JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)
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Guris azulíneos...
Índigos sem misticismo |
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Nestas
linhas a seguir refletiremos sucintamente
sobre o tema "crianças índigos", agindo a
priori com o método proposto pelo
Espírito Erasto (1) , porque sem muito
esforço de investigação identificamos no
tema um certo ar místico que tem "oxigenado"
alguns defensores de conceitos bastante
discutíveis ante a prudência espírita.
Não é
novidade que crianças mais inteligentes e
espertinhas têm renascido atualmente em
nosso Orbe. O embaraçoso, porém, é o clima
de misticismo infiltrado nas notícias
em torno do tema. Em verdade, estudos e
pesquisas se multiplicam nos domínios da
psicologia quanto às complexidades do mundo
da criança. Cada uma delas é um campo de
tendências inatas, com tamanha riqueza de
material para a observação e, no território
de criações da mente infantil, ser-nos-á
fácil identificar a direção dos potenciais
da criança, uma vez que os pequeninos,
recém-vindos da amnésia natural que a
reencarnação lhes impõe, não conseguem
esconder as próprias disposições no campo
das tendências.
No livro
Momentos de Harmonia (2), o Espírito
Joanna de Ângelis refere-se a novas
gerações: "(...) dá-se neste momento a
renovação do planeta, graças à qualidade dos
espíritos que começam a habitá-lo,
enriquecidos de títulos de enobrecimento e
de interesse fraternal". (Não se refere
aqui a crianças "azuis".)
Apesar de
ouvir palestra do ínclito orador de Feira de
Santana que aborda o tema com muita
coerência, cremos que muitos confrades
ungidos de fantasias e ilusões estão
distorcendo as palavras do tribuno baiano.
Crêem tais confrades que os mágicos "guris
azulados" irão "salvar o mundo(!?...),
talvez confundindo guris com gurus!...
Na
condição de espíritas acreditamos que
estejamos no limiar de uma nova era, a qual
chamamos de regeneração. Para que ocorra
este processo é necessário que a evolução
dos Espíritos aqui encarnados aconteça e que
outros, mais preparados, reencarnem na
Terra. Nesta premissa se encaixam os
Espíritos que estão reencarnando e sendo
desnecessariamente identificados como
índigos.
Os que
escrevem sobre o tema entronizam o fato de
que em maio/99 Lee Carroll e Jan Tober,
ambos escritores norte-americanos e
palestrantes sobre auto-ajuda, publicaram o
livro "The Indigo Children" (As Crianças
Índigo), nele narrando suas observações
sobre as crianças que estão chegando ao
mundo. Porém na década de 80 Nancy Ann Tape,
parapsicóloga norte-americana, foi quem
primeiro cunhou a expressão "crianças
índigo" (3) com base na cor por ela
observada na aura de crianças que de alguma
forma se destacavam das demais.
Nancy
escreveu um livro narrando suas observações:
Understandig Your Life Through Color
- Entendendo sua vida através da cor.
A partir daí, tais crianças também passaram
a ser denominadas de "Crianças da Luz",
"Crianças do Milênio", "Crianças Estrela".
Tudo isso soa estranhíssimo como estudante
de Kardec. Embora considerando instigante o
tema "crianças índigo", não o concebemos nem
como comprovado ou comprovável, nem como
reprovado ou reprovável, muito embora o
método adotado para tais afirmações ser
bastante heterodoxo. Visualização de auras
nos trabalhos acadêmicos atuais é
problemático.
Nancy
seria uma espécie de câmera Kirlian, ou
seja, ela "veria" campos eletromagnéticos,
as cores e as freqüências. Destarte percebeu
que existia uma cor da aura associada com
alguns recém-nascidos. À época ela estava
trabalhando no seu doutorado. Para ela cerca
de 80% das crianças nascidas após a década
de 80 são índigos (!).
Crêem
alguns que uma criança de "aura azulada" é
aquela que apresenta um novo e incomum
conjunto de atributos psicológicos e mostra
um padrão de comportamento geralmente não
documentado ainda, pois não existe no Brasil
relatório conclusivo sobre o assunto e há
pouco estudo sobre tais crianças por aqui.
Não conhecemos nenhuma pesquisa que constate
essa incidência no País.
Afirma-se
que tais crianças têm um sentimento de
"desejar estar aqui", porém não se
autovalorizam (?), parecem anti-sociais,
sentindo-se bem com outras do mesmo tipo.
Por esta razão a escola é freqüentemente
difícil para elas do ponto de vista social.
Porque, segundo sustentam os "indigólogos",
o modelo de ensino é sempre imposto sem
muita interação, um modelo feito para o
hemisfério esquerdo do cérebro, o racional,
o lógico, incompatível com os azulíneos, que
naturalmente têm o hemisfério direito mais
desenvolvido, o que lhes dá o grande poder
intuitivo, a grande capacidade de percepção
extra-sensorial.
Crê-se que
existem quatro tipos diferentes de "guris
azulados" e cada um tem uma proposta: os
prováveis humanistas que poderão trabalhar
junto às massas humanas, os conceituais que
detêm um perfil mais técnico, os artistas
que serão dotados de criatividade e os
chamados interdimensionais que supostamente
trarão novas filosofias e espiritualidade
para o mundo.
A
identificação das crianças cor de anil
assinala seres dotados de bom potencial
intelectual, porém destituídos de maior
maturidade emotiva, visto que preferem a
solidão, traumatizam-se quando erram ou se
frustram quando suas idéias não são aceitas.
Guris com auras da cor do céu podem ser
criação do mercado de auto-ajuda
norte-americano que confunde espíritas e
professores mesclando sobrenatural e
educação! Em verdade, tais crianças pós-80
não passam de Espíritos endividados com a
missão de superar seu exaltado orgulho,
aproveitando as últimas chances neste
planeta para mudar de rumo.
Conforme
consigna Rita Foelker, "Não sabemos se ou
até que ponto as chamadas Crianças índigo
participam deste despertar para valores mais
elevados de vida. Agora, se essas Crianças
podem contribuir conosco? Claro. Se elas têm
algo a nos ensinar? Muito provavelmente. Mas
daí a dizer que são "filhos da luz" e
"crianças da Nova Era" vai uma boa
distância, criando expectativas que muito
possivelmente recairão sobre elas mesmas, no
presente ou no futuro". (4)
Cremos ser
fundamental que as áreas do saber permutem
informações que se completem para uma melhor
compreensão do Espírito encarnado e possam
cooperar, em conjunto, na sua evolução, mas
afastado do incontrolável pendor místico que
paira na Pátria do Evangelho.
A Terceira
Revelação não inventa a renovação social.
"A madureza da Humanidade é que fará dessa
renovação uma necessidade. Pelo seu poder
moralizador, por suas tendências
progressistas, pela amplitude de suas
vistas, pela generalidade das questões que
abrange o Espiritismo é mais apto do que
qualquer outra doutrina a secundar o
movimento e regeneração; por isso, é ele
contemporâneo desse movimento". (5)
Em face
disso, os centros espíritas precisam
proporcionar, prioritariamente,
esclarecimento. O Espiritismo por seu
aspecto religioso, filosófico e científico,
tem por premissa esclarecer através da fé
raciocinada, ou seja, através do bom-senso
kardeciano. Desta forma, consideramos de
subida relevância que os dirigentes e
colaboradores dos centros espíritas estejam
mais bem informados sobre o tema índigos, a
fim de que possam orientar os freqüentadores
e assistidos de forma coerente e objetiva,
cumprindo a inexpugnável integração proposta
pela Doutrina Espírita na sua base lógica.
Finalizamos por aqui nossas brevíssimas
argumentações com a singeleza das letras da
articulista Foelker: "Dizem, os que
apóiam a tese dos índigos, que eles vieram
para nos ajudar a evoluir. Então, eu encerro
perguntando: qual é a criança que NÃO nos
ajuda a evoluir?" (6) Eu também indago:
qual?
FONTES:
1. Do Espírito Erasto encontramos em O
Livro dos Médiuns, item 230 do cap. XX,
a célebre frase: "Melhor é repelir dez
verdades do que admitir uma única falsidade,
uma só teoria errônea".
2. Franco, Divaldo Pereira. Momentos de
Harmonia, ditado pelo Espírito Joanna de
Ângelis, Salvador: Editora Leal, 1991.
3. "Crianças índigos" é teoria que surgiu da
observação de auras azuis brilhante, isso
significando diferença (para "melhor") entre
os que a possuem e os que a têm de outra
cor.
4. Rita Foelker in Crianças índigo: uma
simples opinião, de 13/2/2006. Artigo
publicado no site da Fundação Espírita André
Luiz (www.feal.com.br)
http://www.feal.com.br/colunistas.
5. Kardec Allan. A Gênese. RJ: Ed.
FEB, 2004, Sinais dos Tempos - 4ª parte
(itens 21 a 26)
6. Foelker in Crianças índigo: uma
simples opinião, de 13/2/2006, acima
mencionado.