ARTHUR BERNARDES
DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
Guarani, Minas
Gerais (Brasil)
Finados
O culto aos
mortos é uma
tradição que já
existia entre os
povos
primitivos. Na
Igreja Católica,
celebra-se o Dia
de Finados em 2
de novembro, com
visitas ao
cemitério e
orações pelas
almas dos
defuntos.
Esse dia foi
oficialmente
instituído pela
Igreja Católica
no século X,
denominado, na
liturgia,
omnium fidelium
defunctorum.
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Com o passar
do tempo, a
comemoração
ultrapassou
seu
exclusivo
aspecto
religioso,
para revelar
uma feição
emotiva: a
saudade de
quem perdeu
entes
queridos. |
O culto aos
mortos foi uma
das práticas
fundamentais de
quase todas as
religiões, mesmo
as mais
primitivas. Os
mortos, como as
sementes, eram
enterrados com
vistas a uma
ressurreição.
Assim, a idéia
central da festa
dos mortos era a
mesma dos ritos
agrários e da
fecundidade.
O binômio
morte-fertilidade
explica a
primitiva
celebração de
finados, com
banquetes perto
dos túmulos.
Essa associação
é que levou o
homem primitivo
a implorar a
proteção dos
mortos para o
êxito das
colheitas e das
plantações. Na
antiguidade
greco-romana, o
culto das almas
era celebrado
com o cerimonial
da vegetação.
Hipócrates
acreditava que
os Espíritos dos
mortos “faziam
germinar e
crescer as
sementes”. Os
hindus comemoram
os mortos em
plena colheita,
como a festa
principal do
período.
Os iorubás,
segundo Melo
Morais Filho,
comemoravam, na
Bahia, o dia de
finados com
preces, cantos e
danças. Em
outros lugares
do Brasil, havia
refeições
fúnebres
próprias desse
dia. Em Alagoas
e no Estado do
Rio de Janeiro,
realizavam-se
bailados,
jejuns,
sacrifícios de
animais e
banquetes.
(Enciclopédia
Barsa).
Pois bem: Allan
Kardec não ficou
alheio a essa
celebração. Como
o costume
orientava, e
ainda orienta,
em relação, pelo
menos em
pensamento, os
que ainda estão
aqui com os que
já se foram para
o além-túmulo,
entendeu ele de
formular algumas
indagações aos
Espíritos,
objetivando
fixar o
comportamento do
espírita em face
dessa tradição.
A matéria está
tratada nas
questões 320 a
329, de O
Livro dos
Espíritos,
que gostaríamos
de recordar.
Primeira
indagação −
Sensibiliza os
Espíritos o fato
de se lembrarem
deles as pessoas
que lhes foram
caras na Terra?
− Muito mais do
que podemos
imaginar. Se os
Espíritos são
felizes, essas
lembranças
aumentam-lhes
ainda mais a
felicidade.
Estão-se
sofrendo, a
nossa boa
lembrança lhes
serve de
lenitivo.
Hoje, porém,
através de obras
mediúnicas
inúmeras que
foram surgindo
ao longo do
tempo, tivemos
avanços
importantes que
balizam nosso
comportamento,
quando atingidos
pela perda de
entes caros.
Sabemos, por
exemplo: que as
lágrimas de
desespero
prejudicam
demais a
readaptação e o
equilíbrio do
ente querido que
partiu; que,
pelo mesmo
motivo, não
devemos abrigar
qualquer
sentimento de
revolta, sejam
quais forem as
circunstâncias
da perda; que
não devemos
guardar, como
recordação, as
coisas que a
eles
pertenceram;
que, ao
contrário,
devemos doá-las
a pessoas mais
necessitadas que
delas possam se
servir; que, ao
recordarmos
aqueles que
partiram,
devemos fazê-lo
sempre
recordando-os
nos momentos
de alegria e
de paz; que não
devemos culpar
ninguém pela
ocorrência do
óbito; que
devemos confiar
em Deus e orar
por eles e por
nós; que podemos
chorar, sim,
pois as lágrimas
nos fazem bem,
desde que não
sejam geradas
pela mágoa ou
pela revolta.
2ª. Indagação:
− O dia de
Finados é, para
os Espíritos,
mais solene do
que os outros
dias?
Agrada-lhes irem
ao encontro dos
que vão orar nos
cemitérios sobre
seus túmulos?
− Não é esse dia
mais solene do
que qualquer
outro. Atendem
nele ao chamado
dos que na Terra
lhes dirigem o
pensamento, como
fariam noutro
dia qualquer.
Nada de
especial.
Apenas, acorrem,
em maior número,
porque maior é o
número das
pessoas que
pensam em seus
mortos nesse
dia. Não é,
entretanto, a
multidão de
gente nos
cemitérios que
os atrai, mesmo
porque os
espíritos que lá
comparecem, só o
fazem pelos
amigos que
porventura neles
pensem.
3ª. Indagação:
− E os Espíritos
esquecidos?
Aqueles nos
quais ninguém
mais costuma
pensar? Ficam
tristes porque
ninguém deles se
lembra? Porque
ninguém visita
seus túmulos?
− Absolutamente.
Não estão nem aí
para o pouco
caso que lhes
fazem à memória.
Que lhes importa
a Terra? Só pelo
coração se acham
presos a ela.
Desde que
ninguém mais
aqui lhes vota
afeição, não há
por que se
prenderem ao
planeta.
4ª. Indagação:
− Que é mais
importante para
o Espírito: a
visita ao túmulo
onde estão
enterrados os
restos de seu
corpo ou a prece
que por ele a
pessoa faça em
sua própria
casa?
− A visita ao
túmulo mostra
apenas que a
pessoa pensou
naquele que já
partiu. É a
representação
exterior de um
fato íntimo. Já
a prece, não.
Ela é que
santifica o ato
da rememoração.
E não importa o
lugar onde é
feita, desde que
seja feita com o
coração.
5ª. Indagação:
− E aqueles
Espíritos a quem
se erigem
estátuas ou
monumentos
reverenciando-lhes
a memória?
Gostam disso?
Costumam
comparecer a
essas
homenagens?
− Muitos
comparecem,
quando podem.
Porém, menos os
sensibiliza a
homenagem que
lhes prestam do
que a lembrança
que deles
guardam os
homens. Casos
há, porém, que
tais homenagens
costumam agravar
a situação de
sofrimento em
que, às vezes, o
homenageado se
encontra. Quando
a consciência
lhe diz que a
homenagem é
injusta e,
portanto,
imerecida.
6ª. Indagação:
− Por que certas
pessoas exigem,
antes de morrer,
que seu corpo
seja enterrado
nesse ou naquele
lugar? Será
porque entendem
que o lugar do
sepultamento
facilitará seja
lembrado depois?
− Inferioridade
moral. Que
importa o lugar
que vá receber o
corpo de que se
serviu quando
encarnado. A
união dos ossos
não fará a união
dos Espíritos.
Essa, só o amor,
a identidade de
pensamentos, a
afinidade e a
simpatia.
7ª.
Indagação: −
Deve-se
considerar
futilidade a
reunião dos
despojos mortais
de todos os
membros de uma
família?
− Não devemos
considerar
inútil nenhuma
atitude na qual
se acredita
estar um gesto
de simpatia para
com os nossos
mortos. Para os
Espíritos essa
reunião não tem
qualquer
importância,
mas, para os que
a fazem, ela
torna mais
concentradas
suas
recordações.
8ª. Indagação:
− Comove-se o
Espírito com as
honras que lhe
prestam aos
despojos
mortais?
− Quando já
ascendeu a certo
grau de
perfeição, o
Espírito se acha
escoimado de
vaidades
terrenas e
compreende a
futilidade de
todas essas
coisas. Há,
porém, espíritos
que experimentam
grande prazer
com essas
homenagens e
outros que se
aborrecem muito
com o pouco caso
que façam de
seus envoltórios
corporais. É que
ainda conservam
alguns dos
preconceitos,
tão comuns entre
os homens.
9ª. Indagação:
− O Espírito
assiste ao seu
enterro? Fica
lisonjeado
quando vê muita
gente no seu
enterro?
− Freqüentemente
assiste, mas,
algumas vezes,
se ainda está
perturbado, não
percebe o que se
passa. O
Espírito que
está consciente,
quando vê muita
gente, fica mais
ou menos
lisonjeado,
conforme o
sentimento que
anima as pessoas
que acompanham o
enterro.
10ª. Indagação
− Aquele que
acaba de morrer
assiste à
reunião dos
herdeiros?
− Quase sempre.
Assiste para seu
ensinamento e
castigo dos
culpados. Nessa
ocasião julga da
sinceridade dos
que lhe faziam a
corte. Todos os
sentimentos se
lhe tornam
claros e a
decepção que lhe
causa a
rapacidade dos
que, entre si,
partilham os
bens,
esclarece-o
acerca daqueles
sentimentos.
11ª. Indagação:
− E o respeito
que, em todos os
tempos e entre
todos os povos,
o homem
consagrou e
consagra aos
mortos? É efeito
da intuição que
todos têm da
sobrevivência da
alma?
− Sim. É a
conseqüência
natural dessa
intuição. Se
assim não fosse,
nenhuma razão de
ser teria esse
respeito.