A vida é uma escola e, como disse
Machado de Assis, “na escola da vida
não existem férias”. Tudo que nos
acontece tem um objetivo -
despertar-nos para nossa libertação
espiritual.
Na mentalidade da grande maioria que
constitui a população da Terra, a
boa lição somente é aquela que
resulta em alegria e bem-estar
imediatos, sem considerar a que
surge através de acontecimentos
inesperados e indesejáveis. Mas
destes acontecimentos não podemos
fugir; inevitavelmente, as chamadas
crises da vida um dia surgirão.
Sem desejarmos fazer prognósticos
sombrios, poderemos afirmar que
aquele que hoje sorri, sentindo da
vida o bafejo da tão sonhada
felicidade, deve se preparar para a
adversidade que, com certeza, sem
nenhum aviso prévio chegará. É a
doença, a desencarnação de um ente
querido, a desilusão amorosa, ou
mesmo um problema familiar; de forma
que não há alguém que não tenha
passado, ou não tenha que passar por
alguma dessas provas.
Entretanto, o importante não é
somente termos a certeza de que um
dia elas baterão à nossa porta, mas,
principalmente, sabermos recebê-las
sem revolta, procurando
enriquecer-nos com as lições que nos
oferecem. Nas leis que regem a vida,
não existe o propósito de nos fazer
sofrer, mas, sim, de nos fazer
crescer rumo à perfeição espiritual.
Embora seja comum nos acharmos
merecedores apenas de venturas, é na
adversidade que mais aprendemos e
crescemos.
Nós nos lembramos de um conto
oriental que aqui transcreveremos
para reflexão:
Uma mulher ficou viúva, e sofreu
muito com o acontecido, chegou até a
desejar se enterrar com o marido;
mas, como também amava seu filho,
por ele encontrou forças para
superar a dor.
Depois de algum tempo, seu filho
adoeceu e morreu também. Ela entrou
em crise novamente, revoltando-se
com a perda. Estava sofrendo muito;
e alguém aconselhou-a a procurar o
Buda, que se encontrava em visita a
uma aldeia vizinha. Aceitando a
orientação, ela partiu ao encontro
dele, pensando: Talvez o Buda
compadecido da minha dor, restitua a
vida de meu filho!
Chegando à aldeia, apresentou-se ao
Buda suplicando-lhe com o filho nos
braços:
– Mestre, meu único filho está
morto, e não suportarei viver sem
ele. Por caridade, faça-o viver
novamente!
O Buda, compreendendo a dor daquela
mãe, falou-lhe bondosamente:
– Restituirei a vida a seu filho,
mas é preciso que você me traga
algumas sementes de mostarda.
A mulher ficou satisfeita na
esperança de ter o seu filho com
vida novamente, pois a semente de
mostarda não era difícil naquele
lugar.
– Estas sementes têm que ser
originadas de uma casa onde não
tenha acontecido a dor de uma perda,
seja de um servo ou de um entre
querido – completou o Buda.
E a mulher partiu em busca das
sementes. Em cada casa que batia
traziam-lhe as sementes, mas, quando
perguntava se naquela casa alguém já
havia morrido, a resposta era sempre
a mesma: “Nenhuma residência
encontrarás que não tenha
experimentado a perda de alguém
através da morte!”
Ela retornou, aproximou-se do Buda
com um sorriso triste e falou-lhe:
– Mestre, compreendi a sua lição e
enterrei minha dor, junto com o meu
filho na floresta!
As provações ou crises da vida não
são apenas para alguns, mas para
todos; apesar de indesejáveis,
algumas existem que são inevitáveis,
tanto quanto necessárias.
A exemplo de Jesus, quando por elas
formos visitados, fortalecidos na
oração e na fé em Deus, que possamos
dizer: “Pai, se possível passai esse
cálice de mim, mas que se cumpra
segundo a vossa vontade”.
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