A Federação Espírita
Brasileira publicou
e tem distribuído às
instituições
espíritas do País um
interessante
opúsculo intitulado
Respeitemos a
vida. Eutanásia,
não!. Trata-se
de um esforço no
sentido do
esclarecimento das
pessoas que defendem
a prática da
eutanásia mais por
desconhecimento das
leis divinas do que
por maldade. Como
alerta o documento
logo no prefácio,
tais pessoas
justificam seus
pontos de vista
“invocando piedade
frente aos atrozes
sofrimentos alheios
nos leitos de agonia e de
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padecimentos
físicos”. |
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A pergunta que se
faz então, em
momentos como esses:
Será permitido ao
homem destruir o que
não pode criar?
O livreto da FEB
contém, além do
prefácio, treze
diferentes textos, a
seguir enumerados:
-
Enfoque da
Codificação
Espírita
(O Livro dos
Espíritos,
questão 953)
-
Dever-se-á pôr
termo às provas
do próximo?
(O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
cap. V, item 27)
-
Será lícito
abreviar a vida
de um doente que
sofra sem
esperança de
cura?
(Idem, cap. V,
item 28)
-
Sobre a vida
(Reformador,
janeiro de 1994,
p. 4, artigo de
Juvanir Borges
de Souza)
-
Condenação à
eutanásia
(O Consolador,
pergunta 106, de
Emmanuel,
psicografado por
Francisco
Cândido Xavier)
-
Junto a um leito
de dor
(Sexo e Destino,
cap. 7, de André
Luiz,
psicografado por
Francisco
Cândido Xavier e
Waldo Vieira)
-
Sofrimento e
eutanásia
(Religião dos
Espíritos, pp.
59 e 60, de
Emmanuel,
psicografado por
Francisco
Cândido Xavier)
-
Expiação
(Reformador,
outubro de 1994,
p. 297, artigo
de Weimar Muniz
de Oliveira)
-
Ante moribundos
(Temas da Vida e
da Morte, pp. 73
a 76, de Manoel
Philomeno de
Miranda,
psicografado por
Divaldo Franco)
-
Eutanásia,
nunca!
(Reformador,
dezembro de
1990, mensagem
de Vianna de
Carvalho,
psicografada por
Divaldo Franco)
-
Espiritismo e
eutanásia
(O Pensamento de
Emmanuel, pp.
178 e 179, de
Martins Peralva)
-
Eutanásia
(Reformador,
outubro de 1994,
p. 297, artigo
de Weimar Muniz
de Oliveira)
-
Não matarás
(O Sermão da
Montanha, pp. 70
e 71, de Rodolfo
Calligaris).
O
caso Diane Pretty
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Todas as pessoas que
lerem os textos
acima não sairão da
leitura com dúvida
alguma a respeito do
tema, ou seja, que
não devemos
“abreviar a vida,
ainda que de um
minuto, porque esse
minuto pode evitar
maiores lágrimas no
futuro”, conforme a
orientação do
Espírito de São Luís
(O Evangelho
segundo o
Espiritismo, cap. V, item 28), confirmada
por |
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Emmanuel na
resposta dada à
pergunta 106 do
livro O
Consolador: “O
homem não tem o
direito de
praticar a
eutanásia, em
caso algum,
ainda que a
mesma seja a
demonstração
aparente de
medida
benfazeja”.
|
Permitimo-nos, no
entanto, tecer
outras considerações
a respeito do
assunto.
É preciso
inicialmente lembrar
que diversas
tentativas têm sido
feitas no mundo para
legalizar a
eutanásia, um tema
que vem produzindo
polêmicas desde
1903, quando o
Parlamento da
Alemanha vetou
proposta nesse
sentido. Dez anos
atrás, em 1997, o
Estado americano do
Oregon aprovou
iniciativa
semelhante, mas a
Suprema Corte dos
Estados Unidos
impediu que o
assunto prosperasse,
dada a sua flagrante
inconstitucionalidade.
Ao que se sabe, o
primeiro país a
legalizar a
eutanásia foi a
Holanda e seus
defensores, ao
elogiarem a medida,
justificaram-se
dizendo que a lei
holandesa era
importante e mesmo
muito boa porque,
segundo seus termos,
só alcança adultos
com doenças
incuráveis e que
estejam sofrendo de
forma insuportável.
Por que, então,
negar-lhes o desejo
de morrer, se é isso
que eles realmente
querem?
Na mesma ocasião em
que a Holanda
aprovava a
eutanásia, a Justiça
britânica teve de
manifestar-se diante
do caso Diane Pretty,
cuja história causou
comoção
especialmente na
Europa. Diane, aos
42 anos de idade,
sofria de uma doença
degenerativa desde
1999. Paralítica do
pescoço para baixo,
vivia em uma cadeira
de rodas, mal
conseguia falar e
era alimentada por
um tubo. Segundo o
marido, Brian, com
quem estava casada
havia 25 anos, a
mulher se encontrava
em estado terminal,
conquanto sua
capacidade mental,
de acordo com os
médicos, não
estivesse afetada.
Diane recorreu,
então, à Justiça
para ter o direito
de morrer com a
ajuda de Brian – uma
ajuda que atende
pelo nome de
eutanásia ativa –
mas teve o pedido
negado pela Alta
Corte da Inglaterra,
onde a eutanásia é
proibida. No
veredicto da Justiça
disseram os juízes
que os direitos
humanos correspondem
a “viver com
dignidade e não a
morrer com
dignidade”.
No campo da chamada
eutanásia passiva,
numa sentença que
ficará com certeza
assinalada na
história da
Inglaterra, a juíza
Elizabeth
Butler-Sloss,
atendendo à vontade
de uma mulher
tetraplégica,
determinou fosse
interrompido o
funcionamento da
máquina que a
mantinha viva. A
paciente, de 43
anos, havia ficado
paralisada do
pescoço para baixo
em conseqüência da
ruptura de um vaso
sangüíneo e não
conseguia respirar
sem ajuda de
aparelhos. Os
médicos que a
atendiam afirmaram
que a suspensão do
funcionamento dos
equipamentos de
manutenção feria de
forma frontal o
código de ética
médica; por isso,
manifestaram-se
contra o pedido.
Deborah Annetts,
diretora da
Sociedade de
Eutanásia,
considerou a
sentença como a
vitória do bom
senso, enquanto os
oponentes da chamada
morte piedosa viram
nessa decisão um
precedente perigoso.
A eutanásia não
passa de uma fuga
Os que apóiam
decisões como a da
juíza Butler-Sloss
entendem que ninguém
pode opor-se à
efetiva vontade do
paciente. Foi o que
a Corte britânica
fez. Como divulgado
pelos jornais, os
magistrados foram
até o leito
hospitalar para
ouvir a enferma
pedir: “Eu quero
poder morrer”.
Os adversários da
medida, em contraste
a esse pensamento,
opõem uma objeção
importante, que é a
possibilidade
concreta de que
problemas como o da
mulher tetraplégica
possam ser
resolvidos com os
avanços tecnológicos
que vêm enriquecendo
de forma crescente
os tratamentos
médicos.
Evidentemente, nada
se pode fazer quanto
a uma pessoa que
decide matar-se,
supondo-se que ela
possa atentar contra
a própria vida sem
auxílio externo. O
suicídio, diante das
leis humanas,
esgota-se no próprio
ato. Nenhum tribunal
pode punir o
suicida. Cousa
diferente se passa
quando se analisa o
assunto à luz da
justiça divina, fato
que escapa à
competência dos
juízes terrenos e
penetra a esfera das
concepções
religiosas.
De acordo com a lei
natural, o suicídio
não passa, numa
perspectiva
espírita, de um
equívoco que só
sofrimentos traz
àquele que o busca,
sem resolver
problema algum. A
eutanásia, que,
felizmente, não é
admitida pela
legislação
brasileira, é outro
equívoco que uma
pessoa equilibrada
jamais aconselhará a
um ente querido.
Ninguém –
ensinou-nos Jesus –
carrega um fardo
superior às próprias
forças. Interromper
a marcha de uma
prova ou de uma
expiação anula seus
efeitos e obriga o
indivíduo a
repeti-la. Como não
queremos tal cousa
para nós, é injusto
propô-la ou
permiti-la àqueles
que nos cercam.
Viemos à Terra num
corpo material para
progredirmos tanto
no aspecto
intelectual quanto
no aspecto moral.
Uma boa formação
educacional é tão
valiosa para o
crescimento humano
quanto viver no
interior de uma
selva assistindo os
nativos. Há os que
brilham nas
academias do mundo,
mas há os que
crescem no leito de
um hospital. A
eutanásia não passa
de uma fuga e, como
toda e qualquer
fuga, não pode ter o
beneplácito das
potências
espirituais que
guiam o planeta.
Ninguém premia o
desertor, mas é
costume humano
premiar o herói que
cai no front
sob as balas do
inimigo.
Morrer com dignidade
é, ao contrário do
que os materialistas
pensam, enfrentar
todas as agruras de
uma existência
difícil, com os
olhos postos no
futuro brilhante que
– ninguém duvide –
há de suceder aos
maus momentos da
nossa caminhada.