decurso de maior ou menor tempo,
reaproveitada pela mãe natureza, na formação
dos corpos de uma infinidade de outros
seres.
Para
aqueles que acreditam que ressuscitarão no
mesmo corpo físico que animaram, fazemos,
então, as perguntas: “Se todas as almas
dos homens, no dia do julgamento final,
recuperassem os seus corpos, qual delas
ficaria com aquelas partes constitutivas que
tivessem pertencido a uma infinidade delas e
a seres de outras espécies quando vivos?”
“Será que algum de nós, pelo menos um, teria
a sorte de nenhum elemento constitutivo de
seu corpo ter sido, em milhões e milhões de
anos, reutilizado em outros corpos?” A
lógica e o bom senso nos asseguram que não.
Para quem
ainda tem dúvida, recomendamos a leitura das
Questões 1010 e 1011 de O Livro dos
Espíritos.
Examinemos,
agora, as duas passagens bíblicas mais
conhecidas sobre ressurreição, quais sejam,
as alegadas ressurreições de Lázaro e de
Jesus, para vermos se elas se prestam a
provar que o Espírito pode voltar ao mesmo
corpo após o evento a que chamamos de morte.
Com relação à de Lázaro,
destacamos as
seguintes passagens no evangelho de João, no
capítulo 11, entre os versículos 1 e 44:
4 A essas palavras, disse-lhes Jesus: "Esta
enfermidade não causará morte, mas
tem por finalidade a glória de Deus. Por ela
será glorificado o Filho de Deus.”;
...............11 Depois dessas palavras,
ele acrescentou: "Lázaro, nosso amigo,
dorme, mas vou despertá-lo.” ........ 14
Então Jesus lhes declarou abertamente:
"Lázaro morreu”.
Chama atenção a aparente contradição entre o
versículo 14 e os anteriores. O que teria
levado Jesus a afirmar Lázaro morto, uma vez
chegado ao local, se antes ele tinha sido
incisivo ao afirmar que Lázaro tinha uma
enfermidade que não lhe causaria a morte?
Um ataque
cataléptico
pode durar de poucos minutos a alguns dias e
é um distúrbio que impede a pessoa de
se movimentar, apesar de continuarem
funcionando seus sentidos e funções vitais,
que ficam só desacelerados. Foi
provavelmente isso que Lázaro teve, mas a
humanidade teria de esperar mais 2.000 anos
para saber o que acontecia nesses momentos e
parar de enterrar os pobres doentes ainda
vivos.
Jesus, no primeiro momento, afirmou que
Lázaro apenas dormia, sendo, pois, evidente
que sabia que Lázaro não estava morto. No
entanto, que poderia ele dizer? Poderia o
Mestre adiantar de 2.000 anos um
conhecimento científico? Assim, apesar de
saber que a doença de Lázaro não o levaria à
morte, Jesus disse o que o povo podia
entender. Não disse que Lázaro estava tendo
um ataque cataléptico porque ninguém
entenderia absolutamente nada do que
estivesse dizendo.
Se caísse um raio na época sobre uma pessoa
e dissessem que a pessoa tinha sido
castigada por Deus, o que o amável leitor
teria dito se pudesse estar lá com o
conhecimento de hoje? “Não, não foi um
castigo de Deus, mas o fato de estar a
atmosfera altamente ionizada, o de a pessoa
estar usando um sapato de sola de couro, o
de não haver pontos altos na redondeza,
etc.”. Olhariam para o amigo e o
taxariam de louco. O melhor que um de nós
teria a fazer era concordar com eles e,
depois, com habilidade e paciência, ensinar
como eles deveriam proceder em ocasião de
temporal.
Como acabamos de ver, aquilo que é conhecido
como a ressurreição de Lázaro nada teve a
ver com ressurreição e sim com o retorno de
um estado cataléptico do qual o Mestre tinha
conhecimento que não podia compartilhar. E o
que dizer da alegada ressurreição do Mestre?
Dizem as escrituras que Maria de Magdala o
encontrou a sós. Há no relato de João sobre
esse primeiro encontro um fato importante
para entendermos como Jesus estava então.
Jo 20.11 Maria, porém, estava em pé, diante
do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava,
abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro,
12 e viu dois anjos vestidos de branco
sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à
cabeceira e outro aos pés. 13 E
perguntaram-lhe eles: Mulher, por que
choras? Respondeu-lhes: Porque tiraram o meu
Senhor, e não sei onde o puseram. 14 Ao
dizer isso, voltou-se para trás, e viu a
Jesus ali em pé, mas não sabia que era
Jesus. 15 Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por
que choras? A quem procuras? Ela, julgando
que fosse o jardineiro, respondeu-lhe:
Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o
puseste, e eu o levarei. 16 Disse-lhe Jesus:
Maria! Ela, virando-se, disse-lhe em
hebraico: Raboni! - que quer dizer, Mestre.
17 Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar,
porque ainda não subi ao Pai; mas vai a
meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu
Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
Por que
razão Jesus teria impedido Maria de o tocar?
Sabemos, dos estudos feitos com os grandes
médiuns de efeitos físicos, como Elizabeth
d´Espérance,
o mal que faz à saúde deles quando alguém
toca em uma forma materializada com uso do
ectoplasma de seu corpo. Não estaria no
relato de João uma indicação de que Maria de
Magdala estaria cedendo, sozinha, o
ectoplasma necessário para que ela visse o
perispírito de Jesus com seus olhos físicos,
a tal ponto lhe parecendo material que ela
quis tocá-lo? Nas aparições posteriores, por
outro lado, Jesus foi visto por grupos de
discípulos e não por um único. Assim, nos
outros encontros com os discípulos, eram
vários os médiuns cedendo o ectoplasma, o
que fazia com que nenhum deles corresse
risco maior de saúde se tocassem na forma
ectoplasmática que tornava visível o
perispírito de Jesus. É por isso que Jesus
pode dizer a Tomé que o tocasse. Uma
interpretação tão perfeita dos
acontecimentos somente o espiritismo oferece
ao passo que se apelarmos para o conceito de
ressurreição, a ordem de Jesus a Maria para
que não o tocasse fica sem explicação
lógica.
Examinadas
as duas passagens bíblicas que falam de
ressurreição, vejamos como Paulo, o Apóstolo
dos Gentios, dedica parte da sua Primeira
Epístola aos Coríntios a explicar como seria
a Ressurreição dos Mortos:
“35
Mas, dirá alguém, como ressuscitam os
mortos? E, com que corpo vêm? Insensato! O
que semeias não recobra vida, sem antes
morrer. 37 E, quando semeias, não
semeias o corpo da planta, que há de nascer,
mas o simples grão, como, por exemplo, de
trigo ou de alguma outra planta. 38
Deus, porém, lhe dá o corpo como lhe apraz,
e a cada uma das sementes o corpo da planta
que lhe é própria. ... 42 Assim
também é a ressurreição dos mortos. Semeado
na corrupção, o corpo ressuscita
incorruptível; 43 ... semeado
corpo animal, ressuscita corpo espiritual.
Se há um corpo animal, também há um
espiritual”
Se por um
lado, como vemos, Paulo é absolutamente
claro em seus ensinamentos, descartando com
veemência a hipótese de a ressurreição se
dar no mesmo corpo físico, por outro,
podemos ser levados a crer que o Apóstolo
sustenta a hipótese de haver uma única vida
para cada um de nós e que a de que a
ressurreição se dá uma única vez, no fim dos
tempos. Adiantemos um pouco a leitura da
Epístola citada para ver se é isso mesmo que
ele quis dizer.
51
Eis que vos revelo um mistério: nem todos
morreremos, mas todos seremos transformados,
52 num momento, num abrir e
fechar de olhos, ao som da última
trombeta... Os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados.
...”
Percebe-se,
pela última frase, que Paulo se incluía e
àqueles a quem se dirigia no rol dos que não
estariam mortos no dia em que a última
trombeta soasse, pois ele diz “nós
seremos transformados” (o grifo é
nosso). Das duas uma: ou Paulo esperava o
soar da última trombeta para enquanto ele e
aqueles para quem escrevia estivessem vivos,
o que nos parece de uma ingenuidade
incompatível com a sabedoria do apóstolo, ou
ele estava incluindo a si e aos seus
interlocutores, todos seguidores de Jesus,
entre aqueles que, já estando avançados no
caminho certo, não precisariam mais
despertar. No entanto, Paulo também afirma
que mesmo os mortos ressuscitariam no último
dia, em seu corpo incorruptível. O que
entendiam Paulo e seus conterrâneos, afinal,
como ressurreição dos mortos?
Não há
espaço neste artigo para citarmos as
diversas evidências bíblicas sobre a crença
na reencarnação entre os judeus. O leitor
interessado encontrará material abundante
sobre o assunto nos livros apresentados na
Bibliografia e ao longo de toda a
Codificação, em particular no Capítulo IV de
O Evangelho segundo O Espiritismo.
O que é
certo é que, uma vez aceita a Reencarnação,
os ensinamentos de Paulo ficam claros.
Somente atingiremos a perfeição, após termos
reencarnado tantas vezes quanto necessário
para aprendermos tudo o que requer o máximo
estágio evolutivo. E quando tal ocorrer, não
precisaremos mais encarnar em mundo algum. E
o que ocorrerá, então, com o nosso
perispírito?
LE Q.
94: De onde tira o Espírito o seu invólucro
semimaterial?
“Do
fluido universal de cada globo, razão por
que não é idêntico em todos os mundos.
Passando de um mundo a outro, o Espírito
muda de envoltório, como mudais de roupa.”
Sendo nosso
perispírito formado do fluido universal do
mundo onde precisamos encarnar, é evidente
que o Espírito que não mais precisa encarnar
em mundo algum possui um perispírito tênue,
sutil, despojado de fluidos grosseiros.
Será, então, o corpo espiritual,
incorruptível, de que fala Paulo.
E a boa
notícia é que todos chegaremos a esse
estágio, sendo isso o que o Apóstolo dos
Gentios afirma ao dizer que “todos
seremos transformados” (o grifo é
nosso). O que, mais uma vez, está em plena
concordância com aquilo que nos ensina a
Codificação.
Os
argumentos a favor da reencarnação são
fartos e bem documentados por autores de
várias crenças e das varias parte do mundo,
não cabendo neste artigo um longo argumento
a favor. No entanto, para finalizar, vamos
fazer uma breve analogia que nos parece
bastante esclarecedora.
Para termos
uma pálida idéia das leis divinas nada
melhor que analisarmos as instituições
humanas, apesar de sua
imperfeição. Como sabemos, nossas
escolas permitem que o aluno repita o ano
caso seu
aproveitamento
seja insuficiente. Mesmo sendo o aluno
reprovado na repetência, a escola não o
impede de matricular-se em outra
para repetir uma
terceira vez. Qualquer criança, mesmo que
tenha para
isso que
mudar freqüentemente de escola, pode
repetir
a mesma série tantas vezes quanto
necessário até
lograr passar
para
a seguinte. Até adultos, idosos
inclusive, podem voltar
aos bancos da escola
para aprender a
ler. Não é assim?
Se as instituições humanas, por mais
imperfeitas que sejam, toleram os erros e as
deficiências dos alunos e dão a eles
incontáveis oportunidades de repetir a mesma
série até serem aprovados, como aceitar a
absurda hipótese segundo a qual Deus dá
somente uma chance a cada ser humano para
acertar e ir para o céu ou errar e ir para o
inferno? Não, Deus também nos dá
intermináveis chances e nos descortina a
eternidade para que aprendamos a lição! É
isso que a razão e o bom senso nos fazem
concluir.
Bibliografia:
Aleixo,
Sérgio Fernandes. Reencarnação: Lei da
Bíblia, Lei do Evangelho, lei de Deus.
Rio de Janeiro:
Lachâtre,
1999.
d´Espérance,
Elizabeth. No País das Sombras. Rio de
Janeiro: FEB, ...
Kardec,
Allan. O Livro dos Espíritos. 76 Ed.
Rio de Janeiro: FEB,1995.
_____, ____. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. 112 Ed. Rio de Janeiro: FEB,1996.
Miranda,
Hermínio C. Reencarnação na Bíblia.
São Paulo: Pensamento, 1999.
Neto,
Paulo. A Bíblia à Moda da Casa. São
Paulo: Rede Visão, 2002.
Vanrell,
Prof. Dr. Jorge Paulete. Mecanismo da
Morte. Obtido em 02 de julho de 2004 de
http://www.pericias-forenses.com.br/mecamorte.htm