LEONARDO MACHADO
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Recife, Pernambuco (Brasil)
Sócrates e o
Mestre Jesus
O homem,
acostumado com
as sombras, não
pode conhecer,
abruptamente, a
luz, pois que,
assim, o brilho
da mesma
ofuscar-lhe-á os
olhos. Para se
adaptar a ela,
portanto, faz-se
necessário que,
paulatinamente,
ele vá
entrevendo os
raios de luz
para que a sua
pupila, através
de reflexos
naturais, possa
ir se adaptando
e a sua retina
não sofra
prejuízos
maiores.
Se isso é
verossímil para
a luz,
igualmente o é
para a verdade!
“A verdade é
como a luz: o
homem precisa
habituar-se a
ela, pouco a
pouco; do
contrário, fica
deslumbrado”.
Por isso,
“importa que
cada coisa venha
ao seu tempo”.
Desse modo, em
todas as épocas,
hão surgido
diversos
Espíritos com a
missão de
revelar
parcelas, sempre
crescentes,
dessa verdade
universal, que,
em essência,
nada mais é do
que a Lei de
Deus em todo o
seu esplendor.
Na realidade,
essas Leis do
Pai, segundo a
Doutrina
Espírita, estão
inscritas “na
consciência dos
homens”. Mas
esses as
ignoraram e as
desprezaram,
querendo o
Criado, desse
modo, que Elas
fossem
relembradas
através de
diversos
mensageiros
seus.
Eis porque
Albert Einstein
tinha razão ao
afirmar que
tinha “como
verdade que o
puro raciocínio
pode atingir a
realidade
segundo o sonho
dos antigos”
,
já que “todos os
que meditaram
sobre a
sabedoria hão
podido
compreender a
Lei e
ensiná-la”.
Notadamente, sem
dúvida, foi
Jesus quem teve
papel de
destaque na
revelação das
essências
universais, eis
porque é o
Mestre dos
mestres, o Guia
e o Modelo para
toda a
humanidade,
uma vez que,
consoante às
anotações de
Emmanuel, sob a
Sua orientação
misericordiosa e
sábia,
“laboravam na
Terra numerosas
assembléias de
operário
espirituais”
,
e vieram
diversos
mensageiros
seus, os
missionários de
Deus.
Nesse sentido, a
idéia do
Cristianismo
“foi pressentida
muitos séculos
antes de Jesus e
dos essênios,
tendo por
principais
precursores
Sócrates e
Platão”.
Sócrates é,
pois, apontado
por Allan Kardec
como sendo o
principal
precursor de
Jesus. E não
são, somente, os
seus
ensinamentos que
se assemelham
com os do
Cristo, como
veremos no
decorrer deste
livro, mas
também a sua
vida. Em
diversos pontos,
a trajetória do
sábio grego nos
lembra o caminho
trilhado pelo
Messias.
Emmanuel, mesmo,
chega a dizer
que “sua
existência, em
algumas
circunstâncias,
aproxima-se da
exemplificação
do próprio
Cristo”.
Se não,
vejamos...
Sócrates seria a
figura central
na história da
filosofia. Para
tanto, não quis
ele vir a Terra
através de uma
família rica e
de um berço de
ouro. Antes,
tivera na
humildade de sua
mãe, Fenáreta,
que era
parteira, e de
seu pai,
Sofrônico, que
era escultor, o
local ideal para
o seu
nascimento.
Jesus seria o
Rei de todos os
reis da
humanidade. Para
a sua vinda,
contudo, ao
invés dos
palácios,
escolheu
encarnar ao lado
de seres
simples, como os
animais, na
simplicidade de
uma manjedoura,
no interior de
um estábulo,
escolhendo,
ainda, como seus
pais terrenos,
dois seres
simples: José,
que era
carpinteiro, e a
suave Maria de
Nazaré.
Sócrates,
durante o seu
desenvolvimento
terrestre, não
se permitiu
ociosidade. E,
porque estava no
mundo, aprendeu
o ofício da
escultura com o
seu pai. Isso,
porém, não o
impossibilitou
de se dedicar à
meditação e de
se destacar por
sua inteligência
e por sua
sabedoria.
Jesus,
igualmente,
durante a
infância e a
adolescência,
aprendeu a
carpintaria com
o seu Pai, ao
mesmo tempo em
que se ia
notabilizando
pelos ensinos
que dava nos
templos da
época.
O sábio grego
“julgava que
devia servir a
pátria conforme
suas atitudes,
vivendo
justamente e
formando
cidadãos sábios,
honestos,
temperados
−
diversamente
dos
sofistas,
que agiam para o
próprio proveito
e formavam
grandes
egoístas,
capazes
unicamente de se
acometerem uns
contra os outros
e escravizar o
próximo”.
O Cristo, a seu
turno, veio ser
a luz do mundo
para formar
homens de bem,
diferentemente
de vários cegos
da época que
guiavam outros
cegos.
O filósofo
esteve ensinando
para todos e ao
lado de todos:
jovens, como
Fedro; velhos,
como Crítão;
afortunados e
aristocráticos,
como Platão;
mais simples;
àqueles que se
entregavam aos
banquetes...
sempre com a
mesma
serenidade,
profundidade,
carinho e
respeito.
O Nazareno, a
seu modo, e
ainda mais,
viera para
todos: para os
enfermos; para
os sãos; para os
jovens, como
João; para os
velhos; para os
pecadores; para
os
“endemoniados”;
para aqueles que
se entregavam
aos prazeres da
carne... sempre
com o mesmo amor
que lhe
caracterizou a
personalidade.
Sócrates nada
escrevera, ao
menos, nenhum
escrito deixara
à posteridade.
Toda a sua
doutrina se
baseou na
palavra e no
exemplo de vida
que era. Os seus
ensinos passaram
à posteridade
graças aos
escritos de seus
discípulos
diretos,
especialmente
Xenofonte e o
famoso Platão,
além de haver
outras
referências ao
sábio na obra de
Aristóteles.
Jesus, como se
sabe, do mesmo
modo, nada
deixara escrito.
A sua Doutrina
estava e está
viva através do
seu exemplo e do
seu verbo de
luz. É pelos
Evangelhos,
notadamente os
quatro mais
conhecidos e
aceitos, que se
pode saber a
palavra que Ele
veio trazer.
Era comum
Sócrates, em
algumas
ocasiões, para
se fazer mais
entendido à
respeito de
assuntos
complexos,
utilizar-se dos
mitos, que seu
discípulo Platão
tão bem soube
anotar.
De igual modo,
Jesus lançou mão
de suas
belíssimas
parábolas para
falar de
conceitos
grandiosos.
O sábio
ateniense,
diferentemente
de diversos
filósofos
anteriores e
posteriores,
nenhuma escola
fundara. Não se
conhecem, por
exemplo, as suas
palavras pelo
nome “Socraticismo”.
O Messias, de
igual modo,
nenhuma religião
criara. A Igreja
Apostólica
Romana fora obra
dos homens
posteriores a
Ele. Tanto é
assim que, nos
tempos
primeiros, os
seguidores do
Cristo eram
conhecidos,
somente, pelo
nome de “irmãos
do caminho”, não
sendo, naquela
ocasião,
chamados, como
hoje se dá, pelo
epíteto de
cristãos.
Por ensinar
verdades
libertadoras e
revolucionárias,
o grande
filósofo sofrera
incompreensões
por parte dos
dominadores da
época e fora
condenado à
morte, por
corromper a
juventude e por
proclamar
doutrinas
estranhas à
mitologia grega,
embora fosse
inocente. A
tranqüilidade
foi a tônica
maior antes de
sua partida para
a morada dos
justos.
Da mesma maneira
acontecera com
Jesus, “a quem
os fariseus
acusavam de
estar
corrompendo o
povo com os
ensinamentos que
lhe ministrava”.
Condenado à
morte,
encontrara no
gólgota o
retorno à pátria
dos que já estão
mais perto de
Deus. Tendo,
ainda, no
silêncio, no
perdão e na
brandura que lhe
eram peculiares
a resposta às
ofensas que
sofrera.
Não foi por
acaso, então,
que Sócrates
fora considerado
o ponto máximo
da filosofia da
Terra. A
respeito dele,
por exemplo,
escreve
Herculano Pires:
“Sócrates
aparece como o
delta natural de
todo o
pensamento
filosófico das
escolas
anteriores;
nele, a
filosofia se
junta, como as
águas dispersas
se reúnem para
formarem o
grande espelho
de um lago, que
reflete o céu e
a terra e guarda
em seu fundo o
resíduo de todas
as distâncias
percorridas”.
Nesse sentido,
ele fora tão
grande e tão
importante que
dividira a
história da
filosofia em
duas partes,
antes e depois
dele, eis porque
os filósofos são
considerados,
após a sua
existência, em
pré ou em
pós-socráticos.
E com maior
intensidade,
ainda, não foi
sem razão que
Jesus fora tão
grandioso que
não coubera nos
calendários da
história
terrena,
dividindo-a em
antes e em
depois Dele.
Por fim,
resta-nos
lembrar das
palavras sábias
de Kardec...
“Aos que
considerarem
esse paralelo
uma profanação e
pretendam que
não pode haver
paridade entre a
doutrina de um
pagão e a do
Cristo, diremos
que não era pagã
a de Sócrates,
pois que
objetivava
combater o
paganismo; que a
de Jesus, mais
completa e mais
depurada do que
aquela, nada tem
que perder com a
comparação; que
a grandeza da
missão divina do
Cristo não pode
ser diminuída;
que, ao demais,
trata-se de um
fato da
História, que a
ninguém será
possível
apagar.”
Desse modo, na
obscuridade que
ainda nos
encontramos,
cabe-nos olhar
para o alto e
vislumbrar, quem
sabe, estas duas
estrelas, Jesus,
a de primeira
grandeza,
Sócrates, também
de grande
brilho,
pedindo-lhes que
olhem por nós,
pequeninos
caminheiros,
ainda,
retardados “das
trevas para a
luz”.