EDUARDO BATISTA DE OLIVEIRA
ebatistadeoliveira@ig.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais
(Brasil)
O problema das mistificações
As
mistificações constituem-se num grave
problema para o Espiritismo, afetando-o
principalmente no tocante à sua
credibilidade. Por isso, a questão precisa
ser analisada e enfrentada com sinceridade.
Diria mesmo que este é um dever de todo
espírita. Não nos convém tapar o sol com a
peneira, pois é certo que há mistificações
em nosso meio. E como há!
No
presente artigo, pretendo trazer o tema para
o debate, na esperança de que nos tornemos
observadores mais atentos e críticos. É
isso, aliás, o que Kardec recomendou em O
Livro dos Médiuns: “se a intenção for
realmente boa, eles (os homens sensatos e
bem intencionados) farão a sua advertência
de maneira conveniente e benévola,
abertamente e não com subterfúgios”.
De início,
salientamos que não há mistificadores sem
mistificados. Trata-se, portanto, de uma via
de mão dupla. “A facilidade com que certas
pessoas aceitam tudo o que teria vindo do
mundo invisível ... é o que encoraja os
mistificadores”, disse Kardec. Por isso,
devemos tomar cuidado para não sermos nós os
encorajadores das mistificações. Como?
Recebendo todas as informações com reserva e
prudência. É o que nos aconselhou o
Codificador do Espiritismo. Dessa forma, não
nos enganarão tão facilmente.
Os
mistificadores podem ser Espíritos
desencarnados ou Espíritos encarnados (os
homens – médiuns ou não). É sobre os
homens-mistificadores que queremos tratar
neste artigo, porque os Espíritos
desencarnados mistificadores já foram muito
bem caracterizados por Kardec em O
Livro dos Médiuns (Capítulo XXVI –
Das Manifestações Espíritas), tornando-se
desnecessária, por ora, qualquer apreciação
adicional acerca deles.
Apressadamente, poderíamos supor que os
mistificadores (homens) são somente os que
recorrem a fraudes em busca de recompensas
financeiras. Há muitas mistificações que
visam ao dinheiro fácil, sim, mas essas,
logo, logo, acabam sendo desmascaradas. A
maioria das mistificações, no entanto, passa
despercebida, uma vez que não conseguimos
enxergar os interesses que escondem, ou
seja, a notoriedade, a distinção, o
status e, em especial, o poder (de
decisão).
Não
estamos nos referindo ao jogo político que
praticamos em nossos meios sociais, como
família e local de trabalho. Somos seres
políticos por natureza e fazemos política o
tempo todo – nem sempre de forma sadia. Mas
a questão aqui é outra. Estamos tratando de
embustes, de enganações, de buscar o poder
por meios escusos. Estamos tratando do uso
da mentira, do uso da respeitabilidade que
se dá a uma mensagem supostamente advinda do
plano espiritual. Estamos nos referindo a
regras de conduta ou de práticas impostas
por homens que fingem adotar orientações
ditadas por Espíritos superiores.
Antes de
qualquer avaliação, é preciso lembrar que o
Espiritismo é libertador, porquanto nos
propõe uma fé raciocinada, que nos liberta
da prisão do medo que outras crenças impõem:
medo, por exemplo, de punição, quando
supomos infringir uma “lei” que não passa de
uma regra criada por algum mistificador. Com
a fé raciocinada, não podemos aceitar ou
temer algo que não faça sentido para nós;
como obedecer a regras de conduta que tentam
nos impor sem maiores explicações?
Cumpre
admitir, por outro lado, que, ao alimentar a
vaidade, tornamo-nos muitas vezes
responsáveis por essa situação. Já meditaram
sobre a distinção que é feita em nosso meio
entre médiuns ostensivos e não ostensivos
(contrariando a Doutrina)?
Os
mistificadores utilizam-se de variados meios
para a realização de seus propósitos, alguns
dos quais poderíamos apresentar a título
ilustrativo; no entanto, preferimos deixar a
exemplificação para um próximo artigo. Até
lá, ficamos torcendo para que a leitura
deste texto possa suscitar análises,
críticas e debates.
Muita paz!