Houve uma época,
como mostram as
capas de livros
reproduzidas ao
lado, em que as
editoras
espíritas
seguiam na
identificação da
autoria das
obras mediúnicas
o modelo
utilizado por
Allan Kardec,
que jamais
escreveu
‘Espírito São
Luís´, mas
‘Espírito de
São Luís´,
‘Espírito de
Santo
Agostinho´,
'Espírito de
Jobard' e
expressões
semelhantes.
Qualquer que
fosse a Editora,
o modelo
observado era o
mesmo:
-
Espírito
de
Joanna de
Ângelis
(Editora
Pensamento)
-
Espírito
de André
Luiz
(Editora da
FEB)
-
Espírito
de
Vianna de
Carvalho
(Livraria
Alvorada
Editora, de
Salvador-BA)
-
Espírito
de
Emmanuel
(Comunhão
Espírita
Cristã de
Uberaba).
Depois, sem que
se saiba
exatamente o
porquê da
mudança, as
editoras
resolveram
inovar e, por
causa disso,
aboliu-se a
preposição “de”
que unia o
vocábulo
‘Espírito´ ao
nome pelo qual a
pessoa foi
conhecida na
Terra.
Dessa maneira,
passou-se a ver
nas capas dos
livros
mediúnicos nomes
como ‘Espírito
André Luiz´,
‘Espírito
Eurípedes
Barsanulfo´,
‘Espírito Joanna
de Ângelis´,
como se essas
personalidades
desencarnadas
adotassem no
plano espiritual
exatamente esses
nomes.
A estranheza
causada pela
mudança deve-se
a estes dois
motivos:
1o.
Não existe razão
para que se
despreze o
modelo
kardequiano, que
é, como veremos
adiante, o mais
lógico e o mais
coerente com
relação ao
assunto.
2o.
Os vultos mais
importantes do
Espiritismo, e
não apenas Allan
Kardec,
valeram-se de
modelos
idênticos ao
adotado pelo
Codificador.
Dentre eles
podemos citar
Léon Denis,
Gabriel Delanne,
Carlos
Imbassahy,
Cairbar Schutel
e muitos outros,
inclusive
Francisco
Cândido Xavier.
O equívoco de
abolir-se a
partícula “de”
– Digamos que um
familiar nosso
tenha
desencarnado. Se
um vidente
registrar sua
presença em um
recinto
qualquer, como é
que ele vai
designá-lo? Se
for nosso pai,
ele dirá ‘o
Espírito seu pai
está aqui’, ou
‘o Espírito
de seu pai
está aqui’?
A resposta a
essa pergunta
nem precisa ser
dita, porque é
óbvia. Com
efeito, diremos
– e todos o
fazem assim – ‘o
Espírito de
meu pai vai
muito bem´, `o
Espírito de
mamãe está
ótimo´, ‘ontem
tivemos uma
comunicação do
Espírito de
vovó´.
Imaginemos agora
que, em vez de
usarmos os
vocábulos pai,
mãe, vovó,
decidimos
utilizar os
nomes que eles
usaram na última
existência, isto
é, Antônio,
Maria, Joana.
Ninguém tem
dúvida de que
diríamos: ‘o
Espírito de
Antônio se
comunicou´, ‘o
Espírito de
Maria é bem
evoluído´ e
assim por
diante.
A razão deste
procedimento é
óbvia. Os nomes
mencionados
dizem respeito à
pessoa encarnada
e nada têm que
ver com o ser
desencarnado. O
Espírito de
Eurípedes
Barsanulfo, por
exemplo,
utilizou outros
nomes em
existências
anteriores, do
mesmo modo que
Allan Kardec
foi, no passado,
Jan Huss, e
Emmanuel teria
sido Manoel da
Nóbrega. Não há,
pois, um
Espírito chamado
Vianna de
Carvalho, mas
existe, sim, um
Espírito de um
homem que se
chamou na Terra,
em sua última encarnação, Vianna de
Carvalho, aliás
um
|
|
|
|
|
|
|
dos maiores
oradores espíritas
de todos os tempos.
Simplificando a
expressão, diríamos:
‘Espírito de
Vianna de
Carvalho´. |
Essa é a
verdadeira razão
pela qual Allan
Kardec, um
especialista na
língua francesa
e autor de uma
Gramática
Francesa
Clássica,
escrevia – ao
referir-se aos
desencarnados –
Espírito de
São Luís
(Revista
Espírita de
1858, pp. 76,
155 e 271),
Espírito de
Mozart (Revista
Espírita de
1858, p. 142),
Espírito do
Sr. Badet
(Revista
Espírita de
1858, p. 187),
modelo que
jamais
abandonou, o que
pode ser aferido
com facilidade
na sua obra.
(Consultem-se a
respeito os
volumes da
Revista Espírita
de 1858, pp.
178, 205, 265,
315 e 330; da
Revista Espírita
de 1859, pp. 41,
64, 73, 134,
175, 190, 222,
249 e 405; e da
Revista Espírita
de 1860, pp. 28,
31, 93, 170,
199, 220 e 384.)
Diferença entre
alma, Espírito e
homem
– Em importante
estudo publicado
na Revista
Espírita de
1864, pp. 138 e
139, Allan
Kardec
estabeleceu com
clareza a
distinção que
existe entre
alma, Espírito e
homem.
A alma –
diz o
Codificador –
é, a bem dizer,
o princípio
inteligente,
imperceptível e
indefinido como
o pensamento,
que não podemos
conceber isolado
da matéria de
maneira
absoluta. Embora
formado de
matéria sutil, o
perispírito dela
faz um ser
definido,
limitado e
circunscrito à
sua
individualidade
espiritual.
Desse modo,
podemos dizer: a
união da alma,
do perispírito e
do corpo
material
constitui o
HOMEM; a alma e
o perispírito
separados do
corpo constituem
o ESPÍRITO. Nas
manifestações
não é, pois, a
alma que se
apresenta só.
Ela está sempre
revestida de seu
envoltório
fluídico.
Portanto, nas
aparições não é
a alma que se
vê, mas o
perispírito que
a envolve, do
mesmo modo que,
quando se vê um
homem, vê-se o
seu corpo, mas
não o pensamento
ou o princípio
que o faz agir.
Em resumo –
conclui Kardec –
a alma é
o ser simples,
primitivo; o
Espírito é o
ser duplo; o
homem é o
ser triplo.
Apliquemos o
ensinamento
acima ao caso de
Jésus Gonçalves,
que teve,
conforme
sabemos, quatro
conhecidas
encarnações
anteriores
àquela em que
ficou conhecido
como Jésus
Gonçalves. Uma
delas foi o
célebre cardeal
Richelieu.
Como designar,
desse modo, o
Espírito que
animou essas
personalidades?
É claro que
poderemos
designá-lo
Espírito de
Jésus Gonçalves
ou Espírito
do cardeal
Richelieu,
expressões que
designam com
clareza a
entidade a que
nos referimos,
porque, em
verdade, Jésus
Gonçalves ou
Richelieu foram
nomes dados ao
“homem”, um ser
triplo, e não ao
“Espírito”, um
ser duplo, na
conceituação
kardequiana a
que acima nos
referimos.
Em outras
palavras, o nome
adotado pelo
“homem” não pode
ser simplesmente
transferido ao
“Espírito” que o
animou na última
existência,
porque esse nome
não diz respeito
ao desencarnado,
que teve outros
nomes em
existências
anteriores, mas
ao encarnado.
Por isso, é um
equívoco
dizermos
‘Espírito Jésus
Gonçalves´, como
fez a Editora O
Clarim ao
publicar as três
obras que Célia
Xavier Camargo
psicografou
escritas pelo
extraordinário
poeta que nos
legou o livro
“Flores de
Outono”.
Os maiores
vultos do
Espiritismo
escreviam como
Kardec |
Em um assunto
como este que
aqui tratamos
bastar-nos-ia o
exemplo dado
pelo Codificador
do Espiritismo e
isto por duas
boas razões:
1a.
Kardec sabia
como ninguém
utilizar o
vocabulário
indispensável à
compreensão da
doutrina por ele
codificada, fato
que o levou até
mesmo a criar
alguns
neologismos,
como os
vocábulos
perispírito,
Espiritismo,
espiritista etc.
2a.
O Codificador
foi um educador
devotado ao
ensino de várias
disciplinas,
inclusive da
língua francesa,
sendo autor de
uma Gramática
Francesa
Clássica. Não
era, portanto,
um autodidata ou
um neófito em
assuntos de
linguagem.
Ocorre, porém,
que os maiores
vultos do
Espiritismo, a
exemplo de Chico
Xavier, também
se referiam aos
Espíritos
valendo-se da
forma adotada
por Kardec.
Eis alguns
exemplos que
ilustram o que
afirmamos.
1. Léon
Denis:
“Um outro amigo
de Stead, o Sr.
Chedo Mijatovich,
ministro
plenipotenciário
da Sérvia em
Londres, viu o
Espírito de
Stead e lhe
falou por alguns
instantes.” (O
Além e a
Sobrevivência do
Ser, FEB, p.
60.)
“Na sessão
seguinte, o
Espírito de
Eduardo,
dirigindo-se à
mãe, disse: ‘Não
compreendeste
que fui eu quem
impeliu a médium
a colher aquela
flor e a
oferecê-la a ti,
em minha
lembrança?”
(Ibidem, p. 56.)
“Depois de
tratar dos
esforços
empregados nesse
sentido pelos
Espíritos de
Gurney, Hodgson
e Myers, em
particular, o
orador
acrescenta...”
(Ibidem, p. 51.)
“A linguagem da
médium, correta
e escolhida
quando desperta,
tornava-se
confusa,
arrastada,
semeada de
lapsos e de
expressões
regionais
durante o sono
magnético,
quando o
Espírito de
Sofia intervinha
em nossas
sessões.”
(Cristianismo e
Espiritismo, FEB,
p. 192.)
“Era por
intermédio de um
deles (...) que
se manifestava o
Espírito do
cônego Xavier
Mouls, sacerdote
de grande valor
e acrisoladas
virtudes, a quem
se deve a
vulgarização do
magnetismo e do
Espiritismo nos
‘corons´ do
vale.” (Ibidem,
p. 242.)
2. Gabriel
Delanne:
“Seus convidados
de então eram os
Espíritos de
Sedaine, Sévigné,
Sapho, Molière,
Shakespeare, e
foi no meio
destes que ela
morreu.” (O
Fenômeno
Espírita, FEB,
p. 55.)
“O Espírito
de Bertie,
que apenas
acabara de
abandonar o seu
corpo, entra na
sala, fazendo
girar a maçaneta
da porta.” (A
Alma é Imortal,
FEB, p. 126.)
“Apesar de tão
minuciosas
precauções, o
Espírito de
Katie e o da
Sra. Fay se
mostraram como
de ordinário, o
que provou a
perfeita
independência da
aparição.”
(Ibidem, p.
254.)
“A primeira
letra batida
lhes fez crer
que conseguiriam
o que desejavam;
(...) era o
Espírito de
Lívia que batia,
dizendo
obrigado.”
(Ibidem, p. 73.)
3. Carlos
Imbassahy:
“Este fato
probante,
testemunhado por
Crookes com
relação ao
Espírito de
Katie King,
deu-se várias
vezes com
Eusápia e vários
foram os
experimentadores
que o
verificaram.” (O
Espiritismo à
luz dos fatos,
FEB, p. 211.)
“O Espírito
de Spencer
Stattforde
revelou à médium
Mme. d´Esperance
a possibilidade
da telefonia,
isto 30 anos
antes dessa
prodigiosa
invenção e sendo
a médium
ignorante em
questões de
física.” (À
Margem do
Espiritismo, FEB,
p. 205.)
“Entre outras
coisas
impressionantes
e de caráter
técnico, só
compreensíveis
pelos
aeronautas,
disse mais o
Espírito de
Irwin, que o seu
navio aéreo
tinha quase
batido nos
telhados de Achy.”
(Ibidem, p.
200.)
“Então, pela
boca da médium
adormecida, o
Espírito da
Sra. Joubert
assim falou...”
(Ibidem, p.
182.)
“Bem razão
assistia ao
Espírito do
Dr. Demeure.” (A
Missão de Allan
Kardec, edição
da Federação
Espírita do
Paraná, p. 61.)
4. Cairbar
Schutel:
“O Espírito
de São Luís
deu o seguinte
conselho, que
muito orientará
os
estudantes...”
(Médiuns e
Mediunidade, O
Clarim, p. 58.)
“O rei Saul
invoca o
Espírito de
Samuel pela
pitonisa de
Endor.” (Ibidem,
p. 68.)
“Foi então que
apareceram os
Espíritos de
Moisés e Elias.”
(Ibidem, p. 73.)
5. Bezerra
de Menezes:
“Certa noite fui
surpreendido com
um chamamento
vibrante do
Espírito de
Pamela.” (A
Tragédia de
Santa Maria, FEB,
p. 53, obra
psicografada por
Yvonne A.
Pereira.)
6.
Humberto
Mariotti:
“... tengo
varios livros de
poemas que me
permito atribuir
al Espíritu
de Pablo
Neruda y de
otros poetas y
escritores.”
(Kardec, irmãs
Fox e outros, de
Jorge Rizzini,
EME Editora,
p.173.)
7. Yvonne
A. Pereira:
“Numa sessão, o
Espírito de
Lélia forma com
um sopro, aos
olhos dos
assistentes, um
tecido leve de
gaze branca...”
(Devassando o
Invisível, FEB,
p. 45.)
“No ano de 1915,
no correr de
memorável sessão
a que assistiram
nossos pais,
(...) o Espírito
do Dr.
Bezerra de
Menezes anunciou
o advento do
Rádio e da
Televisão...”
(Ibidem, p.
177.)
8. Martins
Peralva:
“Todo espírita
ganharia muito
se lesse,
meditando, o
capítulo
História de um
Médium, do
livro ‘Novas
Mensagens´, do
Espírito de
Humberto de
Campos.”
(Estudando a
Mediunidade, FEB,
p. 19.)
9. Suely
Caldas Schubert:
“Isto nos traz à
mente, uma vez
mais, a
referência que o
Espírito de
Galileu faz, em
‘A Gênese´, das
questões sobre
as quais deveria
silenciar,
apesar de já as
ter aprofundado
para si mesmo.”
(Testemunhos de
Chico Xavier,
FEB, p. 377.)
Como Chico
Xavier designava
os Espíritos
A
forma adotada
por Allan Kardec
ao designar os
Espíritos não
era estranha a
Francisco
Cândido Xavier,
que em várias
situações, ao
designar esse ou
aquele Espírito,
procedia do
mesmo modo como
o fazia o
Codificador do
Espiritismo. |
Eis alguns
exemplos
comprobatórios
dessa assertiva.
Em 3 de outubro
de 1955, quando
já havia
completado 45
anos de idade,
Chico escreveu,
em carta
dirigida ao
presidente da
FEB:
“Nas coleções do
Aurora,
de 1928 a 1932,
há numerosos
trabalhos do
Espírito de
João de Deus,
cuja autoria
somente pude
reconhecer,
mediunicamente,
em 1931. Não
conseguiríamos
as coleções dos
anos referidos
para que eu
pudesse fazer um
reestudo e
minuciosa
vistoria?”
(Testemunhos de
Chico Xavier, de
Suely Caldas
Schubert, p.
332).
O modo como
Chico se refere
ao Espírito de
João de Deus
era-lhe um
procedimento
habitual, como
demonstra este
trecho do
prefácio que ele
próprio redigiu,
em 16 de
setembro de
1937, para a
abertura do
livro
“Emmanuel”,
publicado pela
Editora da FEB:
“Lembro-me de
que em 1931,
numa de nossas
reuniões
habituais, vi a
meu lado, pela
primeira vez, o
bondoso Espírito
de
Emmanuel.
Eu psicografava,
naquela época,
as produções do
primeiro livro
mediúnico,
recebido através
de minhas
humildes
faculdades e
experimentava os
sintomas de
graves moléstia
dos olhos”
(Emanuel,
prefácio, p.
11).
A mesma maneira
de designar as
entidades
desencarnadas
seria por ele
ratificada em
1967 no
depoimento que
deu a Elias
Barbosa, o qual
faz parte da
obra “No Mundo
de Chico
Xavier”, escrita
pelo conhecido
confrade
uberabense:
“Como passou a
sua mediunidade
psicográfica
dessa fase de
indecisão para a
segurança
precisa?
Resposta de
Chico Xavier: -
Isso aconteceu
em 1931, quando
o Espírito de
Emmanuel assumiu
o comando de
minhas modestas
faculdades.
Desde aí, tudo
ficou mais
claro, mais
firme. Ele
apareceu em
minha vida
mediúnica assim
como alguém que
viesse completar
a minha visão
real da vida.”