EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Reforma íntima
sem ônus
desnecessário
Sabemos que a
dor e o
sofrimento não
são bons. Bom é
o que podemos
fazer da dor e
do sofrimento.
Desse modo, o
que é
significativo na
pedagogia do
Cristo é que nos
é possível
colocar um olhar
positivo sobre o
que é negativo
e, assim, fazer
algo de bom em
relação ao
sofrimento e à
dor.
E porque aqui
estamos, e a
caminho,
cabe-nos
recordar, em
razão da nossa
imortalidade,
uma das
bandeiras do
Espiritismo: a
reforma íntima.
Acredito que a
finalidade da
reforma íntima é
nos fazer
pessoas
melhores, é nos
humanizar, o que
nos aproximará
de Deus.
Vontade,
esforço,
disciplina, sim,
mas sem culpa.
Quando penso na
necessidade da
instrução, da
auto-educação,
revelada pelo
Consolador
Prometido,
lembro-me das
palavras de
Pestalozzi, o
educador suíço:
“O homem é como
a árvore. Na
criança
recém-nascida
estão ocultas as
faculdades que
lhe hão de
desdobrar-se
durante a vida;
os órgãos do seu
ser gradualmente
se formam, em
uníssono, e
constroem a
humanidade à
imagem de Deus.”
Desse modo,
tomados pela
certeza da
filiação divina
e da
imortalidade,
precisamos
aprofundar nosso
entendimento: a
reforma íntima
apenas exige o
nosso
consentimento
integral para o
esforço de
melhora, mas
despido do fardo
da culpa que,
claramente, nos
afasta do Pai e
de Jesus.
Creio que
internalizar
nosso
compromisso de
aprendizado do
amor e da
caridade deve
nos tornar mais
leves e mais
mansos, pois,
com isso, nosso
passo avançará
mais confiante e
menos sujeito a
estados
depressivos e
aflitivos.
A reforma íntima
se explicita no
próprio conselho
de José, o
Espírito
protetor, que
generosamente
nos dá sua
instrução no
Evangelho de
Jesus: “Sede,
pois, severos
para convosco”.
No entanto, tal
imperativo não
deve ser
entendido como
uma atitude de
inflexibilidade
a nós mesmos.
Autodisciplina
não significa
tortura ou
castigo. Nossa
prática de
aperfeiçoamento
simplesmente
implica bom
senso e
auto-exame
constante.
Quando sofremos
pelo mal que
ainda não
conseguimos
vencer, isso em
nada nos faz
pessoas
melhores. Um
caminho para luz
que queira
dissimular a
sombra, corre o
risco de ser um
caminho de
ilusão e de
frustrações, que
gera
enfermidades e
infelicidade.
Neste ponto,
recordemos
Pedro, o
apóstolo de
Jesus. Pedro
negou o Mestre.
Pedro errou. Mas
Pedro não se
enclausurou em
seu desespero,
no inferno da
sua culpa.
Acreditou que o
Cristo poderia
perdoar seu
equívoco,
enraizado na sua
fragilidade, na
sua covardia.
Aplicou a si
mesmo o perdão e
foi perdoado.
E o que é o
perdão?
O perdão é uma
das condições
para que nossa
vida continue a
ser vivível,
pois se
inicialmente ele
é uma questão de
inteligência e
de compreensão,
em seguida se
apresenta também
como uma questão
de liberação, de
alforria para a
paz interior.
Quando Jesus
perdoa a mulher
adúltera, por
exemplo, o
amoroso Mestre
nos ensina que o
perdão nos
acorda para uma
dimensão divina
de nós mesmos:
somos capazes de
misericórdia,
somos capazes de
Deus.
Quanto mais
vivo, mais
percebo que o
segredo para o
caminho rumo ao
Pai é não
desistir da
melhora. Devemos
agir com
insistência. E
melhora real só
conseguiremos
com auto-estima,
com respeito
pelas nossas
qualidades
positivas e
vigilância com o
“homem velho”,
que ainda mora
em nós.
A reforma íntima
inclui,
portanto, a
prática do amor
por si mesmo,
mas também pelo
próximo. Já, em
relação ao
outro, é exigida
de nós a segunda
parte do
conselho de
José, o Espírito
protetor: “Sede
(...)
indulgentes para
com os outros”.
Do ponto de
vista prático,
vivemos em
sociedade, pois
precisamos, para
progredir, da
convivência, da
sociabilidade.
Assim, em cada
encontro humano
podemos
exercitar a
atitude da
tolerância.
Devemos ampliar
a compreensão e
reduzir o
julgamento;
ampliar o
diálogo e
reduzir o
monólogo interno
acusatório.
Devemos treinar
a escuta, pois
se os seres
humanos se
escutam, eles se
compreendem.
Como a reforma
íntima visa à
nossa melhora,
amadurecer
espiritual e
emocionalmente
supõe a
superação da
fase do conflito
pela fase do
consenso. Se
alguém, por
exemplo, diz
algo contrário
ao que eu penso
e sou capaz de
entender esse
contrário como
complementar,
retirando disso
algo positivo,
vou crescer em
consciência e em
compreensão. Uma
ciência fechada
ao diálogo com a
religião, com o
transcendente,
por exemplo,
cria bombas e
armas nucleares,
mata a vida no
lugar de
promovê-la.
Não se pode
mudar a
sociedade sem
primeiro
transformar a si
mesmo. É por aí
que é preciso
começar. Por
nós. Começar por
estar em paz e
comprometido com
um agir
orientado pela
tolerância.
Precisamos
somente fazer a
nossa parte e é
só isso que nos
é pedido.
A reforma
íntima, no
lastro da
pedagogia de
Jesus, não é
aquela que diz:
“você deve”, mas
sim a que diz
“você pode”.
Você pode não
mentir, você
pode servir,
você pode ser
honesto, você
pode ser feliz.
Você pode.
Jesus, o
Educador
Amoroso, nos
convida à
caridade e ao
amor e,
fatalmente,
todos nós
amaremos. E
“amaremos” é um
futuro, um
devir, uma
esperança. Nós
amaremos, como
Jesus nos ama. E
esta certeza
sustenta os
nossos passos em
direção a Ele e
ao nosso Pai.
Não importa que
alguns estejam à
nossa frente,
outros atrás e
ainda outros ao
nosso lado. O
segredo é
seguir, o
segredo é
insistir. Com
alegria, com
esperança. Todos
nós podemos.
Fontes:
KARDEC, Allan. O
Evangelho
Segundo o
Espiritismo –
Capítulo X –
Item 16.
PESTALOZZI,
J. H. Como
Gertrudes ensina
a seus filhos.
In: LARRAYO,
Francisco.
História geral
da pedagogia.
Tomo II. São
Paulo: Mestre
Jou, 1974.