Sobre a preguiça
Cornélio Pires
Tenho em mãos sua
consulta,
Minha prezada Larissa,
Você procura por nós,
Informes sobre a
preguiça.
Preguiça mesmo no Além,
É uma sombra malfazeja,
Que o nosso espírito
abraça,
Contra si próprio onde
esteja.
É treva de obsessão,
Tão forte aí quanto
aqui,
Moléstia do pensamento
Que a pessoa esconde em
si
A preguiça escuta o
verbo
De quem procura ajudar,
A prova, aceita,
agradece,
Depois se põe a queixar.
Fala que anseia servir,
Dia a dia, hora por
hora,
Que o trabalho é sempre
a trilha
Por onde a vida melhora.
Afirma que a vida é
luta,
Conhece o próprio dever,
Mas apresenta as razões
Porque não pode atender.
Preguiça não evolui,
Diz ela: — porque não
tem,
Palavra de voz amiga
Nem proteção de ninguém.
As lágrimas que carrega
Só ela as vê como são,
Tem problemas que não
cessam,
Tem família em provação.
Traz a saúde imperfeita
Embora reze com fé,
Suporta a cabeça fraca,
Carrega fogo no pé.
Tem cólica, batedeira,
Dor no fígado e no baço,
De dia, tudo é tristeza,
De noite, tudo é
cansaço.
Sente aflição e azedume,
Sofre a queda dos
cabelos,
Caminha de perna bamba,
Tem dores nos
tornozelos.
Padece angústia
constante,
Vê fel por todos os
lados,
Alega a perseguição
De espíritos atrasados.
Quando está caindo chuva
Sofre zelos naturais,
Quando o calor aparece
Diz que o calor é
demais.
Não se agüenta com
vizinhos
Que estão sempre contra
ela,
Em casa nunca dispõe
De apoio da parentela.
Preguiça, prezada irmã,
É sempre uma cousa
assim:
Um sofrimento parado
Numa doença sem fim.
Preguiça, antiga
moléstia,
É praga na criatura,
Recebe muito remédio
Mas só serviço é que
cura.
Do livro Retratos da
Vida, cap. 5, ditado
pelo Espírito de
Cornélio Pires,
psicografado pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.