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Entrevista
Ano 1 - N° 23 - 21 de Setembro de 2007
FERNANDA BORGES
fernanda@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Ricardo Baesso de Oliveira:

“Falta-nos ousadia na defesa de questões primordiais”

O médico mineiro Ricardo Baesso de Oliveira, 49 anos, aborda o Espiritismo com muita naturalidade. A maneira sutil e prática de falar sobre a Doutrina Espírita revela a vivência de uma pessoa nascida e criada entre espíritas, onde tudo o que diz respeito ao Espiritismo e à codificação kardequiana é considerado comum a todos, principalmente a ele, filho de uma terceira geração de adeptos à Doutrina codificada por Allan Kardec.

Reumatologista, Ricardo Baesso reside em Juiz de Fora (MG), onde, depois de já ter ocupado diversas funções nos centros espíritas, atua hoje como diretor social do Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora, entidade da qual é membro desde a sua fundação, há 13 anos. Para ele, a Doutrina Espírita pode ser considerada uma síntese de princípios universais que envolvem o homem, a vida e o próprio universo.  Em sua estrutura fundamental, a doutrina apresenta a idéia da responsabilidade pessoal, mostrando que cada um é responsável por suas conquistas e fracassos. “O motor gerador dessas conquistas é a vontade. A disciplina e trabalho interior de aperfeiçoamento são os elementos-chave nesse desenvolvimento”, enfatiza o confrade, que nos concedeu a entrevista que se segue.

O Consolador: Onde você nasceu?

Nasci em Astolfo Dutra, Minas Gerais, e atualmente moro em Juiz de Fora.

O Consolador: Qual a sua formação?

Médico, com especialização em Reumatologia.

O Consolador: Quais os cargos ou funções que você já exerceu no movimento espírita?

Sócio fundador e Diretor em áreas diversas no Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora desde a sua fundação há 13 anos. Também sou expositor em centros espíritas da cidade.

O Consolador: Qual o cargo ou função exercido neste momento?

Diretor social da instituição citada.

O Consolador: É verdade que você nasceu em uma família espírita?

Sim, pertenço a uma família de espíritas. Estou na terceira geração, portanto sou filho e neto de espíritas de ambos os lados (pai e mãe).

O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico e religioso – qual é o que mais o atrai?

Sempre foi o científico, mas agora que me aproximo dos 50 anos de idade, o aspecto moral tem despertado mais intimamente meu interesse.

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?

Além da codificação, sinto admiração especial por Ernesto Bozzano e André Luiz.

O Consolador: Que livros espíritas você considera de leitura indispensável aos confrades iniciantes?

Além da codificação, a coleção Nosso Lar, de André Luiz.

O Consolador: Se você fosse passar alguns anos num lugar remoto, com acesso restrito às atividades e trabalhos espíritas, que livros pertinentes à Doutrina Espírita, você levaria?

Os mesmos: os livros da codificação e a coleção Nosso Lar.

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

Religião é proposta de ligação a Deus. O Espiritismo nos leva a isso.

O Consolador: Outro tema que suscita geralmente debates acalorados, diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Qual é sua apreciação dessa obra?

Nunca a li, por falta de interesse.

O Consolador: O terceiro assunto em que a prática espírita às vezes diverge está relacionado com os chamados passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond. Embora saibamos que em geral a opção já definida no País seja tão-somente a imposição das mãos tal como recomenda J. Herculano Pires, qual é sua opinião a respeito?

Em nossos trabalhos espíritas recomendamos a imposição das mãos. Mas não fazemos disso "cavalo de batalha". Acho que há coisas mais importantes para serem discutidas. Se nos preocuparmos excessivamente com questões formais, perderemos oportunidades de valorizarmos o que realmente é importante, a transformação moral.

O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? No seu modo de ver as coisas, os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida como tem feito a Igreja?

Sim, falta-nos ousadia na defesa de questões primordiais. A Igreja não possui argumentos tão fortes como nós em defesa da vida.

O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a idéia de ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual a sua opinião a respeito?

Há situações em que a única opção é essa, poupando o enfermo de sofrimentos gratuitos e permitindo uma desencarnação digna.

O Consolador: O movimento espírita em nosso país lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina?

Falta ao nosso movimento espírita mais caridade de uns para com outros. Necessitamos de menos crítica contundente e mais consideração pelo trabalho alheio. As lideranças deveriam ouvir mais atentamente as considerações dos tarefeiros modestos e promover um movimento mais próximo da realidade de nosso povo.

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o país e como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

Propor, de forma mais dinâmica, soluções para o problema que passem pela educação e a moralização de todos, em todos os níveis.

O Consolador: A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra “amor” estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Penso que o processo de transformação já está em curso e se dará tão rapidamente quanto mais vigoroso for o nosso esforço no combate às imperfeições morais.

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Priorizar o atendimento às classes mais simples, por meio de uma educação centrada nos princípios espíritas.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita