F. ALTAMIR DA CUNHA
altamir.cunha@bol.com.br
Natal, Rio Grande do
Norte (Brasil)
O poder da gentileza
Talvez poucas pessoas
acreditem na importância
dos pequenos gestos de
gentileza. Para algumas,
até parece um grande
sacrifício desejar um
bom dia ou mesmo
externar um sorriso.
Partindo do princípio
que diz: ”Pensamentos e
atitudes geram
pensamentos e atitudes
idênticos”, podemos
afirmar que a gentileza
de hoje, mais cedo ou
mais tarde, retornará
para aquele que a
praticou. Como todo bem,
não devemos desistir de
praticá-la, só porque
não somos retribuídos. O
mais importante é a
oportunidade de sermos
gentis, e não a de
recebermos gentilezas;
além do mais, a vida
parece ser mais generosa
com os que persistem no
bem, ainda que não vejam
possibilidade de
retorno.
No livro “Pequenos
Milagres – Coincidências
extraordinárias do
dia-a-dia” (Yitta
Halberstam e Judith
Leventhal - Editora
Sextante), o autor narra
um caso acontecido na
década de 1930 na aldeia
polonesa de Prochnik. O
rabino Samuel Shapira
era uma pessoa amável e
costumava cumprimentar
todas as pessoas. Havia
um camponês chamado Herr
Mueller, para o qual ele
dirigia todos os dias,
quando estava a
caminhar, um cordial
”bom dia”, porém não era
correspondido. Mesmo
assim, o rabino
continuava gentilmente
cumprimentando-o: “Bom
dia, Herr Mueller!”
A insistência cordial,
após algum tempo, surtiu
efeito; pois o homem
passou a responder: “Bom
dia, Herr Rabiner!”. A
troca de gentileza durou
até que os nazistas
chegaram e o rabino, sua
família e outros judeus
do vilarejo foram
transferidos para um
campo de concentração. O
rabino Shapira foi
transferido até chegar a
Auschwitz. Quando
desembarcou do trem,
recebeu ordem de entrar
numa fila onde estava
ocorrendo a seleção.
Ele via ao longe o
comandante que apontava
com um bastão para a
direita e para a
esquerda. A esquerda
significava a morte, mas
a direita garantia uma
possível sobrevivência.
O rabino Shapira
aproximou-se do
comandante e disse em
voz baixa:
– Bom dia, Herr Mueller!
– Bom dia, Herr Rabiner!
– respondeu ele também
em voz muito baixa.
E então estendeu o
bastão para a frente.
“Recht, gritou ele, com
um movimento quase
imperceptível de cabeça:
Direita! Para... a
vida.”
Imaginemos agora se o
rabino, em lugar da
humildade que o moveu à
continuada gentileza,
assumisse uma atitude
orgulhosa e pensasse
como a grande maioria:
“Se não me responde,
também não mais o
cumprimentarei!”.
Certamente seria
encaminhado para a
esquerda; ou seja, para
a morte.