Cada
haste de relva
tem o seu Anjo,
que se inclina
sobre ela e
sussurra:
“cresce,
cresce!”
(Talmude)
Um dos
principais
empecilhos do
materialismo
reside na
presunção de
recusar com um
olhar enviesado
o mundo
invisível. Não
é, pois, de
admirar que seus
adeptos, na
defensiva,
afirmem que
seres
espirituais,
despojados da
vida orgânica,
sejam produtos
da ficção
humana,
personagens de
lendas e
alegorias,
ignorando um
velho
ensinamento
atribuído ao
Cristo no
Evangelho de
Tomé: “O
Reino do Pai
está espalhado
sobre a Terra e
os homens não o
vêem.”
Mas, nas suas
vidas privadas e
públicas, as
pessoas de todas
as épocas
reverenciam a
existência de
anjos. E por
quê?
Faz muito tempo
que anjos são
registrados como
mensageiros
luminosos que
ajudam os
humanos a
conciliar o
mundo da vida
espiritual com o
mundo da vida
material e
cotidiana. Eles
estão presentes
nos mais
variados ritos e
religiões.
Algumas os
anunciam apenas
como um Espírito
mais iluminado e
experiente,
outras como
encarnação da
luz divina, mas,
de maneira
comum, elas se
reportam a seres
que são
superiores aos
encarnados
viventes na
Terra,
intermediários
entre o Criador
e as criaturas.
A idéia de
agentes da Ordem
soberana, cujo
rol de funções
abriga a ação de
zelar pelos
humanos com
vista à sua
evolução, é
narrada em quase
todas as
civilizações que
passaram na
Terra. Há, por
exemplo,
referências a
seres alados em
imagens
esculpidas na
Mesopotâmia que
datam 4.500 a.C.
Anjos ou seres
semelhantes
habitam o mundo
egípcio, a
mitologia grega,
o panteão
romano, os
escritos de
Zoroastro, o
Hinduísmo, o
Islamismo, os
textos judaicos,
a tradição
cristã, o mundo
oriental, as
florestas
tropicais,
açambarcando as
diferentes
regiões da
Terra.
A palavra
anjo vem do
grego ággelos
e significa
mensageiro. Este
termo foi
traduzido do
hebraico
malakl, no
século II a.C.,
para o grego e é
basicamente o
mesmo que a
palavra mala’ika,
o vocábulo usado
pelo Islamismo
para denominar
anjo. Então,
embora povos e
religiões tratem
de maneira
distinta os
anjos, ambos
acreditam que
eles são
mensageiros
e, por isso,
dispõem de uma
habilidade para
mediar a relação
entre os humanos
e o Criador, à
medida que
inspiram o ser
humano para a
prática do bem e
do amor, sem
considerar
outras funções.
A Doutrina
Espírita, embora
concorde com a
crença universal
dos povos no que
se refere à
existência dos
anjos,
constitui-se de
aspectos
singulares
revelados a
Kardec e por ele
desenvolvidos no
capítulo VIII,
na sua obra O
Céu e o Inferno.
Dessa forma,
após apresentar
“Os anjos
segundo a Igreja”,
o codificador
formula sua “Refutação”,
demonstrando as
principais
divergências
entre a Igreja
Católica e a
Revelação
Espírita no que
toca ao
entendimento
sobre os anjos.
Finalmente, ele
faz a abordagem
dos anjos
segundo o
Espiritismo.
Neste tópico,
ele afirma:
Que haja seres
dotados de todas
as qualidades
atribuídas aos
anjos, não
restam dúvidas.
A revelação
espírita neste
ponto confirma a
crença de todos
os povos,
fazendo-nos
conhecer ao
mesmo tempo a
origem e
natureza de tais
seres.
(1)
Kardec prossegue
e se ocupa do
encargo de
esclarecer a
origem da alma,
nascida
ignorante, e os
quesitos para
que atinja o
grau supremo da
perfeição,
tornando-se um
puro Espírito ou
anjo:
As almas ou
Espíritos são
criados simples
e ignorantes,
isto é, sem
conhecimentos
nem consciência
do bem e do mal,
porém, aptos
para adquirir o
que lhes falta.
O trabalho é o
meio de
aquisição, e o
fim – que é a
perfeição – é
para todos o
mesmo.
Conseguem-no
mais ou menos
prontamente em
virtude do livre
arbítrio e na
razão direta dos
seus esforços;
todos têm os
mesmos degraus a
franquear, o
mesmo trabalho a
concluir. Deus
não aquinhoa
melhor uns do
que a outros,
porquanto é
justo, e, visto
serem todos seus
filhos, não tem
predileções.
(2)
Dessa maneira, é
possível
asseverar que
Kardec, em
conformidade com
os princípios da
Doutrina, nega a
possibilidade de
Deus ter criado
seres desde
sempre
detentores do
título de puros
e privilegiados.
Pelo contrário,
tal condição
depende do
mérito
individual
adquirido pelo
Espírito durante
a sua jornada
evolutiva rumo à
perfeição, que
pode ser
alcançada de
maneira breve ou
longa, de acordo
com a
manifestação de
uma vontade
firme ou fraca
em prol de tal
objetivo. Nesse
encalço, ele
sustenta:
Os anjos são,
pois, as almas
dos homens
chegados ao grau
de perfeição que
a criatura
comporta,
fruindo em sua
plenitude a
prometida
felicidade.
Antes, porém, de
atingir o grau
supremo, gozam
de felicidade
relativa ao seu
adiantamento,
felicidade que
consiste não na
ociosidade, mas
nas funções que
a Deus apraz
confiar-lhes, e
por cujo
desempenho se
sentem ditosas,
tendo ainda nele
um meio de
progresso.
(3)
A Doutrina
Espírita
ratifica a
existência dos
anjos, crença
comum no seio
das civilizações
da Terra,
contudo,
inaugura, a seu
turno, o
princípio da
igualdade com
que Deus tinge
todo Espírito ao
criá-lo, uma vez
que o abastece
das mesmas
qualificações
para chegar à
finalidade
inscrita em sua
consciência: a
suprema
perfeição e, por
isso, a posição
de anjo, agente
puro da
Providência.
Vejamos a
ponderação de
Kardec:
Realiza-se assim
a grande lei de
unidade da
Criação; Deus
nunca esteve
inativo e sempre
teve puros
Espíritos,
experimentados e
esclarecidos,
para transmissão
de suas ordens e
direção do
Universo, desde
o governo dos
mundos até os
mais ínfimos
detalhes.
Tampouco teve
Deus necessidade
de criar seres
privilegiados,
isentos de
obrigações;
todos, antigos e
novos,
adquiriram suas
posições na luta
e por mérito
próprio; todos,
enfim, são
filhos de suas
obras.
E, desse modo,
completa-se com
igualdade a
soberana justiça
do Criador.
(4)
Além disso, com
o objetivo de
elucidar a
temática
relativa ao anjo
guardião, na
questão 489 de
O Livro dos
Espíritos
(5), Kardec
formula a
seguinte
questão: “Há
Espíritos que se
ligam a um
indivíduo, em
particular, para
o proteger?” E
obtém a seguinte
resposta: “–
Sim, o irmão
espiritual; é o
que chamais o
bom espírito ou
bom gênio.”
Minucioso, na
questão
seguinte, Kardec
inquire: “Que se
deve entender
por anjo da
guarda?” “– O
Espírito
protetor de uma
ordem elevada.”
O codificador,
para evitar
ambigüidades,
procura também,
por meio da
pergunta 491,
indagar sobre a
função do anjo
da guarda em
relação ao seu
tutelado. Desse
modo, dispõe de
uma resposta que
nos explica que
o Espírito
protetor tem a
sublime tarefa
de conduzir seu
tutelado “pelo
bom caminho,
ajudá-lo com os
seus conselhos,
consolá-lo nas
suas aflições,
sustentar sua
coragem nas
provas da vida.”
Ainda, da
leitura da
resposta dada à
questão 492
ficamos cientes
de que o
Espírito
protetor é
ligado ao
indivíduo desde
o nascimento até
a morte, “e
freqüentemente o
segue depois da
morte, na vida
espírita, e
mesmo através de
numerosas
existências
corpóreas,
porque essas
existências não
são mais do que
fases bem curtas
na vida do
Espírito.”
Ora, enquanto as
religiões falam
em mensageiros
já criados
superiores à
Humanidade,
enquanto a
mitologia fala
em símbolos, a
ciência, de
maneira geral,
argumenta na
base de
expressões do
subconsciente e
do plano
imaginal, o
espírita pode,
na persecução do
seu crescimento
íntimo, procurar
estreitar os
laços de afeto
com seu anjo
guardião, seu
fiel amigo para
um rico
desempenho na
sua passagem na
Terra.
No espaço da
serenidade
interior será
possível, junto
a esse amigo de
prontidão,
encontrar chaves
perdidas e
recursos para o
aprendizado do
ser e do
conviver... Caso
haja o cultivo
dessa relação de
atenção e de
amizade, as boas
instruções
poderão surgir
em sonhos, na
meditação,
durante a prece
e em tantas
outras situações
da existência,
que têm como
meta a
desenvoltura das
virtudes e do
exercício do
bem, segundo uma
boa arte de
viver, que
solicita
vontade,
discernimento,
alegria e
esperança. Ora,
Deus, nosso Pai,
nos concedeu um
Espírito
protetor para
que o nosso
florescimento
evolutivo fosse
bem orientado –
saibamos,
portanto,
desfrutar desse
precioso auxílio
em todas as
horas: nas
difíceis e nas
serenas, pois o
anjo guardião
está sempre ao
nosso lado.
Bibliografia:
(1) KARDEC,
Allan. O céu
e o inferno ou a
Justiça Divina
segundo o
Espiritismo:
exame comparado
das doutrinas
sobre a passagem
da vida corporal
à vida
espiritual.
Tradução de
Manuel J.
Quintão. 43 ed.
Rio de Janeiro:
FEB, 1998, p.
112.
(2) Op. cit.,
p. 113.
(3) Op. cit.,
p. 113.
(4) Op. cit.,
p. 114.
(5) KARDEC,
Allan.
O Livro dos
Espíritos.
Tradução de J.
Herculano Pires.
São Paulo: FEESP,
1997, p. 215.