144. Que confiança se
pode depositar nas
descrições que os
Espíritos fazem dos
diferentes mundos?
Depende do grau de
adiantamento real dos
Espíritos que dão essas
descrições, pois devemos
compreender que
Espíritos vulgares são
tão capazes de nos
informar a esse respeito
quanto o é, entre nós,
um ignorante de
descrever todos os
países da Terra. Os bons
Espíritos se comprazem
em descrever-nos os
mundos que eles habitam,
como ensino tendente a
nos melhorar,
induzindo-nos a seguir o
caminho que nos pode
conduzir a esses mundos.
Para verificar a
exatidão dessas
descrições, o melhor
meio reside na
concordância que haja
entre elas. Deve-se ter
em vista, porém, que
semelhantes descrições
têm por fim o nosso
melhoramento moral e que
é, por conseguinte,
sobre o estado moral dos
habitantes dos outros
mundos que poderemos ser
mais bem informados, e
não sobre o estado
físico ou geológico de
tais esferas. (Item 296)
145. De que nos serve o
ensino dos Espíritos, se
ele não nos oferece mais
certeza do que o ensino
humano?
A resposta é fácil. Não
aceitamos com igual
confiança o ensino de
todos os homens e, entre
duas doutrinas
preferimos aquela cujo
autor nos parece mais
esclarecido, mais capaz,
mais judicioso, menos
acessível às paixões. Do
mesmo modo se deve
proceder com os
Espíritos. Se entre eles
há os que não estão
acima da Humanidade,
muitos há que a
ultrapassaram e estes
nos podem dar
ensinamentos que em vão
buscaríamos com os
homens mais instruídos.
Distinguir uns e outros,
eis a tarefa daqueles
que desejam
esclarecer-se, e o
Espiritismo fornece os
meios para isso.
Mas esses ensinamentos
têm um limite e, se aos
Espíritos não é dado
saber tudo, com mais
forte razão isso se
verifica relativamente
aos homens. Há coisas,
portanto, sobre que será
inútil interrogar os
Espíritos, seja porque
lhes é vedado
revelá-las, seja porque
eles próprios as ignoram
e a cujo respeito apenas
podem expender opiniões
pessoais. Por último,
deve-se compreender que,
mesmo nas comunicações
de Espíritos vulgares,
podemos colher
ensinamentos valiosos,
visto que tais Espíritos
nos mostram a aplicação
prática das grandes e
sublimes verdades cuja
teoria nos ensinam os
Espíritos superiores. O
estado feliz ou infeliz
do ser desencarnado,
suas condições na vida
espiritual, a
conservação de sua
individualidade, eis
situações que o
Espiritismo nos revelou
e que nos esclarecem
sobre o futuro que nos
aguarda a todos no
além-túmulo. (Item 300)
146. Como devemos tratar
o médium que é vítima de
fascinação?
A única coisa a fazer
com o médium é procurar
convencê-lo de que está
iludido e transformar
sua obsessão num caso de
"obsessão simples". Mas
isto não é sempre fácil,
se não for mesmo algumas
vezes impossível. O
predomínio do Espírito
pode ser tal que torna o
fascinado surdo a
qualquer espécie de
raciocínio e pode ir até
fazê-lo duvidar, quando
o Espírito comete uma
grossa heresia
científica, se não é a
ciência que está
enganada. Como já
dissemos, o fascinado
acolhe geralmente muito
mal os conselhos; a
crítica o ofende,
irrita-o e lhe caem em
antipatia aqueles que
não lhe partilham a
admiração. Suspeitar de
seu Espírito é quase uma
profanação a seus olhos
e é tudo o que quer o
Espírito. Como não há
pior cego do que aquele
que não quer ver, quando
reconhecemos a
inutilidade de toda
tentativa para abrir os
olhos do fascinado, o
que há de melhor a fazer
é deixá-lo com suas
ilusões. Não podemos
curar um doente que se
obstina em conservar sua
doença e nisso se
compraz. (Item 250)
147. Por que o passe
magnético deve ser usado
no tratamento dos
obsidiados?
O que falta às vezes no
obsidiado é uma força
fluídica suficiente;
neste caso a ação
magnética de um bom
magnetizador pode vir
utilmente em seu
auxílio, para lhe
permitir a energia
necessária para dominar
os maus Espíritos. (Item
251)
148. Na moralização dos
maus Espíritos, qual
pode ser a influência
dos homens?
O homem não tem
certamente mais poder do
que os Espíritos
superiores, mas sua
linguagem se identifica
melhor com a natureza
dos Espíritos
imperfeitos, sendo
certo, porém, que os
ascendentes que o homem
pode exercer sobre eles
estão na razão de sua
superioridade moral. Por
meio de sábios conselhos
o homem poderá levá-los
ao arrependimento e
apressar o seu
adiantamento. (Item 254,
parágrafo 5)
149. Qual é, depois da
obsessão, a maior
dificuldade do
Espiritismo prático?
É a questão da
identidade dos
Espíritos, visto que
estes não nos trazem um
cunho de identificação e
sabemos com qual
facilidade alguns dentre
eles tomam nomes
emprestados; assim,
depois da obsessão, é
esta uma das maiores
dificuldades da prática
espírita. Deve-se
entender, contudo, que
em muitos casos a
identidade absoluta é
uma questão secundária e
sem importância real.
(Item 255)
150. Quando a identidade
do Espírito se torna
mais fácil?
A identidade é muito
mais fácil de averiguar
quando se trata de
Espíritos
contemporâneos, dos
quais conhecemos o
caráter e os hábitos,
porque são precisamente
esses hábitos, dos quais
ainda não tiveram tempo
de se libertar, que
permitem seu
reconhecimento e
constituem mesmo um dos
sinais mais certos da
identidade. O Espírito
pode, sem dúvida,
fornecer provas quando
lhe pedimos, mas não o
faz sempre, a não ser
que lhe convenha, e
geralmente este pedido o
magoa; eis por que
devemos evitá-lo. Ao
deixar seu corpo, o
Espírito não perde a
susceptibilidade e,
assim, se ofende com
toda pergunta que tenha
por fim pô-lo à prova.
As provas de identidade
surgem, aliás, de uma
porção de circunstâncias
imprevistas que não se
apresentam sempre à
primeira vista, mas no
prosseguimento dos
trabalhos. É
conveniente, portanto,
esperá-las sem
provocá-las, observando
com cuidado todas as que
podem decorrer da
natureza das
comunicações. (Item 257)
151. É importante fazer
a distinção entre bons e
maus Espíritos?
Sim. Se a identidade
absoluta dos Espíritos
é, em muitos casos, uma
questão acessória e sem
importância, não
acontece o mesmo com a
distinção entre bons e
maus Espíritos. A
individualidade deles
nos pode ser
indiferente, mas não a
sua qualidade. Em todas
as comunicações
instrutivas, eis o ponto
para o qual deve
convergir toda a nossa
atenção, porque
unicamente esta
distinção é que nos pode
dar a medida da
confiança que podemos
atribuir ao Espírito que
se manifesta, qualquer
que seja o nome sob o
qual se apresente.
Julgamos os Espíritos
como julgamos os homens:
pela sua linguagem.
Suponhamos que um homem
receba vinte cartas de
pessoas desconhecidas.
Pelo estilo, pelos
pensamentos, por
inumeráveis sinais,
enfim, julgará as
pessoas que são
instruídas ou
ignorantes, polidas ou
mal-educadas,
superficiais, profundas,
frívolas, orgulhosas,
sérias, levianas,
sentimentais etc. Ocorre
o mesmo com os
Espíritos; devemos
considerá-los como
correspondentes que
jamais vimos e
perguntar-nos o que
pensaríamos da sabedoria
e do caráter de um homem
que dissesse ou
escrevesse tais coisas.
Podemos ter como regra
invariável e sem exceção
que a linguagem dos
Espíritos está sempre em
relação com o grau de
sua elevação. (Itens 262
e 263)
(Continua
no próximo número.)