ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Bons médiuns e
médiuns
orgulhosos
É comum ouvir-se
a expressão:
“Aquela pessoa é
um bom médium.
Tem uma
mediunidade
admirável”. Na
verdade, o que
seria um bom
médium? E qual a
definição que a
Codificação
apresenta para
qualificar um
bom médium?
Recorramos ao “O
Livro dos
Médiuns”,
exatamente no
capítulo XVI –
Médiuns
Especiais,
Segunda parte,
item 197.
No capítulo
referido, e não
exclusivamente,
pois em outros
capítulos o
assunto também é
abordado, o
Codificador
apresenta um
quadro sinótico
das diferentes
variedades de
médiuns.
Trata-se de um
quadro bastante
interessante
pela análise da
variedade
mediúnica. Com
classificação
orientada
segundo uma
descrição
explicativa de
todos os gêneros
de mediunidade,
especiais para
efeitos físicos
e intelectuais,
de médiuns
escreventes (e
aqui segundo o
modo de
execução, o
desenvolvimento
da faculdade, o
gênero e
especialidade
das
comunicações,
segundo as
qualidades
físicas e morais
do médium),
imperfeitos e,
finalmente, o
referente ao
tema separado
para a
elaboração deste
artigo, os bons
médiuns. Como
são conhecidos?
Como podemos
encontrá-los? No
referido item,
entre a citação
do Codificador,
há também
comentários dos
Espíritos Erasto
e Sócrates.
O Livro dos
Médiuns
classifica os
bons médiuns em
sérios,
modestos,
devotados e
seguros.
Para fins de
esclarecimento,
transcrevemos
abaixo a
referida
classificação,
pertinente ao
livro citado,
para uma melhor
visualização e
entendimento:
Médiuns sérios:
os que não se
servem de sua
faculdade senão
para o bem e
para as coisas
verdadeiramente
úteis; crêem
profaná-la
fazendo-a servir
à satisfação de
curiosos e de
indiferentes, ou
para
futilidades.
Médiuns
modestos: os que
não se atribuem
nenhum mérito
pelas
comunicações que
recebem, por
belas que sejam;
se consideram
como estranhos e
não se crêem ao
abrigo das
mistificações.
Longe de fugirem
aos avisos
desinteressados,
os solicitam.
Médiuns
devotados: os
que compreendem
que o verdadeiro
médium tem uma
missão a cumprir
e deve, quando
isto seja
necessário,
sacrificar seus
gostos, seus
hábitos, seus
prazeres, seu
tempo, e mesmo
seus interesses
materiais, para
o bem dos
outros.
Médiuns seguros:
os que, além da
facilidade de
execução,
merecem plena
confiança, por
seu próprio
caráter, a
natureza elevada
dos Espíritos
que os assistem,
e que são os
menos expostos a
serem enganados.
Veremos mais
tarde que esta
segurança não
depende de
nenhum modo dos
nomes mais ou
menos
respeitáveis que
os Espíritos
tomam.
(1)
Nas
considerações de
Erasto e
Sócrates, há a
valiosa
orientação de
como proceder
com aqueles que
se melindram com
críticas,
lembrando que “o
médium que
tomasse estas
reflexões por
mal provaria uma
coisa: que não é
bom médium” e
que a busca
desenfreada ou
ambição por
possuir
faculdades
excepcionais
tira-lhes a
qualidade mais
preciosa: a de
médiuns seguros,
pois que o
“estender
indefinidamente
o círculo de
suas faculdades,
é uma pretensão
orgulhosa que os
Espíritos jamais
deixam impune;
os bons
abandonam sempre
o presunçoso,
que se torna,
assim, joguete
de Espíritos
enganadores”.
O quadro
apresentado no
capítulo
referido é de
grande validade
para os
estudiosos da
Doutrina, para
os médiuns em
geral e para
aqueles que, de
uma forma ou
outra, ocupam-se
da mediunidade,
pois que esta
mesma variedade
de médiuns
apresenta graus
infinitos em sua
intensidade,
como destacado
no item 198 do
capítulo citado.
É claro que a
faculdade de um
médium não está
circunscrita
exclusivamente a
um só gênero,
pois o mesmo
médium
(repetimos, como
destaca o item
198 do capítulo
referido) pode
ter várias
aptidões, com
destaque para
aquela que
domina e para o
qual deve se
interessar em
cultivar com
mais empenho.
Ao contrário do
que se pensa, a
Codificação
ensina que é um
erro insistir no
desenvolvimento
de uma faculdade
que não se
possui. Ideal
mesmo é cultivar
aquela ou
aquelas das
quais se
reconhece o
germe em si
mesmo.
Muito útil,
portanto, que
esta variedade
mediúnica seja
conhecida,
estudada, até
por questões de
produção
mediúnica ou
utilização
planejada das
faculdades
apresentadas,
visando, é
óbvio, ao bem
das criaturas.
Por outro lado,
para efeito
comparativo, é
significativo
investigar,
didaticamente, o
lado oposto da
questão acima
apresentada. O
orgulho no
médium apresenta
características
nefastas e que
são exigentes de
atenção e
reparação para a
reprimenda de
fraudes e
desvios na
prática
doutrinária do
Espiritismo.
No capítulo XX,
Influência Moral
do Médium
(Segunda parte),
item 228, 2º
parágrafo, estão
descritas as
características
dos médiuns
orgulhosos. E,
para fins
didáticos,
vejamos: a)
confiança
absoluta na
superioridade do
que obtêm; b)
desprezo daquilo
que não vem
deles; c)
importância
irrefletida
atribuída aos
grandes nomes;
d) recusa de
conselhos; e)
tomar a mal toda
crítica; f)
distanciamento
daqueles que
podem dar avisos
desinteressados;
g) crença na sua
habilidade, são
os caracteres
dos médiuns
orgulhosos.
De outro lado,
não podemos
deixar de
considerar que
os indivíduos
são mais ou
menos médiuns e
que, muitas
vezes, o orgulho
é estimulado nos
médiuns por
aqueles que com
ele convivem,
através do
endeusamento ou
bajulações,
incoerentes com
a seriedade de
nossa Doutrina.
Nestes casos,
julgando-se
indispensável,
sempre procurado
ou louvado,
passa o médium
descuidado,
tomado pelo
orgulho e com
ares de
suficiência, a
seguir o caminho
certo para a
queda moral, em
prejuízo da
faculdade.
O Espírito
Erasto pondera
que “(...)
deve-se, pois,
podar, sem
piedade, toda
palavra, toda
frase
equivocada, e
não conservar,
do ditado, o que
a lógica não
aceita, ou o que
a Doutrina já
ensinou (...)” e
mais: “(...) o
que a razão e
bom senso
reprovam,
rejeitai
ousadamente
(...)”.
Situações
próprias do
orgulho, do
desejo de
imposição, da
ânsia de
dominação.
O desafio,
portanto, está
em ser médium
bom ao invés de
um bom médium. A
expressão “bom
médium” é muitas
vezes confundida
com a facilidade
na obtenção das
comunicações.
O estudioso
atento, todavia,
ou aquele que
deseja qualidade
no intercâmbio
com os
Espíritos,
deverá priorizar
o conteúdo da
mensagem,
analisar aquilo
que o médium
traz pela
palavra,
escrita, ações,
pois a
mediunidade em
si é neutra, mas
é muito grande a
influência moral
do médium na
produção
mediúnica que
apresenta. Daí a
classificação
apresentado por
Kardec e
comentada pelos
espíritos.
O estudo do
quadro aludido
afasta os
equívocos do
entusiasmo
precipitado de
aceitar tudo sem
análise, protege
médiuns
sinceros,
honestos e
repele com
naturalidade
aqueles que
desejam se
utilizar da
faculdade como
instrumento de
exploração
popular, por
orgulho ou
ambição.
Outrossim,
ressalta a
importância de
estudar
continuamente a
Doutrina
Espírita, fonte
inesgotável de
orientação para
médiuns,
estudiosos ou
envolvidos com a
realidade do
fenômeno
mediúnico.
Por conseqüência
natural, tal
estudo evidencia
a
responsabilidade
dos Centros
Espíritas em
oferecer
material seguro
aos médiuns, que
neles trabalham
ou a eles
procuram, para o
exercício dessa
sublime
faculdade, dada
aos homens como
instrumento de
progresso e
auxílio ao
semelhante.
Bibliografia:
(1) O Livro dos
Médiuns, IDE,
23ª edição,
1992.