JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília,
Distrito Federal
(Brasil)
O bem público e
a ética na
administração
Com
os
escândalos divulgados
pela mídia,
constata-se
um
entrelaçamento
crescente e
preocupante
entre
a administração
pública e as
atividades
criminosas
|
A bela capital da
República não merece ser palco dos
muitos escândalos que se sucedem
na administração pública |
|
Vivemos tempos
complexos e
tormentosos. Há
violências de
várias nuanças
em toda parte do
Orbe. “A
violência urbana
é reflexo
natural dos que
administram
gabinetes
luxuosos e
desviam os
valores que
pertencem ao
povo; que
elaboram Leis
injustas, que
apenas os
favorecem; que
esmagam os menos
afortunados,
utilizando-se de
medidas
especiais, de
exceção, que os
anulam; que
exigem submissão
das massas, para
que consigam o
que lhes
pertence de
direito...
produzindo o
lixo moral e os
desconsertos
psicológicos,
psíquicos,
espirituais”.
(1)
|
Em nosso País, o
cenário político
e social é
frustrante.
Entre denúncias
de corrupção,
omissões e de
venalidade,
sobra diminuta
fé nos homens
investidos de
funções no
serviço
público.
Fala-se muito em
políticas
públicas, porém,
o que mais tem
prejudicado a
aplicação dessas
políticas é o
nível de
descrédito a que
chegou o Estado
com suas
“instituições”.
A sociedade
política é vista
com suspeita,
quando não com
hostilidade pela
sociedade em
geral.
No Brasil, a
Proclamação da
República,
engendrada de
cima para baixo,
não teve como
conseqüência a
incorporação dos
valores
republicanos
legítimos da
transparência e
da honestidade.
A impunidade
ensombra a
Justiça e
instiga novos
desmandos. A
massa, em geral,
se espelha nos
personagens
eminentes da
vida pública e
procura, nas
ressonâncias no
comportamento
destes, as
próprias
justificativas
para seus
deslizes
deliberados.
O jargão
“jeitinho
brasileiro”, ou
levar vantagem a
despeito de tudo
e de todos,
irrompe-se como
um escopo
cristalizado,
que se
potencializa e
se generaliza na
tessitura do
tecido social. A
concepção do
êxito ou sucesso
pessoal, como
resultado de um
labor continuado
e sistemático,
torna-se pouco
atraente. A
entronização do
"jeitinho" dos
que resistem ao
bom senso e à
ética não mais
significa
espírito
criativo, na
essência, mas
artimanhas dos
espertalhões e
ausência de
caráter dos
gazeteiros das
aulas de
honestidade.
Muitos se
interrogam no
imo da
consciência:
Haverá futuro
promissor para
uma sociedade
assim
estruturada?
Reflitamos nas
notícias da
História, que
nos fornecem
inúmeros
exemplos de
civilizações que
se corromperam
sob o império da
defecção moral.
Em Roma, no
momento
histórico do
Império, os
costumes e os
valores se
degeneraram.
Alguns
pensadores e
filósofos
mostraram-se
angustiados nos
seus textos com
o estado de
coisas daquelas
épocas recuadas
de então. Muitos
juristas
deixaram
registros
escritos que
denotavam suas
preocupações com
a corrupção que
invadia a vida
pública romana.
Alguns outros,
porém, se
preocupavam em
propagar as
medidas
populistas,
freqüentemente
adotadas pelos
governantes
inebriados pelo
poder da força,
e não pela força
do poder.
Muitas
deliberações dos
governantes
atendiam a
caprichos da
massa,
narcotizando
suas mentes com
os nacos de pães
e espetáculos
circenses, sem
educá-la ou
destiná-la ao
trabalho
produtivo.
Existe uma
similitude entre
a conjuntura do
cenário
brasileiro atual
e a sociedade
romana de dois
mil anos atrás
A rigor, quem
trabalhava era,
coercitivamente,
apenado com
densos tributos,
a fim de que
“pujantes
benefícios”
fossem
concedidos pelo
Estado.
Consubstanciavam-se,
naqueles idos
tempos, a
retórica e a
prática do
assistencialismo,
às sombras dos
impostos
arbitrariamente
cobrados.
Entretanto, o
que mais
indignava os
sóbrios
pensadores da
Era áurea de
Roma era a
corrupção e a
troca de
favores,
envolvendo o
dinheiro
público.
O bom senso
sussurra-nos na
acústica da
consciência que
cabe ao Estado
assegurar
direitos
formalmente
garantidos nas
bases
constitucionais
da sociedade
politicamente
organizada.
Entretanto, não
apenas isso, mas
espera-se,
também, que o
Estado mantenha
os serviços de
interesse
coletivo em
funcionamento
normal. Sabemos
que há juristas,
cientistas
políticos,
sociólogos,
economistas,
pesquisadores e
estudiosos de
outras áreas do
conhecimento,
inclusive,
dedicando tempo
precioso e
esforços
contínuos para
entenderem e
melhorarem o
funcionamento do
aparato estatal,
com vistas ao
bom andamento
dos interesses
coletivos.
Mas......!!!
Não precisamos
fazer um esforço
sobre-humano
para percebermos
a similitude
entre a
conjuntura do
cenário
brasileiro atual
e a sociedade
romana de dois
mil anos atrás.
Ainda respiramos
os mesmos ares
enfadonhos do
regime do
compadrio. O
dinheiro público
(que deveria ser
destinado ao
povo) é rateado
entre alguns,
como se fosse
propriedade
particular.
A humanidade
evoluiu,
suficientemente,
sob os aspectos
filosófico-intelectual
e
científico-social,
nestes dois
milênios, mas as
práticas estão
enregeladas no
tempo. Todos nós
estamos à mercê
das atitudes
inconscientes
ante os desafios
da vida
hodierna.
Alguns avanços
permanecem
tíbios, no que
tange à
moralidade. Em
conseqüência, o
País e o próprio
Mundo seguem
conturbados e
carentes de
maior harmonia
coletiva.
Com os
escândalos divulgados
pela mídia,
constata-se um
entrelaçamento
crescente e
preocupante
entre a
administração
pública e as
atividades
criminosas,
mediante um
sistêmico
processo de
pressões,
chantagens,
tráfico de
influência,
intimidações e
corrupções, com
o uso do suborno
e da propina,
dentre outras
falcatruas
morais
inimagináveis.
Na verdade,
todos nós
sofremos em
razão da falta
de Ética. Uma
das possíveis
conceituações de
Ética nos é dada
pelo Dicionário
Aurélio: “Estudo
dos juízos de
apreciação
referentes à
conduta humana,
do ponto de
vista do bem e
do mal.”
Urge salientar,
porém, que Ética
e moral não são
a mesma coisa,
segundo o
pensamento de
muitos autores.
A moral seria a
soma dos
hábitos,
tradições, leis
e costumes que
sustentam uma
sociedade.
Portanto, seria
de caráter
coletivo. A
Ética presume
escolha
voluntária de
valores aos
quais cada um se
submete por
vontade própria.
O erário não
existe para ser
apropriado por
alguns
mutilados do
caráter, mas
para atender
às necessidades
da coletividade
O fenômeno do
mundo
globalizado
trouxe em sua
esteira o
receituário
ideológico,
estabelecendo
parâmetros de
conduta baseados
na ética do
mercado, isto é,
baseados na
competição e no
exacerbado
individualismo.
Nesse carreiro,
a inadimplência
faz com que os
muitos preços de
produtos e
serviços sejam
maiores do que
deveriam ser. Os
porcentuais
desviados do
dinheiro público
dificultam a
construção de
creches, escolas
e hospitais,
entre outras
obras públicas,
uma vez que a
desorganização
política e a
corrupção
constituem
conseqüências e
fatores causais
de
desorganização
social.
Se quisermos
viver num mundo
melhor, devemos
nos empenhar em
promover uma
reforma ética
generalizada.
Toda mudança
começa por cada
um de nós. Para
que a sociedade
melhore, cada
qual deve se
esforçar por se
aprimorar. É
imperativa a
adoção de novos
hábitos. Chega
de procurar
levar vantagem,
de fugir dos
próprios
deveres. Vamos,
definitivamente,
dar um basta às
mentiras, às
fraudes e às
sonegações
fiscais.
Urge sacralizar
o bem público,
pois todos nós
somos
responsáveis por
ele.
O erário não
existe para ser
apropriado por
alguns mutilados
do caráter, mas
para atender às
necessidades
intransferíveis
da coletividade.
Destarte, mister
se faz a
intransigente
fiscalização de
sua utilização,
como cumprimento
de um dever
intransferível.
Quando formarmos
uma sociedade
consciente de
seus deveres,
apenas isso já
nos garantirá
desfrutarmos de
um grande
bem-estar
social.
Que se
restabeleçam os
valores da Ética
Cristã e que se
revitalize o
mundo da
honestidade. A
que ora
presenciamos,
por estar
fundada em
valores (sem
valor),
necessita de um
ethos
compatível para
se manter: o
cinismo, o
sadismo e as
mentiras
consentidas.
Se pretendemos
impugnar a
centralidade da
ética no
humano,
e, com isso,
fundarmos um
horizonte de
abertura à
arbitrariedade,
à
irresponsabilidade
ou mesmo, num
exercício
abusivo dessa
irracionalidade,
à desumanização
e a barbárie,
cumpre-nos
afirmar a
primazia da
ética na
Administração
Pública, por ser
a instância
fundante do
valor dos
valores da
Administração: o
interesse
público.
Na condição de
espírita que
somos, sabemos
que, para
a criação da
“República da
Ética Cristã”,
será necessária
uma renovação
mental e
comportamental,
já em curso por
força das
circunstâncias,
mas que pode ser
acelerada pela
disseminação dos
saberes que
valorizam a
honestidade, a
dignidade da
vida humana, a
natureza e, até
mesmo, a nossa
subjetividade
espiritual.
Neste contexto “o
Espiritismo, em
razão da sua
complexa
estrutura
cultural,
científica,
moral e
religiosa, é a
doutrina capaz
de equacionar o
sofrimento,
liberando as
suas vítimas.”
(2)
Desta forma,
acreditamos que
a Doutrina
Espírita
“chega, neste
momento grave,
como resposta do
Céu generoso à
Terra aflita,
oferecendo
diretrizes,
equipamentos e
luzes que
proporcionam a
paz.”
(3)
Fontes:
1. FRANCO,
Divaldo P.
"Amor, imbatível
amor". Pelo
Espírito Joanna
de Ângelis, 6ª
ed. Salvador,
BA: LEAL, 2000,
p. 84.
2. FRANCO,
Divaldo P.
"Plenitude".
Pelo Espírito
Joanna de
Ângelis, 9ª ed.
Salvador, BA:
LEAL, 2000, p.
132.
3. FRANCO,
Divaldo P.
“Desperte e seja
feliz”. Pelo
Espírito Joanna
de Angelis, 6ª
ed. Salvador,
BA: LEAL, 2000,
p. 12