WELLINGTON
BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru,
São
Paulo
(Brasil)
Kardec e o
autoconhecimento
Complicado andar por
terras estranhas, em uma
viagem onde falta
conhecimento do caminho
a seguir. Quando isso
ocorre, as chances de
erro são grandes.
Imprescindível,
portanto, se munir de
todas as condições para
que essa viagem
transcorra da melhor
forma possível.
A viagem que nos
referimos aqui é o
retorno do Espírito ao
mundo da matéria, pelas
portas sagradas da
reencarnação.
Mas, e o planejamento?
Não planejamos essa
viagem de retorno ao
mundo físico? Como foi
planejado, devemos
entender que não será
algo tão estranho,
afinal, é como se
relembrássemos os
caminhos a percorrer com
o propósito de não nos
perder.
Sim, é verdade, se
seguirmos o
planejamento, procurando
cumpri-lo, tudo é mais
fácil, embora saibamos
que todo plano está
sujeito à mudança de
rumo, porquanto depende
de nossas escolhas.
Podemos seguir o que foi
planejado no plano dos
Espíritos, como podemos,
entorpecidos pelos
sentidos da carne,
adentrar outros
caminhos.
Então, como lograr êxito
em nossa jornada terrena
se não cumprimos o que
foi traçado outrora, no
plano espiritual?
Afinal, se optamos por
outros caminhos que não
os estudados e
planejados, nossas
chances de sucesso ficam
mais difíceis.
Sim, outras chances
podem ser mais difíceis,
mas não impossíveis,
pois outras medidas, no
que toca ao que foi
anteriormente planejado,
não implicam,
necessariamente,
fracasso existencial.
Entretanto, há nessa
história um ingrediente
que faz a diferença em
nosso favor: o
autoconhecimento!
Autoconhecimento que
está explícito na
codificação da Doutrina
Espírita, mais
precisamente na questão
de n.º 919, de O
Livro dos Espíritos,
onde os benfeitores
indicam o
autoconhecimento como
condição essencial para
o sucesso nos palcos da
vida.
Quem exercita o
autoconhecimento sabe as
virtudes que possui e as
limitações a superar. E,
diga-se de passagem,
conhecer as virtudes não
quer dizer ser
prepotente, mas sim
saber as conquistas
efetuadas, ou alguém
duvida que temos muitas
conquistas?
Sim, temos muitas
virtudes, muitas
habilidades que
desenvolvemos ao longo
de nossas existências. O
grande problema é que
muitos consideram que
saber da existência
dessas virtudes é se
vangloriar. Nada disso.
Isso é autoconhecer-se,
saber o que já foi
conquistado. O que não
pode é ficar submisso
aos excessos e idolatrar
a própria figura ou
utilizar as conquistas
efetuadas no campo da
cultura, por exemplo,
para constranger o
semelhante.
Quem se considera
professor da vida, estar
efetivamente pronto a
ocupar digníssimo lugar
ao lado do Pai, entra em
um marca-passo
existencial e deixa de
avançar pela simples
razão de se considerar
pronto. Somos todos
seres em constante
construção, inseridos em
um incessante processo
de aquilatar virtudes e
superar limitações;
contudo, é necessário
conhecer as virtudes que
necessitam ainda ser
conquistadas e, de outro
lado, as mazelas que
urge depurarmos.
É ilustrativo o caso do
alcoolismo, uma doença
que só é vencida quando
o alcoólatra toma
ciência de sua condição.
Precisa o alcoólatra
primeiro admitir a
doença para, depois,
vencer o vício. Enquanto
o alcoólatra tenta se
enganar, considerando
que nada tem, persistirá
doente por um simples
motivo: ignorância!
Esse exemplo apenas
demonstra a necessidade
constante que temos de
cultivar o
autoconhecimento,
estudando-nos
permanentemente para que
não fiquemos à mercê de
nossas mazelas.
E no quesito
autoconhecimento, vale a
pela lembrar Kardec,
conhecedor de si mesmo e
ciente das próprias
virtudes. Além disso,
tinha plena ciência de
que não era o único
capaz de desempenhar o
trabalho de organização
da Doutrina Espírita.
E ele o demonstrou de
maneira objetiva e
segura, sem ares de
superioridade que
caracteriza o ser
prepotente. Allan Kardec
nos diz, em Obras
Póstumas,
referindo-se à caridade:
(...) Certamente não
me cabe fazer o
inventário do bem que
pude fazer; mas, num
momento em que parece
tudo esquecer-se, é-me
muito permitido, creio,
chamar à minha lembrança
que a minha consciência
me diz que não fiz mal a
ninguém, que fiz todo o
bem que pude, e isso o
repito sem ostentação;
sob esse aspecto, a
minha consciência está
tranqüila.
E, da mesma obra acima
citada, extraímos outra
prova de
autoconhecimento que
possuía o codificador do
Espiritismo, que não se
considerava
insubstituível, deixando
explícito que uma obra
gigantesca como o
Espiritismo não ficaria
subordinada a um homem
apenas, prova cabal da
magnitude divina:
(...) Não tenho a
pretensão de ser o único
ser indispensável; que
Deus é muito sábio para
fazer repousar o futuro
de uma doutrina, que
deve regenerar o mundo,
sobre a vida de um
homem; que, aliás,
sempre me foi dito que a
minha tarefa era
constituir a Doutrina, e
que me será dado o tempo
necessário.
Na família, na
sociedade, no trabalho e
nas atividades
voluntárias que
desempenhamos, somos
todos importantes, mas
não insubstituíveis. Ter
consciência da condição
de eternos alunos da
vida é o segredo para
que não estagnemos na
prepotência, nem nos
afundemos nas obscuras
águas da falta de
confiança em nós mesmos.
Temos virtudes, é
importante saber disso.
Temos limitações, e é
mais importante ainda
não ignorá-las para que
cumpramos fielmente os
desígnios do Criador,
que almeja um futuro
promissor para todos,
sem exceção.
Pensemos nisso.