Ao tecermos estes
comentários sobre o
livro Fundação
"Emmanuel”, não nos
move outro propósito
além daquele de promover
uma discussão sadia, a
fim de que possam ser
esclarecidos pontos um
tanto obscuros e outros
que não nos pareceram
consentâneos com a
Doutrina codificada por
Kardec, deixando claro
que discutimos idéias e
não pessoas.
Para maior facilidade e
fidelidade,
transcreveremos os
trechos em estudo em
negrito, seguindo-se
os comentários em letra
comum. Como os trechos
já estão em negrito,
não os colocamos entre
aspas, deixando-as para
usar onde o Autor as
usou.
— Então, – indaguei –,
existem demônios?
— Não, na acepção da
palavra... Deus é único
e, no final, a Luz há de
prevalecer sempre. No
entanto, devemos admitir
que, do ponto de vista
intelectual, em seu
aspecto avesso, existem
espíritos que se
confrontam com o Cristo
quase em seu nível.
— Quase em seu nível?
— Quase, Inácio... São
espíritos tão altamente
intelectualizados, que
não temos cabeça para
conceber-lhes a
existência.
— E onde vivem? Nas
adjacências do
Planeta?...
— Estão em toda parte,
mas o seu habitat
preferencial é o
interior do Orbe;
enquanto o Senhor nos
atrai para cima,
eles nos atraem
para baixo...
(26 - 27)
Sabe-se que a evolução
do Cristo está
muitíssimo acima de
qualquer outro Espírito
que a Terra conheceu,
logo, esses Espíritos
voltados ao mal – que
estão próximos à
evolução intelectual do
Cristo – devem estar
muitíssimo acima de
todas as grandes
inteligências que já se
encarnaram no Planeta.
— É, mas ele, Chico, não
acreditava que fosse a
reencarnação do
Codificador...
(31)
Qual a utilidade de
bater nessa tecla
desgastada, da
reencarnação de Kardec?
Que contribuição isso
traz para o
esclarecimento e
melhoria das pessoas?
— Em situações
semelhantes, ele se viu
muitas vezes, Odilon; as
propostas que o próprio
Clero lhe fez ou lhe
mandava fazer, para que
regressasse às suas
origens, ou seja, ao
seio da Santa Madre
Igreja...
— Inclusive, tentando-o
com dinheiro...
— Com muito dinheiro e
prestígio, prometendo
custear os seus estudos
na faculdade em que
desejasse se matricular,
em Belo Horizonte e,
ainda, lhe auxiliar a
família.
(35)
Em que essa afirmativa
contribui para a
edificação do leitor?
Onde os documentos ou
testemunhas que possam
comprovar acusações tão
graves? Por que
essas acusações contra a
Igreja? Que benefício
esse relato traz ao
Movimento Espírita?
— Aqueles sonetos
perfeitos e de rara
inspiração e beleza,
“escritos” por um
rapazinho que calçou o
seu primeiro par de
botinas com quase 15 de
idade...
— Doado por um padre! –
para mim, é o único
senão da história. Ora
bolas, será que em Pedro
Leopoldo não havia
ninguém que pudesse doar
um par de botinas a um
menino pobre? Tinha que
ser um padre!...
(36)
O Dr. Inácio faz sempre
questão de mostrar a sua
aversão à Igreja e aos
padres. Em que essa
“gracinha” contribui
para a difusão da nobre
mensagem espírita? Qual
a sua finalidade? Encher
páginas de livro?
As páginas mediúnicas em
questão se inspiraram
no espírito de Allan
Kardec, mas não foram
evidentemente,
inspiradas por ele.
— A mediunidade –
comentei – tem tantas
nuances!...
— Muitas, Inácio, muitas
nuances que carecem ser
levadas em consideração
no estudo do fenômeno.
(38)
É um tanto complicada
essa questão de se
inspirar no Espírito de
Kardec. Parece vontade
de confundir as coisas.
Se um Espírito se
inspirou nos
ensinamentos de Kardec e
fez com que a mensagem
fosse atribuída a ele,
trata-se de
mistificação. Se o
médium se inspirou, e
deu a público como se
fosse Kardec, foi
animismo. Não se trata,
portanto, de nuance
mediúnica.
— Exatamente. Os que
correram os olhos mais
detidamente sobre o
livro “Paulo e
Estevão”...
— Uma obra prima da
literatura
espiritualista!
— ... perceberão, na
excelente narrativa de
Emmanuel, que Jesus,
redivivo, toca diversas
vezes a cabeça do
ex-doutor do Sinédrio,
que, num átimo, se
converte...
— A súbita conversão de
Paulo sempre intrigou!
Ele não poderia se
tornar um outro homem,
apenas pela visão ao
Cristo Ressurrecto...
(39)
A referência não confere
com o que está no famoso
livro de Emmanuel, que
registra o seguinte: “o
Mestre tocou-lhe os
ombros com infinita
ternura, dizendo, com
inflexão paternal: — Não
recalcitres contra os
aguilhões!...”
Seria até irrelevante o
fato de haver equívoco
na referência ao local
do toque de Jesus, não
fosse o aspecto
milagroso atribuído
ao acontecimento:
Jesus, redivivo, toca
diversas vezes a cabeça
do ex-doutor do
Sinédrio, que, num
átimo, se converte.
Diante do relato,
poder-se-ia concluir que
a conversão de Saulo não
se deu por decisão
própria, mas porque fora
‘tocado pela graça’, o
que contraria
frontalmente os
ensinamentos espíritas.
Não se nega o efeito
benfazejo da presença do
Mestre, mas a decisão
coube a Saulo, mesmo
porque, seria de se
perguntar por que Jesus
não convertera os
soldados que o
crucificaram.
— Sem a intervenção
direta do Cristo, um
espírito não logra
cumprir a missão que
Chico Xavier cumpriu
sobre a Terra.
– Ah! – exclamei, com
sinceridade –, como
anelaria que Jesus me
tocasse a cabeça com
suas Divinas Mãos...
(40)
Será que o Dr. Inácio
está querendo dizer que
Chico Xavier foi
“agraciado” com uma
prerrogativa especial?
Teria ele sido escolhido
para a missão, não pelos
seus valores
espirituais, mas pela
possibilidade de receber
a intervenção
direta do Cristo? O
Autor parece não fazer
distinção entre
intervenção de ajuda, de
amparo e interveniência
no livre-arbítrio de um
Espírito. Se o Mestre
mudasse milagrosamente
as pessoas, teria mudado
Pedro, que não o teria
negado. Teria
transformado também a
Judas, mas, um Espírito,
quanto mais evoluído,
tanto mais respeita o
livre-arbítrio do
próximo.
— O personalismo campeia
entre médiuns e
dirigentes...
— Necessitamos de rever
a proposta de
Unificação; o homem
ainda não sabe ocupar
qualquer condição de
liderança, sem que o
cargo lhe suba à cabeça.
(42)
Depois de atacar
espíritas e médiuns em
outras obras, agora
ataca a Unificação.
Ataca essa realização
gigantesca, que não
encontra similar no
mundo. Unificação que
foi conseguida
exatamente porque nela,
o amor à causa superou
as posições pessoais,
graças à compreensão dos
abnegados espíritas que
a ela se dedicaram e se
dedicam com denodo, por
amor à Verdade. Esse
Movimento sui generis
causa admiração a todo
aquele que o observa,
seja do ângulo
teológico, seja do
sociológico, como um
fato inusitado na
História: Uma comunidade
religiosa que se une em
torno de uma Doutrina,
em âmbito nacional, sem
que ninguém tenha
autoridade religiosa ou
poder decisório sobre os
demais. É a verdadeira
realização da religião
ensinada e exemplificada
pelo Cristo, que se
concretiza através do
Espiritismo.
— Os centros espíritas
devem guardar a sua
independência; cooperar,
sim, e sempre com toda
iniciativa geral de
caráter doutrinário, mas
não se submeterem...
— A situação é delicada,
Inácio. Em seu processo
de hierarquização, foi
que o Catolicismo
começou a se perder. Em
nosso meio, a liderança
deve ser espontânea.
(42 - 43)
É de se perguntar a que
vem esse conselho
extemporâneo aos centros
espíritas, no sentido de
não se submeterem. Não
se submeterem a que ou a
quem? Novamente, a
confusão intencional
entre esforço de
unificação e processo de
hierarquização.
Trata-se de um plano
ardilosamente preparado
para desestruturar a
Unificação do
Espiritismo, que vem
sendo habilmente posto
em prática, através de
uma pregação baseada em
pressupostos falsos.
Àquilo que os mal
intencionados chamam
processo de
hierarquização, os bem
intencionados chamam de
nobre esforço de
trabalho conjunto.
— Os espíritos que
integram a Fundação
“Emmanuel” sempre se
comunicam, usando o seu
nome?
— Quando o médium lhes
fornece abertura e se
liberta de qualquer
fixação mental, no que
tange à identidade do
comunicante, se lhes
amplia o leque de
possibilidades junto ao
medianeiro.
— Quer dizer que a
questão da identidade do
espírito comunicante...
— Está mais afeta ao
médium do que
propriamente ao
espírito, o qual, em
última análise, se
preocupa com a
transmissão de suas
idéias.
(85)
Realmente, aprende-se
com Kardec que não se
deve valorizar uma
mensagem pelo simples
fato de ter sido
assinada por alguém de
nome ilustre, mas sim
pelo seu conteúdo.
Mas, ficar ao arbítrio
do médium o uso do nome
de um Espírito como
Emmanuel...
— Por aqui também,
Doutor, eles se
reproduzem...
— Os gatos?! – indaguei,
agradavelmente surpreso,
olhando de soslaio para
Odilon.
— Os gatos, os pássaros,
as flores...
— Esse assunto de
reprodução, depois da
morte, é um dos
que mais me
interessam – observei. —
Quer dizer...
— ... que a Vida, em
qualquer dimensão em que
se manifeste, prossegue
inalterável,
sublimando-se sempre.
(97)
É interessante notar que
o próprio Dr. Inácio, no
livro “Na próxima
Dimensão” (214 - 215),
relata que vira uma
espécie de rouxinol
chocando, e, nesse
momento, toma
conhecimento do
nascimento de crianças
no Mundo Espiritual
(sic). Agora, neste
livro, demonstra
surpresa ante a
reprodução de gatos...
Se essa reprodução fosse
real, como o Dr. Inácio,
depois de dezoito anos
no Mundo Espiritual,
sendo diretor de um
hospital, ainda não
soubesse disso?
Confesso-lhes que eu não
conseguia tirar os olhos
do ventre daquela menina
que me passou a inspirar
enorme simpatia.
— O senhor quer
tocar-lhe o abdômen,
Doutor? Érica não se
importa e Gustavo não é
ciumento.
Eu estava tão absorto e
encantado, que mal pude
atinar com a espirituosa
brincadeira de
Ferdinando. Como se
aquela garota, que mais
me parecia uma boneca
falante de tão bela,
fosse a filha que eu
nunca pude ter,
apalpei-lhe
carinhosamente o ventre
e, pasmem, a criança deu
sinal de vida sob a
minha mão... Os meus
olhos se encheram de
lágrimas e, notando
minha forte emoção,
Érica, que conseguia ser
menor do que eu, ficou
na ponta dos pés e me
osculou a face.
— Você está realmente
grávida concluí e isso,
minha filha, será um
problema!
— Um problema para nós,
isto é, para mim e para
o Gustavo?
— Não – respondi –; para
os nossos irmãos na
Terra!... A turma por
lá...
— Eu sei, Doutor, é
preconceituosa...
— Se fosse só uma
questão de preconceitos,
a questão não seria tão
grave assim. É mais
sério, porque se trata
de ignorância mesmo! (98
- 99)
Quando André Luiz
começou a fazer aquelas
revelações
extraordinárias,
principiando pelo livro
“Nosso Lar”, não se
preocupou com a
repercussão que a obra
provocaria na Terra:
tinha a segurança
própria dos que detêm a
Verdade. O Dr. Inácio,
repetidamente, manifesta
sua preocupação com o
que os espíritas estão
dizendo ou irão dizer
daquilo que ele
revela... E tacha a
todos aqueles que não
aceitam as suas
“revelações” de
preconceituosos e de
ignorantes!
Quando, através de Chico
Xavier, André Luiz se
referiu com palavras
menos fraternas àqueles
que não aceitaram de
imediato suas
revelações?
— Para quando será a
criança, minha filha? –
questionei.
— Dentro de uma semana,
completarei os cinco
meses...
— Faltam três, para
oito...
— Não, doutor, o nosso
tempo de gestação é
menor – se passar da
data, não será muito.
— E de onde vem esse
menino? – criei coragem
e formulei a pergunta
que mais me intrigava.
Mas, antes que um dos
dois, ou o próprio
Ferdinando, me
respondesse, me virei
para os amigos, que se
mantinham em silêncio, e
reclamei: — Vocês vão me
deixar sozinho nesta?...
(100)
Será que o Dr. Inácio
não sabe que uma
gestação normal dura
nove e não oito meses?
Através de seus livros,
pretende fazer
revelações, mas será que
essas novidades
também são novas na
Colônia Espiritual onde
estagia? Se isso fosse
real, seria possível que
ele, diretor de hospital
psiquiátrico, não
soubesse – depois de
dezoito anos de
desencarnado – de onde
viriam os espíritos para
essas encarnações
espirituais?
— É o bisavô de Gustavo
que está reencarnando
– disse a jovem às
vésperas de ser mamãe. —
Ele reside em Plano
Espiritual mais elevado,
e cremos que, talvez, se
não tivéssemos
desencarnado, fosse
estar conosco na
Terra... Muitos
necessitam dele por
aqui...
— Acreditamos, Doutor,
que seu próximo passo
será mesmo voltar ao
convívio de nossos
familiares no mundo –
observou o futuro
genitor.
— O espírito, quando
pretende se demorar em
determinada dimensão
espiritual, inferior à
que esteja presentemente
habitando, necessita
ganhar corpo – elucidou
Ferdinando, resumindo: —
Para cima, ele
tem que perder, para
baixo, ele tem que
ganhar...
(100 - 101)
Importa notar que aqui
fica claro que um
Espírito superior, para
permanecer nessa
colônia, deveria
ganhar corpo, ou
seja sofrer um processo
semelhante à
reencarnação terrena.
Logo, não passariam por
esse processo Espíritos
inferiores.
— Quer dizer, então, que
aqui só nascem – ou
renascem – espíritos de
maior elevação?
— No plano em que
estagiamos, ainda não.
— Por favor, Ferdinando,
seja mais claro –
solicitei.
— Não é tão simples
traduzir isto em
palavras, porém vamos
tentar. É que, além das
dimensões espirituais
que se nos localizam
acima e aquelas que
se nos posicionam
abaixo...
— O próprio Umbral, a
Crosta, as Trevas, o
Abismo...
— Sim, além das
mencionadas pelo senhor,
existem as dimensões
paralelas...
(100 – 101)
Há uma flagrante
contradição nessa
pretensa revelação de
encarnações
espirituais,
pois agora não fala mais
em dimensões acima,
mas paralelas...
Essa gravidez no Mundo
Espiritual, já
revelada na obra
“Na Próxima Dimensão” é
tão absurda que nem
merece mais comentários.
Parece até que o Dr.
Inácio está querendo
testar o nível de
conhecimento doutrinário
dos espíritas, para não
dizer o nível de
bom-senso.
— Estou aqui com um
exemplar do “Resenha
Espírita da Crosta”, nas
mãos...
— Como?! – interpelei,
admirado.
— Um periódico espírita
com notícias da Terra e,
em especial, do
Movimento Espírita no
Brasil.
— Impresso onde?
— Na “Fundação”...
Circula internamente.
— Um jornal espírita no
Além, com notícias do
Aquém?...
— Do Aquém, Doutor, e do
Mais Além!
(124)
Lê-se exatamente o
contrário dessa
preocupação com o que
ocorre na Terra,
conforme o diálogo entre
André Luiz e Lísias:
“— Mas não há recurso –
indaguei – para recolher
as emissões terrestres?
— Sem dúvida que temos
elementos para fazê-lo,
em todos os Ministérios;
entretanto, no ambiente
doméstico o problema da
nossa atualidade é
essencial. A programação
do serviço necessário,
as notas da
Espiritualidade Superior
e os ensinamentos
elevados vivem, agora,
para nós outros, muito
acima de qualquer
cogitação terrestre.”
(N. L., 127)
Em “Nosso Lar” não há
interesse nem em
notícias familiares, mas
na “Fundação” há até
jornais que veiculam
falatórios terrestres...
— Dr. Inácio, por favor,
uma derradeira
pergunta...
— Pois não.
— É verdade também o que
o Resenha está
dizendo?...
— A menos que os jornais
daqui também se
equivoquem como os da
Crosta costumam se
equivocar – respondi.
— “Aos espíritas que me
criticam...” – leu o
rapaz, em voz alta.
— “...ofereço,
solenemente, uma
banana!...” – não me
esquivei de concluir, na
alusão grotesca ao gesto
feito com a mão esquerda
apoiar-se no braço
direito, tendo o
antebraço voltado para
cima com a mão fechada.
(135)
O diálogo acima se deu
no encerramento de uma
palestra que o Dr.
Inácio teria proferido
na “Fundação Emmanuel”.
No encerramento, o Dr.
Odilon, ao lado de
conceitos elevados, não
deixou de fazer uma
defesa do Dr. Inácio,
que logo depois foi
protagonista, diante de
imensa platéia, da cena
acima descrita, que
dispensa comentários...
— Então...
— Mas – justifiquei –
essa história de eu
oferecer banana aos
espíritas é antiga, tão
antiga, meu filho, que,
a estas alturas, já deve
ter virado um cacho
inteiro delas!
É evidente que, uma vez
mais, o meu propósito
era o de provocar a
descontração dos
estagiários, que ficaram
a gargalhar enquanto nos
retirávamos.
(136)
Será que o nobre
orientador de Chico
Xavier, conhecido pela
sua austeridade – não só
pelas suas páginas, mas
também pelas informações
do próprio médium – iria
emprestar seu nome a uma
Fundação onde
fosse permitida a
circulação de jornais,
revistas e panfletos que
veiculariam conteúdos
inaceitáveis até mesmo
em instituições
terrestres? Esse tipo de
imprensa e o nível do
comentário parecem mais
consentâneos com o
Umbral...
Antes que eu prossiga
com detalhes do diálogo
que travamos, apenas a
título de curiosidade,
devo esclarecer que os
quinze participantes do
grupo revelavam,
inclusive, estreita
semelhança fisionômica
com Emmanuel.
— O senhor deve estar
imaginando – disse-me
Orígenes com
espontaneidade –, como
se o meu pensamento para
ele se desnudasse: —
Emmanuéis em série, não
é, Doutor?
— É!... – respondi, sem
alternativa.
— O senhor sabe,
naturalmente, que é o
pensamento que nos
plasma a forma, não?
— Sim! –— É, então, por
esse motivo, Doutor –
prosseguiu Orígenes –,
que muitos sensitivos,
além de ‘psicografarem’
Emmanuel, chegam a
vê-lo.
— Estou...
— ... bestificado!
— Se o senhor parasse de
ler os meus pensamentos
e de se apropriar de
minha terminologia...
— ... eu agradeceria! –
emendou, desculpando-se
em seguida:
— Não leve a mal; é
involuntário... A Área
em que nos
especializamos nos deixa
de mente aguçada.
— Meu Deus, quantos
Emmanuéis! – exclamei.
— Estes são os
originais...
— Acaso existem os
falsos?!
— É claro que sim, e em
maior número. Por que o
espanto, Doutor? O
senhor, porventura, acha
que, em breve – muito
breve –, não haverão de
aparecer outros Inácios
Ferreiras operando
mediunicamente?
— Tão falsos quanto o
original! – respondi,
ainda um tanto
aparvalhado.
— Segundo levantamento
que fizemos, só no
Brasil, existem,
presentemente, mais de
cinqüenta médiuns
‘psicografando’
Emmanuel!...
— Outros tantos Andrés
Luizes, outros tantos
Irmãos X, outros tantos
Meimeis...
— Qual o seu nome, meu
filho? – continuei,
aproximando-me de um
jovem que, para mim, era
a cara de Emmanuel, o
verdadeiro. O
verdadeiro?! –
perguntava, confuso, a
mim mesmo. Que garantia
possuía , já que eu
nunca estivera, face a
face, com o
original?!...
— Emmanuel! –
respondeu-me o jovem de
belos traços romanos, a
me glosar.
— Eu agora estou falando
sério... Por favor, você
me poupe.
— O meu nome real não
diria nada ao senhor e
nem para os nossos
irmãos médiuns que me
‘recebem’...
— Mesmo assim, eu
gostaria de saber e, se
possível...
— ... com carteira de
identidade!
— Não! Todos aqui lêem
pensamentos?!
— Doutor, o meu nome é
Joaquim da Silva.
— Um “Emmanuel” que é
Joaquim!... E os demais,
como se chamam?
Um a um, foram se
apresentando:
— Carlos José! Francisco
dos Santos! Luís
Antônio! Marcus
Vinicius! Pedro de
Souza! Hermógenes
Pereira! Luciano
Alvarenga!...
Os outros nomes, tão
comuns quanto os
primeiros, poupar-me-ei
de decliná-los, em
protesto por não
encontrar, entre eles,
nenhum Inácio.
— Mas, – comecei a
questionar – como
entender-se, então...
— ... a diferença de
estilo, Doutor, do
Emmanuel de “Chico
Xavier”, dos “Emmanuéis”
de outros médiuns? –
completou Orígenes. —
O problema é que os
mensageiros, como o
senhor está podendo
constatar, estudam, já
os médiuns, não.
— Ah, isso é verdade! –
apressei-me em
concordar.
— De resto, no entanto,
o que vale é a essência
do pensamento.
— Ainda que, do ponto de
vista do estilo, a
mensagem deixe a
desejar?
— A autenticidade
doutrinária, ou seja, o
conteúdo é a
característica mais
importante. Ressaltemos,
porém, que os nossos
mensageiros são todos
instruídos no sentido de
que auxiliem o médium a
se libertar e...
— ... a independer do
nome que assume a
autoria do comunicado.
— O senhor aprende
depressa, Doutor:
conseguiu ler o meu
pensamento... Com um
pouco de treino, daria
um ótimo “Emmanuel”
(140 - 142)
Seria o caso do Doutor
Inácio, coerentemente
com o que diz, não
assinar seus livros.
Para que identidade?
Para quem conhece um
pouco da obra de Kardec
e dos Espíritos
equilibrados que se
comunicaram através de
Francisco Cândido
Xavier, de Yvonne do
Amaral Pereira, de
Divaldo Pereira Franco,
de José Raul Teixeira,
seria necessário algum
comentário sobre tudo o
que foi dito acima?
— (...) Outra
constatação digna de
nota é o fato de que
quase todos os artistas;
em todas as épocas da
Humanidade, retratarem a
Augusta Face do Senhor
de maneira praticamente
idêntica! Não se sabe de
ninguém que O tenha
retratado ao seu
tempo...
(180)
Pelo contrário, é
difícil encontrar-se
alguém que tenha sido
retratado de maneira tão
diversa quanto o Cristo!
“— Inácio, meu amigo –
dizia delicado cartão
– , eu não me esqueci
que amanhã, 15 de abril,
seria o dia de
comemorarmos o seu
aniversário. Com o meu
carinho e a minha
gratidão, Modesta”.
Logo abaixo, estava
escrito:
“– P. S. – O nome dela é
“Mimi”. Foi atropelada
ontem, quase em frente à
sua antiga residência.
Fiquei com muita pena
dela e me lembrei de
você. Só tem uma
particularidade e espero
que você não se importe:
“Mimi” está grávida!...”
— Não, não é possível! –
balbuciei, sentando-me
na cama e acariciando o
pêlo sedoso da gata.
(183)
Novamente, a gravidez no
Mundo Espiritual. Desta
vez, com a agravante de
não ter-se iniciado lá,
mas na Terra...
— Desembuche, Manoel,
antes que eu continue
dizendo e escrevendo o
que não devo...
— Dr. Inácio –
esclareceu –, quatro
padres estão à sua
espera...
— Quatro?!... Um só
já seria muito! Que
desejam? Me converter?
— Estão pedindo
permissão para uma
visita ao Hospital,
alegando que receberam
graves denúncias.
— Era o que estava me
faltando: os espíritas
ortodoxos de um lado e
os padres de outro! Isto
é um complô! Que
denúncias?...
— De que, contra a
vontade deles, estamos
mantendo católicos
internados aqui...
— E louco tem
vontade, Manoel? Por que
não se entendem com o
Carmelita?...
— Insistem em falar com
o senhor. Disseram
inclusive, com base nas
informações que
receberam, que mantemos
um arcebispo em regime
de internação
compulsória.
— Certamente estão se
referindo a A., que
acolhemos por
solicitação de sua
genitora.
— Se o senhor não os
atender, ameaçam
denunciar-nos aos órgãos
competentes; voltarão
com um mandado
judicial...
— Meu Deus!, isto aqui
está parecendo a Terra
... E eu, que tinha
esperanças de que, após
a morte, tudo se
modificasse
radicalmente!
(...)
— Queremos que o senhor
nos dê permissão para
apurar certas denúncias.
— Seja mais preciso –
solicitei.
— Sabemos que o hospital
dirigido pelo senhor
mantém aqui, contra a
sua vontade...
(...)
— Trata-se,
especificamente, de um
arcebispo da Igreja...
Poupe-nos uma ação
judicial: é verdade que
ele está internado neste
nosocômio? (186 – 189)
Deixamos de comentar os
trechos acima, remetendo
o leitor à obra de André
Luiz e de outros autores
espirituais, que nos
deram uma visão muito
diferente dos Planos
Espirituais organizados
no Bem.
Menino e Stela vinham
sendo tratados por nós
há quase cinco anos e,
quando foram
transferidos para o
hospital sob nossa
direção, o quadro que
compunham não dá para
ser descrito, sem que
nos arrisquemos a
impressionar as mentes
encarnadas ainda um
tanto despreparadas. A
entidade feminina vivia,
“literalmente”, no
estômago do seu algoz.
(210)
Mais uma vez, o Dr.
Inácio se declara
diretor do hospital...
Este é o caso de um
apaixonado que matou sua
amada e devorou-lhe as
vísceras. No Mundo
Espiritual, a infeliz
ainda “vivia” dentro
dele, sendo, mais tarde,
necessário que ele a
vomitasse.
— É, então, um
minicomputador...
— Funciona como se fosse
e é capaz de apontar,
com precisão absoluta,
desequilíbrios de risco
para o organismo.
— Como, por exemplo, a
iminência de um colapso
cardíaco, alteração da
pressão sangüínea?
— Taxas de glicose,
oscilação de
temperatura, presença de
um microorganismo
patogênico...
(226)
Essas, as possibilidades
de um aparelho que a
parturiente trazia no
braço... Haveria
necessidade de
comentários?
Como aquele tripulante
português – o senhor
conhece esta? – que,
tendo subido à torre de
observação da nau de
Pedro Álvares Cabral,
pôs-se a gritar em
desespero: — “Terra na
vista! Terra na
vista!...”
O Dr. Hernani, que
sempre apreciou uma boa
anedota, gargalhou e
perguntou:
— E daí?...
— Cabral lhe respondeu:
— “Então, desça,
infeliz, que o médico
está no convés...”
— Dr. Inácio, e no caso
não havia jeito: o
tripulante era português
mesmo, não é?
Nem o próprio Cairbar
conseguiu conter o riso.
— Mas – tomou Hernani a
palavra –, o senhor sabe
aquela do papagaio que
era médium?...
— A do papagaio
português?
— Não, este era baiano:
morava num terreiro de
macumba... Não sei se
era papagaio português
reencarnado; o senhor
sabe, a reencarnação
torna tudo possível...
Quando a coisa começou,
ou melhor, a sessão de
terreiro teve início, os
médiuns incorporaram
todos ao mesmo tempo e
era só tamborete e
tambor voando para todos
os lados... O papagaio,
coitado, mal teve tempo
de se abaixar, e um
tamborete quase lhe
decepa o pescoço. —
Currupaco! – disse ele
no poleiro. — Ainda bem
que sou médium
vidente, pois, no
caso contrário, teria
desencarnado!...
(241)
Depois de lermos as
obras edificantes de
Emmanuel, temos de ler
piadas de mau gosto num
livro que leva o seu
nome... Onde localizar
esse Espírito na “Escala
Espírita”, que Kardec
mostra em “O Livro dos
Espíritos”, a partir do
item 100?
— Meu caro Dr. Hernani –
aparteou Odilon,
aproveitando a deixa –,
o senhor não repare, se
precisamos ir; temos
ainda uma visita a ser
feita hoje...
— Que pena! – lamentou.
— Voltaremos para uma
nova sessão de piadas –
enfatizei. — Tenho
algumas para lhe contar,
mas só nós dois...
— Picantes?
— Piada espírita não tem
graça, Hernani!
(241)
Será, ainda, necessário
algum comentário?
— De que se trata? –
questionei Odilon.
— O sangue em sua roupa
é conseqüência do seu
condicionamento mental:
todo ferido sangra...
Além das fraturas, ele
deve ter tido
hemorragias internas e,
certamente, foi o que
ocasionou o seu
desenlace.
— E o líquido
avermelhado que continua
a lhe escorrer da
fronte?
— Inácio, você não
ignora que em nossas
veias alguma coisa
continua circulando, não
é? O sangue é uma
transubstanciação do
princípio vital. Para
nós, o perispírito é um
envoltório quase tão
grosseiro quanto o corpo
feito de carne...
— O perispírito
“sangra”?
(256)
Esse diálogo se dá ante
a visão de um jovem que
desencarnara em um
desastre
automobilístico.
O que causa admiração é
o fato de, depois de
dezoito anos no Mundo
Espiritual, um médico,
diretor de um hospital,
nada saber da anatomia
do perispírito...
Esconjuro-vos, ó adeptos
da ortodoxia retrógrada
de qualquer sistema
religioso vigente no
Planeta!... Afastai-vos!
Deixai “Mimi” parir em
paz!... Que tendes
contra o dom divino da
procriação em todas as
dimensões? Por que
somente vos supondes
viris o bastante para o
ato de fecundar? O que
vos leva a crer que
sejamos, após a morte,
animais, dotados ou não
de razão, anjos
destituídos de orgasmo?
Que Bastet, a deusa
egípcia dos gatos, à
qual rendo culto em
minha herança
idolátrica, se compadeça
de vossas almas
incrédulas e
pecadoras!... Vós, que
sequer sabeis onde
tendes o nariz, não
queirais intrometer-vos
no que não é da alçada
senão dos místicos e dos
poetas. Se não vos
considerais preparados
para a Grande Iniciação,
estacai vossos passos no
pórtico do templo da
Verdade! Retrocedei, ó
vós que vos apegais à
letra que mata –, mesmo
que essa letra seja a da
Codificação Espírita – ,
e não ao espírito que
vivifica. Deixai “Mimi”
parir em paz!...
(270 – 271)
Como enquadrar esse
Espírito e suas
comunicações em “O Livro
dos Médiuns”?
— Quem se sente
destituído de palavras,
nesta hora, sou eu, o
Chico que muitos de
vocês conheceram, e não
o Allan Kardec, o
apagado Professor de
outras eras, que nada
mais fez do que compilar
o ensino dos Bons
Espíritos, e, como
médium, continuou a
fazer o mesmo trabalho –
o trabalho de simples
intermediário, de
limitado intérprete do
que os Espíritos Amigos
escreveram por minhas
mãos...
(296)
As palavras acima teriam
sido proferidas durante
um pronunciamento de
Chico Xavier na Fundação
Emmanuel.
Na sua infeliz tentativa
de provar que Chico
Xavier foi a
reencarnação de Allan
Kardec, o Dr. Inácio,
contando com o
desconhecimento de
muitos espíritas a
respeito da estatura
intelectual do
Codificador, coloca
essas palavras
absurdas na boca do
Chico, através das
quais, exagerando a
humildade dele,
desmerece a ambos, ao
dizer que Allan Kardec
foi um apagado
professor. Nega,
assim, ao insigne
Codificador a condição
de brilhante educador,
de autor de planos
educacionais que lhe
valeram premiações do
governo de França, de
autor de
mais de uma
dezenas de obras
referentes aos mais
diversos campos do
saber; de homem dotado
de assombrosa
inteligência e de
cultura geral
extraordinária,
colocando-o na condição
de um simples escriba,
que teria desempenhado
um papel inteiramente
passivo, sem dar nenhuma
contribuição intelectual
nem moral à
codificação do
Espiritismo. Seria de se
perguntar por que Jesus
teria escolhido alguém
com tal capacidade (vide
“Cartas e Crônicas”,
cap. 28), para ser um
simples compilador dos
ensinamentos dos
Espíritos Superiores.
— Quem me dera encerrar
em mim tanta sabedoria e
grandeza! Tenho vindo
assim, conforme sabem
alguns, desde os tempos
da Hélade, quando,
igualmente, na humilde
condição de discípulo,
registrei
imperfeitamente para a
Humanidade as
inesquecíveis lições do
mais sábio de todos os
filósofos...
Perdoem-me a referência,
que faço com o único
propósito de que os
amigos me vejam como
realmente sou, muito
distante ainda da
posição em que me
colocam. Tanto como
Allan Kardec quanto como
Chico Xavier, eu poderia
ter feito mais, se a
minha condição humana o
tivesse permitido!
(296)
Prosseguindo na sua
tentativa de lançar a
dúvida e a confusão no
meio espírita, esse
Espírito ardiloso que se
faz passar pelo Dr.
Inácio Ferreira insinua
que Chico Xavier, além
de ter sido Allan
Kardec, foi também
Platão, apequenando a
figura do eminente
filósofo, colocando,
também ele, na condição
de simples anotador dos
ensinamentos de
Sócrates. Além do mais,
essa declaração: eu
poderia ter feito mais,
se a minha condição
humana o tivesse
permitido!
é inteiramente absurda,
diante do que se aprende
na Doutrina Espírita,
pois o Espírito
reencarna e vem dar seu
testemunho no meio
social que escolheu ou
que lhe foi destinado, o
mesmo acontecendo com a
vestimenta física de que
dispõe. Será que o Chico
teria sonhado em
desempenhar sua missão
fora da condição humana?
— Muitos não aceitam que
você é Kardec...
— E qual o problema? Já
fui, não sou mais...
Agrada-me ser Chico
Xavier, a
responsabilidade de ser
médium é grande, mas é
menor... Não é verdade,
Odilon?
— É claro, Chico!
— Deus me livre de
continuar sendo o Allan
Kardec que querem que eu
seja! E mesmo do
Francisco que fui sobrou
só o cisco!...
— Eu prefiro você como
Chico – atrevi-me a
dizer. Com o Codificador
da Doutrina, não
poderíamos ter uma
conversa tão informal
assim... Seria um
despropósito e, para
muita gente, uma
heresia.
— Foi por esse motivo
que eu pedi que ficassem
para conversar comigo:
vocês me conheceram como
eu gosto de ser e como
eu não quero deixar de
ser!
(316)
O Dr. Inácio, em quase
todos os seus livros,
faz questão de abordar
esse assunto, embora
note, ele mesmo, que se
trata de duas
personalidades
diferentes. É de se
perguntar qual a
relevância desse
assunto, ainda que fosse
verdade? Revelação sem
fundamento, de que nunca
se ocuparam os Espíritos
Superiores.
Pela insistência com que
é trazida à baila,
verifica-se que tal
abordagem tem o fim
exclusivo de causar
confusão e de distrair
os espíritas,
encaminhando-os a
discussões estéreis, que
só são úteis àqueles que
desejam desmerecer a
Doutrina Espírita.