ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Espiritismo sem
os Espíritos?
O Movimento
Espírita tem
atravessado
lutas e períodos
de afirmação da
consciência do
próprio
espírita. Houve
época em que se
discutiu
amplamente se
era ou não o
Espiritismo uma
Religião. Tempo
e fosfato foram
gastos, páginas
e tintas
ocuparam amplo
espaço da
Imprensa
Espírita para
debater uma
questão que por
si só já era
óbvia. Mas,
digamos que a
discussão foi
importante,
necessária,
mesmo a título
de consolidação
da citada
consciência
espírita. Também
debateu-se
amplamente
outros temas,
que a nada
levam, a não ser
a dissabores
desnecessários,
pois que focando
a atenção para
estas questões
secundárias
perde-se o
essencial do
estudo
doutrinário,
muito mais
abrangente e de
conseqüências
salutares para a
felicidade
humana.
Num passado
recente, e com
resquícios no
presente,
discutiu-se
sobre a negação
ou validade da
prece e, mais
atualmente,
houve alguma
movimentação
sobre a divisa:
Nada de
comunicações de
Espíritos.
Alegam os
defensores da
idéia que não
dispomos no
ambiente
espírita de
condições
ideais, com
médiuns e
Espíritos
confiáveis que
possam produzir
comunicações
autênticas e com
objetivos
benéficos para o
Movimento
Espírita.
A proposta gerou
divisões,
desentendimentos,
significou
verdadeiramente
um entrave aos
propósitos
maiores da
Doutrina, pela
perda de tempo
que ocasionou,
desviando a
atenção para os
superiores
objetivos do
Espiritismo.
Mas toda questão
merece análise.
E todos merecem
respeito pelas
opiniões que
expressam. Em
primeira
instância,
digamos que
realmente não há
perfeição na
Terra e que
médiuns ou
Espíritos,
estamos todos
sujeitos a
equívocos,
erros, mas isto
não invalida o
esforço que se
coloca a serviço
da Doutrina
Espírita.
Contrariamente
ao que se pensa,
as reuniões de
intercâmbio com
os Espíritos são
de grande
validade para o
esclarecimento
de homens e
Espíritos, muito
além de seu
aspecto de
experimento e
têm cumprido
função
socorrista de
alto alcance.
Isto sem falar
no farto
material de
estudo que
coloca à
disposição.
Solicitamos,
ainda, aos
leitores se
reportarem
também ao farto
material
publicado a
respeito,
especialmente
aqueles vindos
via mediúnica
por Yvonne
Pereira e
Divaldo Pereira
Franco.
Mas, para
embasar ainda
mais a análise
do tema,
busquemos os
esclarecimentos
do próprio
Codificador
Allan Kardec. O
assunto é
tratado com
grande
propriedade na
Revista
Espírita
(Ano IX, abril
de 1866, edição
da EDICEL, com o
artigo O
Espiritismo sem
os Espíritos),
numa
demonstração
clara que já
àquela época o
mesmo problema
era também
ventilado.
Nas
considerações
valiosas que
apresenta,
Kardec destaca:
"Certamente,
não podemos
saber, por uma
prova material,
se o Espírito
que se apresenta
sob o nome de
Pascal é
realmente o do
grande Pascal.
Que nos importa
se diz boas
coisas? Cabe-nos
pesar o valor de
suas instruções,
não pela forma
da linguagem,
que se sabe por
vezes marcada
pelo cunho da
inferioridade do
instrumento, mas
pela grandeza e
pela sabedoria
dos pensamentos.
Um grande
Espírito que se
comunica por um
médium pouco
letrado é como
um hábil
calígrafo que se
serve de uma
pena ruim; o
conjunto da
escrita terá o
cunho de seu
talento, mas os
detalhes da
execução, que
dele não
dependem, serão
imperfeitos".
Vale destacar
ainda que os
próprios
Espíritos
recomendam
submeter todos
os seus
ensinamentos
pelo cadinho da
lógica e do bom
senso para
aceitação desses
ensinamentos.
Por outro lado,
sabe-se
claramente que o
Espiritismo não
é de concepção
humana pessoal.
Fruto do
ensinamento de
diversos
Espíritos, sem
eles o
Espiritismo não
existiria. Ora,
foram eles
próprios que
vieram revelar
sua existência e
por conseqüência
transmitiram
toda a Doutrina.
A tentativa de
implantação de
um sistema de
inutilidade do
intercâmbio com
os Espíritos
coloca em dúvida
a própria
Doutrina, tão
ricamente
conhecida pelos
tesouros morais
que apresenta.
Rejeitar as
comunicações,
negá-las mesmo,
parece-nos
profunda
ingratidão,
voltar-se contra
os Espíritos que
tanto nos
trouxeram. O
canal da
comunicação
mediúnica deve
ser utilizado, é
claro,
utilizando-se
das diretrizes
da Codificação,
com a coerência
e prudência que
ela recomenda.
Como pondera o
próprio
Codificador, no
artigo em
referência, como
devem se sentir
esses Espíritos
que,
encarregados da
transmissão de
ensinamentos,
ficam a ouvir
discussões se
lhes deve ser
dada a palavra
ou não?
Considere-se
ainda, que se
levando em conta
diversidade das
comunicações
(por força mesmo
das diferentes
posições
evolutivas dos
Espíritos
comunicantes),
há nisto um
grande valor,
onde muitas
experiências e
ensinamentos
podem ser
colhidos e
espalhados em
favor da sofrida
humanidade
terrestre. Por
dedução lógica
desse argumento,
há, pois, (e
isto é muito
claro!) boas e
ruins
comunicações.
Tanto por grau
evolutivo do
Espírito, como
pelas condições
morais do
médium. Porém,
cabe-nos o
critério de
seleção e
escolha.
Rejeitar todas
seria o mesmo
que rejeitar
bons escritores
porque existem
os maus
escritores, como
bem pondera
Allan Kardec.
Todos os dias
fazemos seleção
do melhor para
nossas vidas,
temos
oportunidade de
opções. Por que
não fazer o
mesmo com
relação à
produção dos
Espíritos?
Usando ainda
outro argumento
do Codificador
(do mesmo artigo
citado), ele
alega que: "O
Espiritismo
tende para a
reforma da
humanidade pela
caridade. Não é,
pois, de admirar
que os Espíritos
preguem a
caridade sem
cessar; eles a
pregarão ainda
tanto tempo
enquanto ela não
houver
desarraigado o
orgulho e o
egoísmo do
coração do
homem. Se alguns
acham as
comunicações
inúteis, porque
repetem
incessantemente
as lições de
moral, devem ser
felicitados,
pois são
bastante
perfeitos para
não necessitarem
delas; mas devem
pensar que os
que não têm
tanta confiança
em seu próprio
mérito e que
desejam se
melhorar, não se
cansam de
receber bons
conselhos".
Por outro lado,
leve-se em conta
ainda o
inumerável
contingente de
trabalhadores
espíritas
espalhados pelo
planeta todo.
Não haverá entre
tantos, outro
tanto número de
companheiros
sinceros,
dedicados,
honestos,
trabalhadores
fiéis do
Evangelho, pela
Causa do Cristo?
Ora, como não?
Aí estão, a
olhos vistos, os
resultados do
trabalho
espírita,
espalhando
benefícios a
toda gente, sem
necessidade de
citar aqui
qualquer desses
trabalhos ou
benefícios
espalhados. Já
são por demais
conhecidos,
mesmo que
operando no
anonimato.
A conclusão do
artigo que nos
baseamos para
desenvolver esta
matéria é
fantástica. Diz
Allan Kardec: "Repetimos
aqui o que
dissemos a
propósito da
prece: Se o
Espiritismo deve
ganhar em
influência, é
aumentando a
soma de
satisfação moral
que proporciona.
Que os que o
acham
insuficiente tal
qual é, se
esforcem por dar
mais que Ele;
mas não será
dando menos,
tirando o que
faz o seu
encanto, a força
e a popularidade
que o
suplantarão.”
Esta
satisfação moral
a que se refere
o Codificador
deve ser o
objeto de nossas
preocupações, o
foco para onde
devemos
direcionar
nossos olhos e
nossa atenção.
Ora, aí está o
programa do
Espiritismo.
Ela, a
satisfação moral,
é encontrada nas
respostas às
aflições
humanas, nas
respostas aos
anseios de
saber, na
felicidade da
convivência
fraterna uns com
os outros.
Também no bem
que se pode
espalhar e nas
conquistas da
inteligência que
vislumbra as
grandezas do
Criador. Mas,
sem dúvida, na
melhora
individual que
nos cabe
alcançar, que
redundará na
melhora da
sociedade
humana.
E ficamos a
questionar: o
Espiritismo é ou
não religião?
Ficamos a perder
tempo com
discussões sobre
a validade da
prece e do
intercâmbio com
os Espíritos?
Ambos, a prece e
o intercâmbio
com os
Espíritos, são
recursos
exponenciais
colocados à
nossa disposição
para o exercício
do amor, da
confiança em
Deus, de
sintonia com o
Bem Maior que
nos ampara sem
cessar. Como
dispensá-los?
Apenas o uso de
bom senso é
recomendável...
Amparados pelo
estudo
doutrinário, são
valiosos
recursos de
progresso e
felicidade.
Seria alongar
demais o
presente
trabalho,
apresentar
outras
considerações
também sobre a
prece. Sugerimos
ao leitor uma
breve consulta
ao O Livro
dos Espíritos
e O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
sem deixar de
consultar também
a Revista
Espírita,
onde o texto
integral levará
o leitor a
passeios muito
agradáveis ao
lado do lúcido
raciocínio do
Codificador.