ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Aceitação de
novas teorias
pede prudência
Podemos
incorporar novos
princípios à
Doutrina
Espírita? Como
conduzir teorias
polêmicas e
ainda não
resolvidas no
corpo
doutrinário do
Espiritismo?
Sempre há
questões
constantemente
discutidas, que
ensejam pontos
de vista,
posições
extremas ou
ponderadas e
temas gerais,
cujas bases
teóricas ainda
não são
definitivas,
exigindo
amadurecimento e
mesmo o decurso
do tempo para
serem firmadas
como
incontestáveis.
Pequenos
exemplos
situarão o
leitor: a) a
evolução do
princípio
espiritual e sua
transição pelos
reinos da
natureza; b) a
origem do ser
humano do ponto
de vista
material e
espiritual; c) o
princípio
espiritual dos
animais; d)
mundos
habitados, entre
outros temas.
Os exemplos
"queimam" o
raciocínio dos
estudiosos.
Embora aceitemos
as teorias, pela
lógica e pelo
raciocínio,
muitos ainda
esperam sua
comprovação
científica, pois
estão na fase de
experimentação,
sem condições de
serem
apresentadas
como verdades
definitivas.
Isso se dá,
principalmente,
no ambiente
externo aos
limites da
Doutrina
Espírita, pois o
que para nós,
espíritas, é de
fácil
entendimento, é
de difícil
compreensão para
aquele que ainda
não amadureceu o
raciocínio
através do
estudo e
reflexão em
torno de tais
temas. E
convenhamos:
para quem não
está inserido na
ambiência dos
postulados e
princípios
espíritas não é
tão simples
aceitar teorias
ainda não
comprovadas pela
ciência humana.
Daí o cuidado, a
prudência.
Este aspecto,
entretanto, é
altamente
estimulador para
a pesquisa e o
estudo, pois na
literatura
espírita há
material farto
de pesquisa e
passível de
construtivos
diálogos
doutrinários.
Como agir nestes
casos?
Recorramos,
neste propósito,
à Codificação.
Em "O Livro dos
Espíritos", os
capítulos I a
IV, de acordo
com as perguntas
17 a 75, nós
temos acesso a
assunto com
farto material
para reflexão,
sendo que a
questão 17
indica que
"(...) Deus não
permite que tudo
seja revelado ao
homem, aqui na
Terra" (1).
Porém, para
oriental tal
assertiva, fomos
buscar mais
elementos na
Revista Espírita
(2) e, na edição
do mês de março
de 1864 (3),
encontramos a
matéria
denominada “Da
perfeição dos
seres criados”,
onde o
Codificador faz
judiciosas
argumentações
sobre a questão
de que se Deus
não poderia ter
criado os
Espíritos
perfeitos para
lhe poupar o mal
e suas
conseqüências.
Deixamos ao
leitor a
curiosidade da
pesquisa para
maior
entendimento da
questão. Nosso
objetivo é
utilizar pequeno
trecho de Allan
Kardec, fruto de
seu lúcido
raciocínio, que
se encontra no
referido tópico
e que embasa o
questionamento
desta matéria.
Especialmente a
partir da página
68, embora se
referindo à
questão dos
animais, o
Codificador
apresenta o
critério que
norteia a
evolução do
pensamento
espírita e sua
aceitação de
novas teorias ou
princípios que
possam ser
incorporados à
Doutrina
Espírita.
Observemos
pequenos
trechos:
1. "(...) Só a
concordância
lhes pode dar a
consagração,
pois nisto está
o único e
verdadeiro
controle do
ensino dos
Espíritos. Eis
porque estamos
longe de aceitar
como verdades
irrecusáveis
tudo quanto
ensinam
individualmente;
um princípio,
seja qual for,
para nós só
adquire
autenticidade
pela
universalidade
do ensinamento,
isto é, pelas
instruções
idênticas, dadas
em todos os
lugares, por
médiuns
estranhos uns
aos outros, sem
sofrer as mesmas
influências,
notoriamente
isentos de
obsessões e
assistidos por
Espíritos
esclarecidos
(...)."
2. "(...) Em
geral nunca
seria demasiada
a prudência em
face a teorias
novas, sobre as
quais poderíamos
ter ilusões
(...)."
O controle da
concordância,
pois, é o
critério
estabelecido na
Codificação para
a aceitação de
novas teorias ou
incorporação de
novos
princípios.
Enquanto estes
estiverem na
área de caráter
individual,
permanecem como
temas
discutíveis e
sujeitos a
polêmica e à
controvérsia,
pois não são
aceitos com os
critérios das
verdades
definitivas.
Sem a
concordância,
como poderíamos
estar seguros da
verdade
absoluta? Como
pondera Kardec,
"a razão, a
lógica, o
raciocínio, sem
dúvida, são os
primeiros meios
de controle a
serem usados."
(4)
E quase ao final
do capítulo,
ainda à página
70, observemos a
prudência da
personalidade do
Codificador:
"(...) Jamais as
emitimos antes
que tenham
recebido a
sanção de que
acabamos de
falar, razão por
que algumas
pessoas, um
tanto
impacientes, se
admiram de nosso
silêncio em
certos casos.
Como sabemos que
cada coisa virá
a seu tempo, não
cedemos a
nenhuma pressão
(...)."
Diante, pois, de
questões
polêmicas ou
ainda não
resolvidas, o
melhor critério
é o da
concordância.
Nos temas ainda
em discussão, a
universalidade
dos ensinos, ou
seja, a
concordância dos
ensinos vindos
dos Espíritos,
como acima
delineado por
Kardec, é o
melhor guia para
conduzir estudos
e pesquisas.
Somente este
critério é capaz
de estabelecer a
aceitação de
novas teorias ou
princípios que
venham a ser
incorporados ao
corpo
doutrinário do
Espiritismo.
Fora disso,
ficamos
entregues a
opiniões,
sistemas
individuais ou
de pequenos
grupos, que
estão sujeitos a
ilusões,
desacertos,
equívocos,
sempre
prejudiciais ao
real
entendimento do
ensino espírita.
O que não é
desejável, pois,
o que se
pretende mesmo é
entender e viver
o Espiritismo,
em sua
plenitude, com o
embasamento do
Evangelho de
Jesus, conforme
apresentado por
Kardec à
humanidade, no
dia 18 de abril
de 1857, quando
do lançamento de
“O Livro dos
Espíritos”. Não
olvidemos, pois,
a índole da
Doutrina
Espírita, que
nos afirma que
"Fé inabalável
só o é a que
pode encarar a
razão frente a
frente, em todas
as épocas da
Humanidade" (5).
Sejamos
coerentes ao
refletir que não
temos ainda o
conhecimento
completo; é
preciso esperar
o tempo, o
amadurecimento
da consciência
humana, o que só
será conseguido
à custa de muito
esforço. Isto,
entretanto, não
nos impede de
continuar
pesquisando,
estudando e,
principalmente,
aproveitando os
avanços da
Ciência que,
dia-a-dia,
comprova o que a
Codificação
apresenta há
mais de um
século.
Fontes:
(1) 3ª Edição
FEESP, tradução
de J. Herculano
Pires, São
Paulo-SP, 1987.
(2) Publicação
fundada por
Allan Kardec em
1858 e que ainda
circula na
França.
(3) Edição da
EDICEL, São
Paulo, 1996,
tradução de
Júlio Abreu
Filho, pp.
65-70.
(4) Página 70,
primeiro
parágrafo.
(5) Folha de
rosto de "O
Evangelho
Segundo o
Espiritismo",
107ª edição FEB,
tradução Guillon
Ribeiro, Rio de
Janeiro (RJ),
08/93.
Notas
explicativas:
(A) Por
Espíritos
esclarecidos
deve-se entender
aqueles que
provam sua
superioridade
pela elevação do
pensamento, pelo
alto alcance de
seus ensinos,
jamais se
contradizendo e
jamais dizendo
nada que a
lógica mais
rigorosa não
possa admitir,
como pondera o
próprio
Codificador no
trecho em
questão.
(B) Critérios de
aceitação: 1. O
primeiro exame
comprobativo é,
pois, sem
contradita, o da
razão, ao qual
se submeta, sem
exceção, tudo o
que venha dos
Espíritos. Toda
teoria em
manifesta
contradição com
o bom senso, com
uma lógica
rigorosa e com
os dados
positivos já
adquiridos, deve
ser rejeitada;
2. A
concordância no
que ensinem os
Espíritos é,
pois, a melhor
comprovação; 3.
Uma só garantia
séria existe
para o ensino
dos Espíritos: a
concordância que
haja entre as
revelações que
eles façam
espontaneamente,
servindo-se de
grande número de
médiuns
estranhos uns
aos outros e em
vários lugares.
(Síntese do
pensamento de
Kardec, exposto
na Introdução de
“O Evangelho
Segundo o
Espiritismo”,
Item II
(Autoridade da
Doutrina
Espírita),
páginas 28 a 36,
107ª edição FEB,
tradução de
Guillon Ribeiro,
Rio de
Janeiro-RJ,
08/1993.)
(C) O melhor
conselho de
Erasto: "É
melhor repelir
dez verdades
momentaneamente
do que admitir
uma só mentira,
uma única teoria
falsa."
In: Revista
Espírita, 1861,
página 324 -
edição EDICEL.
Transcrição
parcial do Item
“mentira”,
Doutrina
Espírita no
Tempo e no
Espaço, 800
verbetes
especializados,
de A. Merci
Spada Borges, 1ª
edição da
Panorama
Comunicações
(telefone 0 xx
11 6101-1165),
São Paulo-SP,
novembro de
2000.