Nascido em família espírita,
Orson Peter Carrara (foto)
não poupa o uso de belas
palavras para falar sobre a
Doutrina Espírita. Morador do
interior paulista, na cidade
de Matão (SP), Orson é autor
de dois livros além de
numerosos artigos que retratam
sua cativante sintonia com os
conhecimentos espíritas. Em um
de seus artigos, onde o tema
abordado é o “Sesquicentenário
do Livro dos Espíritos”, ele
acentua a importância da obra
que deu início à Doutrina
Espírita, com a certeza de que
fala por muitos adeptos da
doutrina. Segundo ele, o livro
significa “um valoroso e
abençoado roteiro de vida
(...). Autêntica luz a nortear
os caminhos, propiciadora de
entusiasmo, alegria, gratidão,
estímulos e imensas
perspectivas que se tornam
reais e realizadores com o
amadurecimento natural que
vamos adquirindo”.
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Ainda criança, Orson vinculou-se
ao Centro Espírita “Francisco
Xavier dos Santos”, de Mineiros do
Tietê (SP), onde aprendeu os
fundamentos do Espiritismo. A
entidade, fundada em 1923, mantém
hoje, uma intensa programação para
estudo e divulgação da doutrina.
Ali, ocupou a presidência do
Centro por duas vezes, adquirindo
muita experiência e
entusiasmando-se ainda mais pelo
estudo e pela divulgação das obras
de Kardec.
Atualmente, além de escrever e
divulgar a Doutrina de Kardec num
site pessoal (www.orsonpcarrara.rg3.net),
tem publicado artigos em diversos
jornais e revistas do país, como
O Consolador, de que
participa como articulista desde o
número de estréia, à qual concedeu
a seguinte entrevista:
O Consolador: Em que cidade você nasceu?
Orson: Nasci em Mineiros do
Tietê (SP), aos 10 de março de
1960, numa família espírita.
O Consolador: Onde reside atualmente?
Orson: Em Matão (SP). Morei
na cidade natal até os 40 anos.
Casei-me em 1982 com Aparecida
Neuza Marana Carrara, de cuja
união nasceram os filhos Cíntia
(1985) e os gêmeos Cássio e
Alexandre (1988). Trabalhava no
Banco do Brasil, onde me sentia um
"peixe fora d´água". Mudei-me para
Matão no ano de 2000, para atuar
profissionalmente como Assessor de
Imprensa na Casa Editora O Clarim,
onde permaneci até março de 2006.
Mudei-me para Catanduva em abril
daquele ano para atuar
profissionalmente na CANDEIA
(conhecida distribuidora de livros
espíritas), mas retornei para
Matão em janeiro de 2007. No
momento atuo profissionalmente
como Assessor Editorial, à
distância, trabalhando em casa.
O Consolador: Qual a sua formação?
Orson: Minha formação é
superior incompleto. Não cheguei a
concluir a faculdade.
O Consolador: Que cargos e funções você já exerceu no movimento
espírita?
Orson: Por várias vezes,
cargos de gestão em instituição
espírita de Mineiros do Tietê e em
órgãos de unificação espírita na
região de Jaú (SP).
O Consolador: Que cargo exerce neste momento?
Orson: Há mais de vinte anos
atuo na imprensa, como
articulista, e como palestrante.
Também participo como coordenador
de reuniões de estudos numa
instituição espírita de Matão,
além de organizar jornadas com
palestrantes para diversas casas
da região central do Estado de São
Paulo.
O Consolador: Já que você nasceu em família espírita, houve algum fato
ou circunstância especial em sua
vida que tenha fortalecido seu
vínculo com o Espiritismo?
Orson: Não. Nasci em família
espírita e meu avô também era
espírita. Assim, desde a infância
estive vinculado ao Centro
Espírita Francisco Xavier dos
Santos, de Mineiros do Tietê, a
quem devo minha formação
doutrinária e entusiasmo com a
divulgação espírita.
O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico
e religioso – qual é o que mais o
atrai?
Orson: Os três exercem
grande fascínio sobre minha
aspiração intelecto-moral. Como as
três áreas estão entrelaçadas
entre si, estou sempre envolvido
em reflexões e pesquisas nas três
áreas. Considero a vida um
autêntico espetáculo de
oportunidades, perspectivas e
alegrias e isso me leva a sempre
pensar em ciência, em filosofia e
religião, quase que
simultaneamente.
O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?
Orson: Após a lucidez de
Kardec, coloco Léon Denis e Yvonne
A. Pereira entre os que mais me
atraem. São obras que estou sempre
buscando.
O Consolador: Dos livros espíritas que você já leu, quais você considera
de leitura indispensável aos
iniciantes?
Orson: Não há dúvidas que os
livros da Codificação Espírita, e
não só para ler, mas para estudar
e conhecer mesmo.
O Consolador: Se você fosse passar alguns anos num lugar remoto, com
acesso restrito às atividades e
trabalhos espíritas, que livros
pertinentes à Doutrina Espírita
você levaria?
Orson: Pergunta interessante
esta. A mim nunca a fizeram. Mas
eu levaria todos os livros de
Kardec e também os de Yvonne
Pereira. E levaria também os
extraordinários “Sob as areias do
tempo” e “O passado vive em nós”
(psicografados pela médium Grace
Khawali), pois estas duas obras
contêm material para reflexões
demoradas e constantes.
O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a
poucos assuntos. Um deles diz
respeito ao chamado Espiritismo
laico. Para você, o Espiritismo é
uma religião?
Orson: Sim, o Espiritismo é
religião, mas foge ao sentido
místico e ritualístico imposto
pelas religiões tradicionais. A
palavra religião ficou desgastada
pelo tempo e a Doutrina Espírita
vem resgatá-la com princípios
lógicos, científicos e
filosóficos, que lhe devolvem o
sentido de ligação com a
Divindade. O Espiritismo nos
ensina a viver, nos ensina a
pensar.
O Consolador: Outro tema que suscita geralmente debates acalorados, diz
respeito à obra publicada na
França por J. B. Roustaing. Qual é
sua apreciação dessa obra?
Orson: Não a li, nem me
interesso por ler. Devido à gama
de atividades e pesquisas
proporcionadas pelo estudo do
Espiritismo, inesgotáveis em
Kardec e seus desdobramentos,
adotei o critério pessoal de não
me ocupar com assuntos polêmicos e
sem consenso. Uma característica
marcante da revelação espírita é o
consenso universal e por isso,
quando não há consenso sobre um
assunto, não perco tempo com ele.
“Perdemo-nos ainda nos prejuízos da
dominação, da tentativa de
imposição
de idéias, na intolerância”
O Consolador: O terceiro assunto em que a prática espírita às vezes
diverge está relacionado com os
chamados passes padronizados,
propostos na obra de Edgard
Armond. Embora saibamos que no
Paraná a opção já definida pela
Federação seja tão-somente a
imposição das mãos tal como a
recomenda J. Herculano Pires, qual
é sua opinião a respeito?
Orson: Também penso e
defendo a idéia da imposição das
mãos para transmissão de passes.
Todavia, respeito posições
diferentes. Penso que a
preocupação com a padronização,
porém, descaracteriza a
simplicidade do passe.
O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? No seu modo
de ver as coisas, os espíritas
deveriam ser mais ousados na
defesa da vida, como tem feito a
Igreja?
Orson: Não se trata de
ousadia, mas de postura. Penso que
nós, os espíritas, estamos
trabalhando em favor da vida.
Nossa posição é clara, conhecida e
divulgada. Penso que isso já é
suficiente.
O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o
apoio da Doutrina Espírita. Kardec
e outros autores, como Joanna de
Angelis, já se posicionaram sobre
esse tema. Surgiu, no entanto,
ultimamente a idéia da
ortotanásia, defendida até mesmo
por médicos espíritas. Qual é sua
opinião a respeito?
Orson: Penso que o assunto
merece mais acuradas reflexões.
Considerando o bom senso que
caracteriza o pensamento espírita,
devemos maturar ainda mais a
questão, antes de defendermos
posições definitivas.
O Consolador: O movimento espírita em nosso país lhe agrada ou falta
algo nele que favoreça uma melhor
divulgação da Doutrina?
Orson: Penso que precisamos
pensar mais na “causa espírita”,
além da dedicação à “casa”, que
também é importante como núcleo
agregador. Não podemos desprezar a
causa coletiva que nos irmana. E
isso pede pensar em termos
coletivos, o que na prática
significa a promoção de constante
interação entre os diversos
núcleos, mas também a preocupação
com o repasse de informações que
nos são ou foram úteis e podem
beneficiar outros grupos. Isso é
solidariedade! Quando bloqueamos a
informação, estamos obstruindo os
canais da comunicação. Existem
trabalhos notáveis no Brasil e que
são desconhecidos. Quem os viu ou
os conhece não divulga. Isso é
lamentável. Temos o dever de
divulgar as iniciativas que
promovam o bem-estar e o
crescimento das criaturas.
O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que
parece aumentar em todo o país e
como nós, espíritas, podemos
cooperar para que essa situação
seja revertida?
Orson: A criminalidade e a
violência refletem o estado
interior das criaturas. Temos
notado em nossas andanças que há
muita solidão, muita carência
afetiva. O mais essencial agora,
além do conhecimento e da
divulgação teórica do Espiritismo,
é também sermos fraternos uns com
os outros, aproximarmo-nos das
pessoas, estendermos-lhes nossas
mãos e nossa atenção. Mesmo dentro
das instituições espíritas ainda
há muito distanciamento das
verdadeiras necessidades humanas.
Temos que pensar nisso. Noto que
muitos se entregam à violência
pela ausência de alguém que lhes
dê atenção, simplesmente...
O Consolador: A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso
planeta já deu, como sabemos, seus
primeiros passos. Daqui a quantos
anos você acredita que a Terra
deixará de ser um mundo de provas
e expiações, passando plenamente à
condição de um mundo de
regeneração, em que, segundo Santo
Agostinho, a palavra “amor” estará
escrita em todas as frontes e uma
equidade perfeita regulará as
relações sociais?
Orson: Não há como precisar
datas, pois isso depende de
atitude coletiva. Cremos, no
entanto, que já amadurecemos
bastante e vivemos a melhor época
da história, graças às
oportunidades que estão em nossas
mãos. Contagiarmo-nos uns aos
outros pelo entusiasmo, pelo bem,
pela atenção, pela fraternidade, é
o caminho que vai proporcionar
essa tão esperada conquista. Mas
isso é uma construção diária, de
cada um. Não será um passe de
mágica.
O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está
enfrentando, qual deve ser a
prioridade máxima dos que dirigem
atualmente o movimento espírita no
Brasil e no mundo?
Orson:
Falar ao coração. Conquistar pelo
sentimento. A cultura, a
divulgação teórica só alcançará
resultados práticos se abrirmos o
coração. Note o que fizeram os
grandes líderes que alteraram a
história. De que adianta a cultura
sem amor? De que valem títulos sem
fraternidade, prevalecendo o
egoísmo, a intolerância? Falar com
o coração, alcançar o sentimento
alheio, eis o segredo. Observe-se
que a violência é fruto, entre
outras causas, da indiferença
individual ou coletiva. O oposto,
ou seja, a atenção, trará os
resultados que desejamos.
Permita-me, para concluir, usar um
pensamento de D. Helder Câmara:
“Diante do colar – belo como um
sonho – admirei, sobretudo, o fio
que unia as pedras e se imolava
anônimo para que todos fossem
um...”.
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