EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Os pais e o
benefício
da
esperança
Qual deveria ser
a atitude dos
pais em relação
aos seus filhos?
Ao pensar nesta
pergunta, passei
a escrever e
deixei a
inspiração
balizar o
seguinte
impulso:
“Escreva!“ Não
tenho outra
alternativa.
Obedeço.
E eu não tinha
intenção alguma
de escrever
sobre o papel
dos pais em
relação às suas
crianças. Mas,
de repente,
veio-me à mente
que as
sociedades
humanas projetam
o melhor e o
pior de si
mesmas na
educação dos
seus filhos.
Dessa maneira,
não há como
escapar da
sensata
afirmativa de
Goethe: “só
teremos filhos
educados, quando
tivermos pais
educados”.
Aí a questão
passou a se
movimentar por
conta própria à
procura de
respostas.
Pensei na minha
condição de
filho-criança, o
que fez levitar
o conselho de
Rousseau:
“Não se pensa
senão em
conservar a
criança; não
basta;
deve-se-lhe
ensinar a
conservar-se em
sendo homem, a
suportar os
golpes da sorte,
a enfrentar a
opulência e a
miséria, a
viver, se
necessário, nos
gelos da
Islândia ou no
rochedo
escaldante de
Malta. Por
maiores
precauções que
tomeis para que
não morra, terá
contudo que
morrer. E ainda
que sua morte
não fosse obra
de vossos
cuidados, ainda
assim estes
seriam mal
entendidos.
Trata-se menos
de impedi-la de
morrer que de
fazê-la viver.
Viver não é
respirar, é
agir; é fazer
uso de nossos
órgãos, de
nossos sentidos,
de nossas
faculdades, de
todas as partes
de nós mesmos
que nos dão o
sentimento de
nossa
existência. O
homem que mais
vive não é
aquele que conta
maior número de
anos e sim o que
mais sente a
vida”.
(1)
Resguardado
ainda na memória
de
filho-criança,
vem à tona a
palavra “ninho”,
que bem traduz a
ambiência da
família. Não
pude, desse
modo, escapar à
assertiva de
Emmanuel, o
mentor de
Francisco C.
Xavier:
“É impossível
auxiliar o
mundo, quando
ainda não
conseguimos ser
úteis nem mesmo
a uma casa
pequena – aquela
em que a Vontade
do Pai nos
situou, a título
precário”.
(2)
Ninho, família,
educação são
profundamente
identificados se
articulados às
necessidades do
filho-criança.
Por isso, há
razão nos
antigos quando
eles nos revelam
uma cilada
contemporânea,
que teima em
crer que
educação se
resume à
instrução formal
(a vida escolar,
fadada ao
vestibular).
Ora, eles,
preocupados com
a formação do
ser e, em
conseqüência,
com a conquista
das virtudes,
ensinam que a
educação retém,
essencialmente,
o sentido de
alimento, pois
fundamental é o
sabor das
primeiras
nutrições para a
criatura que
deve crescer não
somente em
estatura, mas
também em
qualidade de
alma: de ser
humano que tem o
propósito de
servir a si
mesma e à
sociedade.
Com isso, advém
uma velha
pergunta
filosófica,
sempre
instigante e
muito atual: o
que torna o
homem humano? Ou
seja: que homem
educar e para
qual sociedade?
A motivação
filosófica
dessas questões
assinala uma
trilha para uma
sincera “paidéia”,
que na expressão
grega implica
uma meta
cultural como
“princípio
formativo”, à
medida que
reclama uma
educação
integral –
física,
estética, moral,
política e
religiosa.
Dessa maneira,
como observador
do
filho-criança,
suspeito que os
pais devem
preparar o
terreno da
criatura para
que ela passe a
dispor de um
acervo apto a
orientar a
germinação (e
crescimento) dos
seus talentos e
potências. Logo,
na infância,
tempo no qual o
brinquedo tem
serventia e os
valores e
sentimentos
devem ser
incentivados, o
indivíduo
precisa receber
os primeiros
princípios,
regidos pela
afetividade,
para que, mais
tarde, seja
capaz de
enfrentar, no
momento do
balanço de sua
existência, duas
perguntas
importantes,
referendadas
pelo educador
Roberto Crema:
“Você foi
você mesmo? O
que fez com os
talentos que lhe
confiamos?”
(3)
Desse modo, no
caso
contemporâneo,
pai e mãe se
transformam em
guias e dão
exemplos por
meio de seus
comportamentos e
atitudes, o que
pressupõe,
necessariamente,
a integração
neles próprios
dos princípios,
valores e
sentimentos que
recomendam.
Ora, a atividade
educativa é
facilitar a cada
um a
possibilidade de
se desenvolver a
partir do foco
da sua vocação,
sem
desconsiderar a
condição humana,
que deve dar
impulso a uma
prática
exercitada pelos
pais (os
primeiros guias)
irrigada pela
esperança, pois
esta última
participa da
natureza humana
e é um tempero
indispensável
para a
orientação de um
ser que retorna
ao cenário da
Terra inacabado,
mas predisposto
a movimentar-se,
pois em busca, e
desse modo,
esperançado.
E a vocação à
qual me reporto
contém a
pergunta
ordinária – “o
que você vai ser
quando
crescer?”,
estribada na
utilidade
social, mas
não somente
ela... A
vocação,
enquanto chamado
do ser,
canaliza,
segundo os
ditames do
programa
reencarnatório
de cada
indivíduo, o
hábito da
curiosidade
histórica, do
dinâmico ofício
de viver e
conviver, que
são exigentes da
alegria, da paz,
do respeito pela
natureza, da
compaixão, da
arte do “vigiai
e orai”, do
cântico
silencioso da
humildade, da
tolerância, do
perdão, dos
sonhos que fazem
voar e querer
aprender sempre,
pois há em todo
ser humano uma
determinante
evolutiva – e
ela orienta o
passo para o
encontro, um
dia, da
felicidade pura.
Mas, enquanto o
mundo feliz não
chega, penso na
importância da
bênção da
esperança dada
pelo meu pai
antes do meu
adormecer
e a transcrevo
por respeito e
gratidão:
“– Meus desejos
não são teus
desejos e por
isso te desejo
boa vontade,
alegria e bem.
Por isto, meu
filho, que Deus
te abençoe e te
guarde para que
possa ser o que
Ele confia que
possa ser. Assim
seja!”
Bibliografia:
(1)ROUSSEAU,
Jean-Jacques.
Emílio ou Da
Educação.
São Paulo:
Difusão Européia
do Livro, 1968,
apud
GADOTTI, M.
História das
idéias
pedagógicas.
São Paulo:
Ática, 2006, p.
97.
(2) EMMANUEL
(psicografia de
Francisco C.
Xavier). Pão
nosso. 28
ed. Rio de
Janeiro:
Federação
Espírita
Brasileira,
2006, p. 249.
(3) WEIL, P.,
LELOUP,
Jean-Yves,
CREMA, Roberto.
Normose: a
patologia da
normalidade.
Campinas: Verus
Editora, 2003,
p.141.