EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Elogio a
Francisco,
“o
pobrezinho de
Assis”
Francisco de
Assis, fonte
bendita e
inspiradora,
ilumina um
itinerário que
nos põe em
crise, nos
emociona, dá
evocações e pode
orientar um
método para o
desenvolvimento
da fraternidade,
à medida que se
opôs, como um
singular
revolucionário,
às desigualdades
do seu tempo,
ambientado pelo
mundo feudal
falido e pela
nascente da
burguesia, do
capital
materializado.
Leonardo Boff
nos diz que,
diante da sua
preocupação
pelos infiéis
sarracenos, “Francisco
de Assis toma
parte em uma das
cruzadas. E fica
escandalizado ao
perceber que os
cruzados, em vez
de combaterem os
muçulmanos
sarracenos,
brigam entre si
e se matam,
alemães contra
franceses,
lombardos contra
sicilianos. Ele
fica desesperado
e tenta
atravessar as
fronteiras.
Prendem-no e
levam-no
diretamente ao
sultão
Melekel-Kamel.
Francisco tem um
diálogo com o
sultão, de
grande doçura,
beleza e
pacificação. O
sultão,
emocionado, diz:
‘De ora em
diante,
Francisco e seus
filhos poderão
freqüentar todos
os lugares
santos da
Palestina.’”
(1)
Francisco, o ser
humano aberto,
inteiramente
disponível à
partilha. Com
isso, na
alegação de
Boff, Francisco
foi capaz de
reconhecer no
sultão do Egito
não o muçulmano
e, por isso, o
adversário, mas
o ser humano e
irmão,
porque a sua
revolução foi
vivenciar com o
coração a
fraternidade
universal,
segundo o
descrito em
Mateus (23:8),
onde Jesus diz:
“Vós, porém,
não queirais ser
chamados Rabi;
porque um só é
vosso Mestre, e
todos vós sois
irmãos”.
O padre Antônio
Vieira no seu
Sermão sobre as
Chagas de
Francisco
dizia: “Despi
a Francisco e
vereis a Cristo,
vesti a Cristo e
vereis a
Francisco.
Francisco é a
segunda estampa
de Cristo”.
(2) Francisco
caminhou a
passos tão
amorosamente
apressados que
adentrou a
esfera do
Cristo...
Há outra
dimensão de
Francisco que
nos toca a alma,
como um poema
bucólico: a
conexão de
Francisco com a
Terra Mãe, que
os gregos diziam
Gaia,
organismo vivo.
Sua atitude
desapegada e
respeitosa pela
teia da vida,
deslumbrado com
uma plantinha, o
“irmão rio”, um
bando de
passarinhos em
revoada... Ah!,
irmão Sol, “que
clareia o dia e
com sua luz nos
ilumina” (3).
Com essa alegre
convivência,
Francisco
agregou ao seu
Ser a ventura da
relação amorosa
e humilde com a
escuta da terra,
do céu, das
plantas, dos
animais, dos
filhos e das
filhas de Deus
consoante um
seminal encontro
com todos os
seres que
habitam a mesma
Terra − nosso
ethos, nossa
morada...
Mas há uma
categoria em
Francisco que
faz estremecer o
coração: a
pobreza de
Francisco, que
ensina que
quanto mais uma
pessoa dá, mais
humanidade ela
tem e, por isso,
mais compassiva
se torna, pois
desenvolve a
competência de
sentir com o
outro,
solidarizando-se.
A vida de
Francisco é a da
grandeza de
alma. Ele
tornou-se santo
à medida que
entendeu que a
santidade não é
privilégio, mas
responsabilidade
e conquista –
conquista do
processo da
travessia das
sombras e da
florescência do
amor e de todas
as demais
virtudes, que
não temem o
diálogo e a
concórdia...
Profundamente
servo,
genuinamente
livre, poeta da
natureza, irmão
dos seus irmãos,
sublime
instrumento da
paz.
Vasta é a vida e
bendita é a
vida, diria
Francisco. Não
vá por aí,
cantaria ele,
movido por sua
assistência
desinteressada.
Segue o coração,
pois nele dorme
o seu tesouro.
Desperta! Olha o
Sol e agradece a
irmã Lua, um
presente da
Criação. Confia,
pois há sem
cessar
oportunidade
para o perdão.
Estala o coração
endurecido, pois
o amor é semente
que quer
germinar e curar
tudo que sofre;
então, serve a
Deus, serve à
luz que reside
no seu Ser à
espera de um
futuro girassol.
Ah, Francisco!,
como nos
esclareceu o
Consolador
Prometido, cedo
ou tarde,
fatalmente
aprenderemos com
o nosso coração
aceso a rogar o
seu pedido:
Grande Artífice
da Verdade!
...aqui estamos
nesta casa do
teu coração,
como sermos
penitentes em
busca da
perfeição,
e queremos
encontrar os
meios,
que nos fogem da
razão.
E em paz, como
tu, rogaremos: “Abençoa-nos
todos, os nossos
familiares, a
humanidade
inteira, os
pássaros, os
peixes, os
animais e a
Terra em que
vivemos."
(4)
Bibliografia:
(1) LELOUP,
Jean-Yves, BOFF,
Leonardo.
Terapeutas do
deserto: de
Fílon de
Alexandria e
Francisco de
Assis a Graf
Dürckheim.
Lise M. Alves de
Lima (Org.).
Tradução Pierre
Weil.
Petrópolis, RJ:
Vozes, 1997, p.
71.
(2) VIEIRA,
Padre Antônio.
Sermão das
Chagas de São
Francisco.
(3) ASSIS,
Francisco de.
Cântico do Irmão
Sol (também
conhecido como
Cântico das
Criaturas –
Laudes
Criaturarum).
(4) Idem.
Pedimos-te.