Jorge Luiz
Hessen:
"A Doutrina Espírita é ciência, filosofia
e religião. Se
tirarmos a
religião,
o que é que
fica?"
Manifestando
grande
conhecimento
da Doutrina
Espírita, o
estudioso e
colaborador
desta revista
Jorge Hessen
concedeu-nos
uma extensa e
lúcida
entrevista. Questões
como
religião, aborto,
eutanásia,
criminalidade
e conduta dos
espíritas
foram
abordadas por
ele, que,
originário do
Rio de
Janeiro,
reside há
muitos anos em
Brasília (DF).
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Sobre o
aborto, Hessen
afirma que os
governantes
precisam ter
consciência de
que aqueles
que são
expulsos do
grupo
familiar,
antes mesmo de
nascerem,
haverão de
retornar,
“porque eles
não podem ser
punidos pela
nossa
irresponsabilidade,
mas seremos
justiçados na
nossa
irreflexão,
através das
leis soberanas
da vida”.
Acompanhe na
íntegra a
entrevista.
O Consolador: Havendo nascido no Rio de Janeiro, por que escolheu
Brasília como
seu domicílio?
Jorge Hessen: Minha
transferência do
Rio de Janeiro
para Brasília
ocorreu em face
da necessidade
de implantação
dos serviços
técnicos
metrológicos no
Distrito
Federal, no
final dos anos
1960 e início
dos anos 1970.
Sou metrologista
a serviço no
antigo Instituto
Nacional de
Pesos e Medidas,
atualmente
INMETRO.
– Qual a sua formação acadêmica?
Hessen: Sou formado e
licenciado pelo
MEC em Estudos
Sociais UniCeub
(ênfase em
Geografia) e
graduado e
licenciado em
História pela
Universidade de
Brasília (UnB).
– Que cargos ou funções você já exerceu e exerce no movimento espírita?
Hessen: Além de escritor,
sou articulista
com publicações
no “Reformador”,
“O Médium”, “O
Espírita”,
“Revista
Internacional do
Espiritismo”, “O
Imortal”, entre
outros. Exerci a
função de
Secretário e
Diretor das
Federações
Espíritas do DF
e Mato Grosso.
Expositor
espírita e
membro da antiga
Abrajee,
colaboro com
dezenas de
Centros
Espíritas do
Estado de Goiás
e do DF, através
das exposições
doutrinárias que
faço.
– Quando você teve contato com o Espiritismo? Houve algum fato ou
circunstância
especial que
tenha propiciado
esse contato
inicial?
Hessen: Trilhei, no início
da década de
1970, pela
doutrina
reformista da
Igreja Batista
Filadélfia,
enquanto morava
em Goiânia. Na
época em que eu
morava com minha
mãe e irmãos,
aconteceu um
fato inédito
para mim, quando
um de meus
irmãos,
expressando-se
de forma adversa
à que costumava
agir, me chamou
a atenção, pois
eu estava diante
de uma
manifestação
mediúnica, que
jamais havia
presenciado
antes. Conheci
os postulados
kardecianos na
Comunhão
Espírita de
Brasília,
através da
leitura de “O
Evangelho
segundo
Espiritismo”, em
1973, e daí em
diante jamais
deixei de
estudar a
doutrina.
– Qual foi a reação de sua família ante sua adesão à Doutrina Espírita?
Hessen: À época, foi
positivo e
estimulador o
parecer de minha
mãe, embora ela
seja católica
praticamente até
hoje, aos 87
anos de idade,
mas bastante
acessível às
mensagens
espíritas.
– Dos três aspectos do Espiritismo - científico, filosófico e religioso
– qual é o que
mais o atrai?
Hessen: Escrevi um texto
sobre o esforço
de alguns
confrades
desavisados para
expulsar Jesus
das nossas
hostes. Por
inacreditável
que possa
parecer, ainda
encontramos
irmãos
“espíritas” que
questionam o
aspecto
religioso da
Terceira
Revelação. Negam
a excelsitude de
Jesus com febril
descontrole
emocional,
referindo-se ao
Mestre, como se
Ele fosse um
homem vulgar. Se
aceitamos os
preceitos da
Doutrina
Espírita, não
podemos
negar-lhes
fidelidade
absoluta.
Prevendo esses
estranhíssimos
movimentos em
nossas casas
espíritas, Chico
Xavier, há 21
anos, advertia
na Revista
Internacional do
Espiritismo: “As
falanges das
trevas são muito
poderosas,
organizadas. O
que elas desejam
é expulsar Jesus
do Espiritismo,
e se tirarem
Jesus do
Espiritismo,
este
desaparecerá.
Têm surgido,
ultimamente,
muitas práticas
estranhas no
movimento
kardeciano.
Estou alertando
vocês porque eu
tenho pouco
tempo de vida e
vocês devem
defender esse
tesouro”.
Posteriormente,
numa entrevista
concedida a
confrades de
Uberaba, Chico
reafirmou: “Se
tirarmos Jesus
do Espiritismo,
vira comédia. Se
tirarmos
Religião do
Espiritismo,
vira um negócio.
A Doutrina
Espírita é
ciência,
filosofia e
religião. Se
tirarmos a
religião, o que
é que fica?
Jesus está na
nossa vivência
diária,
porquanto, em
nossas
dificuldades e
provações, o
primeiro nome de
que nos
lembramos, capaz
de nos
proporcionar
alívio e
reconforto, é
Jesus” (1).
“Ciência
sem religião é
mito e religião
sem ciência é
superstição”,
eis outra
afirmativa de
Chico Xavier a
respeito do
assunto.
Os argumentos em
análise não
devem ser
tomados como
excluindo a
dimensão
científica do
Espiritismo.
Conforme deixou
claro, no
desdobramento de
suas pesquisas,
Kardec
compreendeu que
tal dimensão não
somente existia,
mas constituía a
base sobre a
qual a filosofia
espírita
repousa. Os
chamados “três
aspectos” da
Doutrina
encontram-se
inextricavelmente
ligados. Talvez
nem devêssemos
utilizar essa
expressão,
porque pode
induzir à idéia,
errônea, de que
estamos tratando
de três
elementos
separados ou
separáveis, que
agrupamos apenas
por
conveniência.
– Que autores espíritas mais lhe agradam?
Hessen: Sou emmanuelista
de carteirinha.
Adoro tudo que
Emmanuel
escreveu.
– Que livros espíritas que tenha lido você considera de leitura
indispensável
aos confrades
iniciantes?
Hessen: Cremos ser O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
a obra mais
indicada aos que
se iniciam na
doutrina, e, por
isto, sempre o
recomendamos.
– Se você fosse passar alguns anos num lugar remoto, com acesso restrito
às atividades e
trabalhos
espíritas, que
livros
pertinentes à
Doutrina
Espírita você
levaria?
Hessen: Com certeza, todos
os de Allan
Kardec. Não
abriria mão
disso. Depois,
como somatório,
as
consagradíssimas
obras de
Emmanuel, como
“A Caminho da
Luz”, “O
Consolador” e a
coleção “Nosso
Lar”, de André
Luiz. Nesse trio
de ouro, temos
um patrimônio
valiosíssimo
para o espírito,
capaz de nos
acompanhar por
várias
encarnações.
“De acordo com o Direito Penal brasileiro, a
eutanásia é
assassínio
comum”
– Um tema que suscita geralmente debates acalorados diz respeito à obra
publicada na
França por J. B.
Roustaing. Qual
é sua apreciação
dessa obra?
Hessen: Não somos nem
poderíamos ser
roustainguista,
pois não
conhecemos, na
íntegra, a obra
que Roustaing
compilou.
Destarte, o bom
senso nos
sussurra que não
devemos tecer
comentários
sobre quaisquer
assuntos sobre o
qual não
tenhamos amplo
domínio.
– Outro assunto em que a prática espírita às vezes diverge está
relacionado com
os chamados
passes
padronizados,
propostos na
obra de Edgard
Armond. Embora
saibamos que em
nosso País a
opção da maioria
seja pela
imposição das
mãos tal como
recomenda J.
Herculano Pires,
qual é sua
opinião a
respeito?
Hessen: Não recomendo
aplicação do
passe com
gesticulações
estranhas ao seu
objetivo. Uma
simples
imposição de
mãos é o
suficiente para
se obter o
resultado
almejado,
lembrando,
ainda, que um
médium, não
possuindo as
mãos ou os
braços, pode
perfeitamente
aplicar o passe,
pois os fluidos
são elaborados
pela prece e
projetados por
intermédio da
mente. O efeito
do passe não
resulta da
técnica adotada
na sua
aplicação, mas
sim do propósito
do médium
passista de
praticar a
caridade e
aliviar o
sofrimento do
paciente.
– Como você vê a discussão em torno do aborto? Os espíritas deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida
como tem feito a
Igreja?
Hessen: Certa vez escrevi
que não se pode
admitir que
pequena parcela
da população
brasileira,
constituída por
alguns
intelectuais,
políticos e
profissionais
dos meios de
comunicação,
venha a exercer
tamanha
influência na
legislação
brasileira em
oposição à
vontade e às
concepções da
maioria do povo,
contrariando a
própria Carta
Magna de 1988.
Creio que há uma
certa acomodação
dos espíritas.
Poderíamos agir
com mais rigor,
para incomodar
os abortistas de
plantão. Os
seres que são
eliminados pela
interrupção no
corpo voltarão à
família
delituosa, quase
sempre em um
corpo estranho,
gerado em um ato
de sexualidade
irresponsável.
Por uma
concepção de
natureza
inditosa,
volverão até os
delituosos, na
condição de
deserdados, não
raro como
delinqüentes. Se
muitos tribunais
do mundo não
condenam a
prática do
aborto, as Leis
Divinas, por seu
turno, atuam
inflexivelmente
sobre os que,
alucinadamente,
o provocam.
Fixam essas
leis, no
tribunal das
próprias
consciências
culpadas,
tenebrosos
processos de
resgate que
podem conduzir
ao câncer e à
loucura, agora
ou mais tarde. A
literatura
espírita é
pródiga em
exemplos sobre
as conseqüências
funestas do
aborto
delituoso, que
provoca na
mulher graves
desajustes
perispirituais,
a refletirem-se
no corpo físico,
na existência
atual ou futura,
na forma de
seriíssimas
doenças
cármicas.
É óbvio que não
estamos lançando
condenação
àqueles que
estão perdidos
no corredor
escuro do erro
já consumado,
até para que não
caiam na vala
profunda do
desalento.
Expressamos
idéias, cujo
escopo é
iluminá-los com
o farol do
esclarecimento,
para que
enxerguem mais
adiante, optando
por trabalhar em
prol dos
necessitados e,
sobretudo, numa
demonstração
inconteste de
amor ao próximo,
adotando filhos
rejeitados que,
atualmente,
amontoam-se nos
orfanatos. Para
quem já errou,
convém lembrar o
seguinte: errar
é aprender, mas,
ao invés de se
fixarem no
remorso,
precisam
aproveitar a
experiência,
como uma boa
oportunidade
para
discernimento
futuro.
– A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da
Doutrina
Espírita. Kardec
e outros
autores, como
Joanna de
Ângelis, já se
posicionaram
sobre esse tema.
Surgiu, no
entanto,
ultimamente a
idéia de
ortotanásia,
defendida até
mesmo por
médicos
espíritas. Qual
a sua opinião a
respeito?
Hessen: Muitos médicos
revelam que
eutanásia é
prática habitual
em UTIs do
Brasil, e que
apressar, sem
dor ou
sofrimento, a
morte de um
doente incurável
é ato freqüente
e, muitas vezes,
pouco discutido
nas UTIs dos
hospitais
brasileiros.
Apesar de a
Associação de
Medicina
Intensiva
Brasileira negar
que a eutanásia
seja freqüente
nas UTIs,
existem aqueles
que admitem
razões mais
práticas, como,
por exemplo, a
necessidade de
vaga na UTI,
para alguém com
chances de
sobrevivência,
ou a pressão, na
medicina
privada, para
diminuir custos.
Nos Conselhos
Regionais de
Medicina, a
tendência é de
aceitação da
eutanásia,
exceto em casos
esparsos de
desentendimentos
entre
familiares,
sobre a hora de
cessar os
tratamentos.
Médicos e
especialistas em
bioética
defendem, na
verdade, um tipo
específico de
eutanásia, a
ortotanásia, que
seria o ato de
retirar
equipamentos ou
medicações, de
que se servem
para prolongar a
vida de um
doente terminal.
Ao retirar esses
suportes de
vida, mantendo
apenas a
analgesia e
tranqüilizantes,
espera-se que a
natureza se
encarregue da
morte.
A eutanásia vem
suscitando
controvérsias
nos meios
jurídicos,
lembrando, no
entanto, que a
nossa
Constituição e o
Direito Penal
Brasileiro são
bem claros:
constitui
assassínio
comum. Nas
hostes médicas,
sob o ponto de
vista da ética
da medicina, a
vida é
considerada um
dom sagrado e,
portanto, é
vedada ao médico
a pretensão de
ser juiz da vida
ou da morte de
alguém. A
propósito, é
importante
deixar
consignado que a
Associação
Mundial de
Medicina, desde
1987, na
Declaração de
Madrid,
considera a
eutanásia como
sendo um
procedimento
eticamente
inadequado.
No aspecto moral
ou religioso,
sobretudo
espírita,
lembremos que
não são poucos
os casos de
pessoas
desenganadas
pela medicina,
oficial e
tradicional, que
procuram outras
alternativas e
logram curas
espetaculares,
seja através da
imposição das
mãos, da fé, do
magnetismo, da
homeopatia ou
mesmo em
decorrência de
mudanças
comportamentais.
Criaturas
outras, com
quadros clínicos
de doenças
incuráveis, uma
vez posto o
magnetismo em
atividade,
também conseguem
reverter as
perspectivas de
uma fatalidade,
com efetivas
melhoras,
propiciando
horizontes de
otimismo para
suas almas.
Não cabe ao
homem, em
circunstância
alguma, ou sob
qualquer
pretexto, o
direito de
escolher e
deliberar sobre
a vida ou a
morte de seu
próximo, e a
eutanásia ou
mesmo a
ortotanásia,
essa falsa
piedade,
atrapalha a
terapêutica
divina, nos
processos
redentores da
reabilitação.
Nós, espíritas,
sabemos que a
agonia
prolongada pode
ter finalidade
preciosa para a
alma e a
moléstia
incurável pode
ser, em verdade,
um bem. Nem
sempre
conhecemos as
reflexões que o
Espírito pode
fazer nas
convulsões da
dor física e os
tormentos que
lhe podem ser
poupados graças
a um relâmpago
de
arrependimento.
Dessa forma,
entendamos e
respeitemos a
dor, como
instrutora das
almas e, sem
vacilações ou
indagações
descabidas,
amparemos
quantos lhes
experimentam a
presença
constrangedora e
educativa,
lembrando sempre
que a nós
compete,
tão-somente, o
dever de servir,
porquanto a
Justiça, em
última
instância,
pertence a Deus,
que distribui
conosco o alívio
e a aflição, a
enfermidade, a
vida e a morte,
no momento
oportuno. O
verdadeiro
cristão
porta-se,
sempre, em favor
da manutenção da
vida e com
respeito aos
desígnios de
Deus, buscando
não só minorar
os sofrimentos
do próximo –
sem
eutanásias/ortotanásias,
claro! –
mas também
confiar na
justiça e na
bondade divina,
até porque nos
Estatutos de
Deus não há
espaço para
injustiças.
“Somos responsáveis pela situação em que
o mundo se
encontra”
– O movimento espírita em nosso país lhe agrada ou falta algo nele que
favoreça uma
melhor
divulgação da
Doutrina?
Hessen: Sinceramente? Quando
pensamos nos
milhares de
espíritas de
pouca cultura,
humildes e
materialmente
pobres, porém
verdadeiros
vanguardeiros da
Terceira
Revelação;
quando
imaginamos que o
edifício
doutrinário se
mantém firme em
face do amor
desses lídimos
baluartes do
Evangelho,
impossível não
nos
entristecermos
quando se
trombeteiam em
nossas hostes os
excesso de
consagração das
elites
culturais. Certa
vez escrevi que
a presença do
elitismo nas
atividades
doutrinárias
acaba por nos
expor à
dogmatização dos
conceitos
espíritas, na
forma de
Espiritismo para
pobres, para
ricos, para
intelectuais,
para incultos.
É necessário que
os dirigentes
espíritas,
principalmente
os ligados aos
órgãos
unificadores,
compreendam e
sintam que o
Espiritismo não
surgiu, apenas,
para os
espíritas, mas
para a
humanidade e com
ela dialogar. É
indispensável
que estudemos a
Doutrina
Espírita junto
com as massas,
que amemos a
todos nossos
irmãos, mas
sobretudo aos
espíritas mais
humildes, social
e
intelectualmente
falando, e deles
nos aproximarmos
com real
espírito de
compreensão e
fraternidade.
Portanto,
devemos primar
pela
simplicidade
doutrinária e
evitar tudo
aquilo que
lembre castas,
discriminações,
evidências
individuais,
privilégios
injustificáveis,
imunidades,
prioridades.
– Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece
aumentar em todo
o país, e como
nós, espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
Hessen: O índice de
criminalidade e
de violência, no
mundo todo,
cresce
assustadoramente,
não temos a
menor dúvida,
pois os canais
de informação de
que dispomos,
insistentemente,
veiculam os
fatos e as
causas de tais
barbáries. Esse
é um problema
muito complexo,
mas é uma
situação que
pode ser
revertida, não
apenas por nós,
espíritas, mas
por uma ação
conjunta, onde
todos aqueles
que se dizem
cristãos podem
colaborar para
uma sociedade
mais
igualitária,
mais justa.
Outro fato
crítico é que
assimilamos
subliminarmente
as tais
informações e,
no cotidiano,
reagimos
violentamente,
muitas vezes,
perante os
reveses da vida
ou perante as
contrariedades.
Condenamos a
violência
alheia, e no
nosso dia-a-dia,
ao invés de
agirmos de forma
pacífica e
fraterna, somos
como que
andróides,
reagindo sempre
de acordo com o
que motivou a
nossa reação.
Somos autômatos
sem nos
apercebermos.
Temos a nossa
parcela de
responsabilidade
perante a
sociedade,
porque diante da
indiferença ao
defrontarmos com
as crianças de
rua, rejeitarmos
até seus pedidos
com irritação,
fazemos de conta
que ali não está
um ser sem
esperança de um
futuro melhor,
ou outras
situações como
mães desprovidas
do essencial
para acolher
seus filhos,
muitas vezes
usando-os como
ferramentas para
ganhar uns
trocadinhos.
Diante das
péssimas
condições em que
a Educação
brasileira se
encontra, diante
da imensa
dificuldade de
lograr um
emprego, da
falta de
habitação, das
condições de
vivenciar a
cidadania,
observamos e
chegamos à
conclusão de que
todos somos
responsáveis por
este quadro
assustador.
Temos que ter
consciência de
que o governo
precisa fazer
aquilo que lhe
compete, mas a
transformação
desse caos exige
que cada um de
nós faça a sua
parte e envide
esforços com
fraternidade,
sinceridade, a
fim de termos
uma realidade
mais promissora
e feliz.
Há dois mil anos
Jesus de Nazaré
trouxe à
humanidade um
código de
conduta, que
daria ao homem a
felicidade. Essa
diretriz que
Jesus deixou na
Terra é a
garantia da paz,
da felicidade,
do bem-estar
social. Contudo,
o homem
perdeu-se no
meio das suas
lutas, do
egoísmo, do
orgulho, da
violência,
ignorou tal
diretriz e,
hoje,
confronta-se
consigo próprio,
numa mistura
explosiva de
intranqüilidade
interior e
gargalhadas
descontroladas.
Jamais o homem
conquistou
tantas coisas na
ciência como nos
dias atuais,
porém nunca
caminhou tão
vagarosamente em
busca de sua
espiritualização.
São as
contradições da
vida
contemporânea.
Esse homem
velho, que
carrega dentro
de si, ao longo
das várias
existências,
experiências
violentas, vê-se
hoje a braços
com uma
dualidade muito
intensa: os
hábitos
enraizados no
passado, nas
vidas
anteriores, onde
semeou essa
violência, e a
colheita, hoje,
na sua vida, já
que somos o
somatório das
nossas vidas
pretéritas.
O Espiritismo,
demonstrando a
imortalidade da
alma, através
dos fatos
mediúnicos,
aponta, também,
que existe uma
lógica para a
vida e que cada
um colhe, dela,
aquilo que
semeia ou semeou
outrora, dentro
da lei de ação e
reação, onde
cada ato,
positivo ou
negativo, irá
repercutir
invariavelmente
em nós,
trazendo-nos paz
ou tormento
interior. É
claro que quem
estuda o
Espiritismo e
pratica seus
preceitos vê-se
melhor
instrumentalizado
para a vida em
sociedade,
nestes tempos
atribulados,
encontrando
conceitos
lógicos e
racionais para o
entendimento da
vida, numa visão
evangélica da
mesma. Assim
sendo, os
postulados
espíritas são
antídotos para a
violência, visto
que quem o
conhece sabe que
não poderá
eximir-se de
suas
responsabilidades
sociais, ciente
de que seu
futuro será
decorrência do
presente. Aquele
que conhece o
Espiritismo
sabe, ainda
mais, que terá
de se modificar
moralmente, se
quiser ter mais
harmonia íntima.
O Espiritismo,
no seu aspecto
tríplice,
resgata as
verdades que
Jesus ensinou,
clareando o
raciocínio,
interpretando-as
com mais lógica
e atualidade
dentro dos
enfoques da
pluralidade das
existências,
que, cada vez
mais, vai sendo
uma realidade
nos centros de
pesquisas
desatrelados dos
dogmas
religiosos em
torno do estudo
da personalidade
humana.
Precisamos
cultivar a
compaixão, a
generosidade que
se conjuga no
ato de dar as
coisas, para
aportar na
atitude de
olvidarmo-nos
espontaneamente
em favor do
próximo.
Aprendamos a
orar e meditar,
porque quem não
tem o hábito de
introjetar o
pensamento, pela
meditação, não
se conhece a si
mesmo, e nesse
exercício
teremos
autoridade para
soltar as
estóicas vozes
inarticuladas
emitidas por
quem sente
alegria
espiritual, como
o fez Paulo: "Já
não sou quem
vive, mas o
Cristo vive em
mim...".
Torna-se
imprescindível
praticarmos o
Evangelho nos
vários setores
do campo social,
contribuindo com
a parcela de
mansidão para
pacificá-la, até
porque todos
desencarnaremos
um dia, mas a
forma de nos
comportarmos
dentro do limite
berço-túmulo é
da nossa livre
opção, e
haveremos de
alcançar a
iluminação
íntima com o ato
de desejar,
movidos pela fé
raciocinada,
consoante propõe
“O Consolador”.
“O
Século XX foi o
século mais
sangrento
de todos”
– A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já
deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Daqui a
quantos anos
você acredita
que a Terra
deixará de ser
um mundo de
provas e
expiações,
passando
plenamente à
condição de um
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra “amor”
estará escrita
em todas as
frontes e uma
equidade
perfeita
regulará as
relações
sociais?
Hessen: Não podemos
estabelecer
tempo
cronológico para
afirmar que a
Terra será um
planeta de
regeneração. A
evolução dos
mundos habitados
ocorre no mesmo
ritmo da dos
seres que
habitam em cada
um deles.
Na condição de
expiação e
provas, a Terra
viveu e vive
época de lutas
amargas. Desde
os primeiros
anos deste
século, a guerra
se aninhou com
caráter
permanente em
quase todas as
regiões do
planeta. A Liga
das Nações, o
Tratado de
Versalhes, bem
como todos os
pactos de
segurança da
paz, não têm
sido senão
fenômenos da
própria guerra,
que somente
terminarão com o
apogeu dessas
lutas
fratricidas, no
processo de
seleção final
das expressões
espirituais da
vida terrestre.
O Século XX,
recentemente
findo, foi, sem
dúvida, o século
mais sangrento
de todos. Após a
Segunda Guerra
Mundial, já
tivemos 160
conflitos
bélicos e 40
milhões de
mortos. Se
contabilizarmos
desde 1914,
estes números
sobem para 401
guerras e 187
milhões de
mortos,
aproximadamente.
Percebemos que
há um grande
número de
pessoas aderindo
às sugestões do
mal, por simples
ignorância.
Estas serão
renovadas no
desdobramento de
suas
experiências,
particularmente
com a magna dor,
em reencarnações
regeneradoras. O
problema maior
está com aqueles
em que o mal
predomina nas
entranhas de
seus corações, o
que constitui
uma minoria.
Estes, pela lei
da seleção
natural dos
valores morais,
serão expurgados
do nosso
convívio, assim
que houver
chegado a hora.
Temos a
impressão de que
os atos
violentos,
praticados por
mentes insanas,
banalizam-se no
curso do tempo,
mas, apesar de
essa violência
sufocar,
confundir,
assustar e
cercear o homem
na sua liberdade
de ir e vir,
nunca se viram,
em todos os
tempos, tantas
pessoas boas e
pacíficas
mobilizarem-se
em prol de
programas
assistenciais
aos irmãos menos
afortunados,
trabalhando
voluntariamente
por um mundo
melhor e mais
justo e com
total
desprendimento e
espírito
cristão.
A Terra está
entrando em uma
fase de
transição para
mundo de
regeneração,
obedecendo às
leis naturais de
evolução.
Mensagens da
espiritualidade
que nos vêm
sendo
transmitidas no
movimento
espírita, desde
o final do
Século XX, têm
confirmado tal
fato, e o homem
não há como
vetar os
decretos de
Deus. Percebe-se
que, atualmente,
tudo está se
transformando
muito
rapidamente,
trazendo mais
conforto e
melhor qualidade
de vida ao
habitante da
Terra. A dor
física está,
relativamente,
sob controle; a
longevidade
ampliada; a
automação da
vida material
está cada vez
maior, em face
da tecnologia
fascinante,
especialmente na
área da
comunicação e
informática.
Quando
poderíamos
imaginar, por
exemplo, há 50
anos, o
potencial da
Internet?
Neste Século
XXI, o planeta
passará por um
processo
acelerado de
transformação. É
com muito
otimismo que
percebemos, no
tecido social
contemporâneo, a
gestação de
vários
investimentos,
envolvendo
cientistas,
filósofos,
religiosos e
educadores que
se inclinam para
a formulação de
um mundo
renovado.
Busca-se um novo
conceito do
homem e um novo
ideal de
sociedade,
alicerçados em
paradigmas
revolucionários
da Nova Física.
Se atentarmos
apenas para a
Informática e
para a Medicina,
enquanto fatores
de progresso
humanos a
benefício de
toda a
Humanidade,
perceberemos que
Deus autorizou
os Espíritos
Protetores
fazerem aportar,
na Terra, os
admiráveis
avanços
científicos que
alcançamos. A
transição de uma
categoria de
mundo, para
outra, não se
processa sem
abalos, pois
toda mudança
gera conflitos.
Há um momento em
que o antigo e o
novo se
confrontam,
estabelecendo a
desordem e uma
aparência de
caos. A
vulgarização
universal do
Espiritismo dará
em resultado,
necessariamente,
uma elevação
sensível do
nível moral da
atualidade.
Fugindo-se da
paranóia de
datação do
advento do Mundo
de Regeneração,
se quisermos
atuar
verdadeiramente,
auxiliando o
surgimento de um
mundo melhor,
tratemos de
trabalhar
incansavelmente
pela divulgação
das idéias
espíritas,
corrigindo as
distorções
(facilmente
observadas) no
rumo do
movimento que
abraçamos, a fim
de que os
condicionamentos
adquiridos em
outros arraiais
religiosos não
venham a
contaminar nossa
ação, pela
também
intromissão de
atitudes
dogmáticas e
intolerantes.
Para habitarmos
um mundo
regenerado,
mister se faz
que o mereçamos.
Para tanto, urge
que pratiquemos
a caridade, não
restrita apenas
à esmola, mas
que abranja
todas as
relações com os
nossos
semelhantes.
Assim,
perceberemos que
a caridade é um
ato de relação
(doação total)
para com os
nossos
semelhantes.
Desta forma,
estaremos
atendendo ao
chamamento do
Cristo, quando
disse: "Amarás o
senhor teu Deus
de todo o
coração, de toda
a tua alma e de
todo o teu
espírito; este é
o maior e o
primeiro
mandamento. E
aqui tens o
segundo,
semelhante a
esse: Amarás ao
teu próximo como
a ti mesmo. -
Toda a lei e os
profetas se
acham contidos
nesses dois
mandamentos".
– Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual
deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
Brasil e no
mundo?
Hessen: Reenfatizamos o que
respondemos há
pouco. Cremos
que a presença
do elitismo nas
atividades
doutrinárias vai
expondo-nos à
dogmatização dos
conceitos
espíritas, na
forma de
Espiritismo para
pobres, para
ricos, para
intelectuais,
para incultos.
Isto é uma
tendência
mundial. É o que
temos observado.
Há uma
desenfreada
tendência à
elitização no
seio do
movimento
espírita. Ora, o
Espiritismo veio
para todos. É
indispensável
que o
divulguemos nas
massas mais
humildes, social
e
intelectualmente
falando, e delas
nos
aproximarmos.
Do jeito que a
coisa está
caminhando, em
pouco tempo
estaremos, em
nossas casas
espíritas,
apenas falando e
explicando o
Evangelho de
Cristo às
pessoas
laureadas por
títulos
acadêmicos ou
intelectuais.
Preocupam-nos
bastante os
eventos
grandiosos pagos
(à guisa de
colaboração
NUNCA
espontânea). Os
atuais
dirigentes
precisam
refletir melhor
sobre o
exacerbado
elitismo. Os
eventos
gratuitos devem
ser realizados,
obviamente, mas
urge considerar
que esses
simpósios sejam
estruturados
sobre
programação
aberta a todos e
de interesse da
doutrina, não
para ser uma
ribalta de
competição para
intelectuais com
titulação
acadêmica, como
um “passaporte”
para traduzirem
“melhor” os
conceitos
kardecianos.
Sinceramente,
não consigo
compreender o
Espiritismo sem
Jesus e sem
Kardec para
todos, com todos
e ao alcance de
todos, a fim de
que o projeto da
Terceira
Revelação
alcance os fins
a que se propõe.
(1) Texto disponível em:
www.espirito.org.br
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