ROGÉRIO
COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas
Gerais (Brasil)
Neopentecostes
“Eu
derramarei do meu Espírito sobre toda a
carne”.
- Atos dos
Apóstolos, 2:17.
Ao
analisar as absurdas quão inverossímeis
citações extraídas da pastoral de Monsenhor
Gousset, cardeal-arcebispo de Reims, para a
quaresma de 1865, que pelo mérito pessoal e
pela posição do autor na hierarquia da
Igreja, se pode inferir que tais conceitos
eram a última expressão daquela vetusta
Instituição sobre a doutrina dos “demônios”,
mostra-nos Allan Kardec, de maneira clara e
insofismável, a materialização de um dos
ditos do Senhor:
“cego guiando cegos”.
Pincemos
apenas uma dessas “preciosidades” medievais:
“(...) Eles, [os demônios], inculcam o
erro sob todas as formas, e é para obter
esse resultado que a madeira, a pedra, as
florestas, as fontes, as mãos dos meninos se
tornam oráculos”.
Em sua
ingenuidade Monsenhor Gousset estava
profligando a mediunidade tão acoroçoada por
Jesus e pelos cristãos dos 3 primeiros
séculos, período em que o Cristianismo ainda
não estava sofrendo o achincalhe das
autoridades governamentais e eclesiásticas,
e se mantinha ainda tão pulcro e simples
como quando saíra da boca do Nazareno, na
forma de pérolas de luz para clarear a
sombra da ignorância que então reinava.
Mas com a
sua habitual percuciência, o ínclito Mestre
lionês pulveriza toda a fraca estrutura da
construção ideológica daquele pastor de
almas, começando por pinçar dos Atos dos
Apóstolos os versículos 17 e 18 do capítulo
II, nos quais se lê:
“(...)
Derramarei do meu Espírito sobre toda a
carne: - vossos filhos e filhas
profetizarão; os jovens terão visões e os
velhos terão sonhos. Nesses dias repartirei
meu Espírito por todos os meus servidores e
servidoras, e eles profetizarão”.
Se
Monsenhor Gousset estivesse com a razão,
qual seria o sentido destas palavras do
Evangelho?
Com seu
descortino balizado pelo bom senso, Kardec
aduz1: “(...) Não estará
nestas palavras do Evangelho a predição
tácita da mediunidade dos nossos dias a
todos concedida, mesmo às crianças? E essa
faculdade foi anatematizada pelos
apóstolos? Por que não ver antes o dedo de
Deus na realização daquelas palavras?”
Kardec
continua pelo capítulo X, da 1ª. parte do
livro “O Céu e o Inferno”, a explicar
a dinâmica e as condições requeridas para um
intercâmbio mediúnico sadio e proveitoso
tanto para encarnados quanto para
desencarnados, isento de mistificações.
Entre
outras recomendações, o Mestre lionês afirma
que o mais essencial de todas as
disposições para nos comunicarmos com os
Espíritos é o recolhimento coadjuvado pela
fé e o desejo do bem, pois dessa forma
nos tornamos mais aptos para estar em
contato com os Espíritos superiores e esses
nunca deixam de comparecer sempre que são
evocados para um fim útil, só se recusando a
responder quando tal condição não é
observada.
Finaliza
Kardec:
(...) As acusações formuladas pela
Igreja, contra as evocações, não atingem, o
Espiritismo, porém as práticas da magia, com
a qual este nada tem de comum. O Espiritismo
condena tanto quanto a Igreja as referidas
práticas, ao mesmo tempo em que não confere
aos Espíritos superiores um papel indigno
deles, nem algo pergunta ou pretende obter
sem a permissão de Deus.
Certo, pode haver quem abuse das
evocações, quem delas faça um jogo, quem
lhes desnature o caráter providencial em
proveito de interesses pessoais, ou ainda
quem por ignorância, leviandade, orgulho ou
ambição se afaste dos verdadeiros princípios
da Doutrina; o verdadeiro Espiritismo, o
Espiritismo sério os condena porém, tanto
quanto a verdadeira religião condena os
crentes hipócritas e os fanáticos. Portanto,
não é lógico nem razoável imputar ao
Espiritismo abusos que ele é o primeiro a
condenar, e os erros daqueles que o não
compreendem. Antes de formular qualquer
acusação, convém saber se é justa. Assim,
diremos: A censura da Igreja recai nos
charlatães, nos especuladores, nos
praticantes de magia e sortilégio, e com
razão. Quando a crítica religiosa ou
céptica, dissecando abusos, profliga o
charlatanismo, não faz mais que realçar a
pureza da sã doutrina, auxiliando-a no
expurgo de maus elementos e facilitando-nos
a tarefa. O erro da crítica está no
confundir o bom e o mau, o que muitas vezes
sucede pela má-fé de alguns e pela
ignorância do maior número. Mas a distinção
que uma tal crítica não faz, outros a
fazem. Finalmente, a censura aplicada ao
mal e à qual todo espírita sincero e reto se
associa, essa nem prejudica nem afeta a
Doutrina”.
Podemos
também considerar como uma feliz variável do
Neopentecostes o esforço concentrado feito
por várias editoras de livros Espíritas,
incluindo-se aí a Federação Espírita
Brasileira, no sentido de traduzir as Obras
Básicas do Espiritismo e muitas outras
subsidiárias para diversos idiomas de forma
que o maior número de criaturas possa ter
acesso aos alcandorados e alforriadores
conhecimentos espiritistas que, na verdade,
são os ensinamentos redivivos do próprio
Cristo.
Trata-se,
sem dúvida de um esforço hercúleo e nobre,
tendo em vista que existem no mundo
aproximadamente 6000 idiomas, (uma
verdadeira torre de Babel). Mas, desses
6000 idiomas restará até o ano de 2100
apenas a metade, segundo estudos dos
especialistas. Isso é paradoxalmente bom e
ruim. Ruim porque um idioma que se extingue
leva consigo todo um contexto da civilização
a ele vinculado, mas, por outro lado, é bom
no sentido de facilitar o intercâmbio
lingüístico minimizando as diversidades hoje
existentes e facilitando o encaminhamento do
rebanho terrestre na direção de “um só
Pastor”, conforme as Escrituras
Neotestamentárias. E é evidente que o
Esperanto terá aí o seu papel importante
nessa equalização lingüística, ou seja:
nesse novo e necessário Pentecostes.