Pergunta Mário César por
que o Espiritismo não
admite as penas eternas.
A resposta a essa
pergunta é por demais
simples. A tese da
eternidade das penas
reservadas àqueles que
infringem as leis do bem
e do amor, tanto quanto
a existência do inferno,
não resistem a uma
análise objetiva. O
raciocínio lógico
conduz-nos à seguinte
premissa: Se o Espírito
sofre em função do mal
que praticou, sua
infelicidade deve ser
proporcional à falta
cometida.
Cumpre considerar também
que a condenação
perpétua não se coaduna
com a idéia cristã da
sublimidade da justiça e
da misericórdia divinas.
Jesus deu testemunho da
bondade e do amor de
Deus, ao afirmar que o
Pai celeste não quer que
pereça um só de seus
filhos.
A razão leva-nos à
admissão de que Deus é,
como ensina o
Espiritismo, um ser
infinito em suas
perfeições, pois é
filosoficamente
impossível conceber o
Criador de outra
maneira, visto que, se
Ele não apresentasse
infinita perfeição,
poderíamos conceber
outro ser que lhe fosse
superior. Sendo,
portanto, infinitamente
sábio, justo e
misericordioso, não
podemos crer que tenha
criado pessoas para
serem eternamente
desgraçadas em virtude
de uma falta ou de um
erro passageiro,
derivado evidentemente
de sua própria
imperfeição.
A doutrina das penas
eternas consubstanciada
na teologia católica
surgiu das idéias
primitivas que
conceberam a existência
de um Deus irado e
vingativo, a quem o
homem atribuiu
características
puramente humanas. O
fogo eterno é uma figura
de que se utilizou para
materializar a idéia do
inferno, com vistas a
ressaltar a crueldade da
pena, no pressuposto de
que o fogo é o suplício
mais atroz e que produz
o tormento mais efetivo.
Essas idéias serviram,
em certo período da
história da Humanidade,
para controlar as
paixões de criaturas
ainda imperfeitas, mas
não servem ao homem da
atualidade, que nelas
não consegue vislumbrar
sentido lógico.
Jesus valeu-se das
figuras do inferno e do
fogo eterno para pôr-se
ao alcance da
compreensão dos homens
de sua época. As imagens
fortes que utilizou
eram, então, necessárias
para impressionar a
imaginação de indivíduos
que pouco entendiam das
coisas do Espírito e
cuja realidade estava
mais próxima da matéria
e dos fenômenos que lhes
impressionavam os
sentidos físicos. Mas
também foi ele quem
enfatizou a idéia de que
Deus é Pai
misericordioso e bom e
afirmou que, das ovelhas
que o Pai lhe confiou,
nenhuma se perderia.