WELLINGTON BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru, São Paulo (Brasil)
Kardec e as
armas de fogo
As crianças são
portadoras de
singular
espontaneidade e
simplicidade.
Vêem o mundo
real, o mundo
como deve ser,
sem as
maquiagens
sociais que nós
adultos
enxergamos e
fazemos questão
de enxertar em
nossa vida. Dia
desses, meu
filho caçula de
4 anos,
perguntou:
−
Pai, o policial
é mau?
Respondi ao
garoto:
−
Não, filho. Ao
contrário, o
policial é bom,
ele observa se
as pessoas estão
se comportando
bem ou não e,
assim, prestam
grande auxílio a
todos nós.
O garoto,
confuso com a
resposta, tascou
outra
pergunta:
−
Se ele é bom,
pai, por que
está armado?
Fiquei
refletindo...
Por trás dessa
curiosidade
infantil
encerra-se
grande verdade.
A vida é tão
simples, e nós,
quando atingimos
a idade adulta,
complicamos
tudo. Ficamos
indiferentes à
dor, à tristeza
e penúria do
semelhante.
Alguns usam as
armas de fogo,
outros as armas
da indiferença.
Não sei quais as
piores, ambas
são cruéis.
Usamos armas
para nos
defender de
nossos próprios
irmãos. Um
contra-senso!
Assustados,
vivemos armados
ou trancafiados
em nossas casas,
nos escondendo
das pessoas, e,
não raro,
tratando o
semelhante como
fera que deve
ser enjaulada e
não criatura que
deve ser
educada; nos
afastamos dos
outros e
convivemos
tranqüilamente
ao lado da
miséria social
que,
freqüentemente,
empurra as
frágeis
criaturas ao
crime e
desatino. Por
isso, caro
leitor,
imperioso
lembrar que, as
armas de fogo e
as armas da
indiferença
agridem, ceifam
vidas, impõem
medo, acarretam
dores,
disseminam a
fome...
Para se ter uma
idéia da triste
realidade que
assola a
sociedade,
segundo
pesquisas, na
cidade de Bauru,
interior de São
Paulo, onde
vivem
aproximadamente
400 mil
habitantes, 54
mil vivem abaixo
da linha da
pobreza, ou
seja, falta-lhes
o necessário do
necessário.
Triste
constatação!
Com relação às
armas de fogo, a
culpa por
utilizá-las não
é de nossos
policiais, que
se vêem
obrigados a
empunhar
malfadado
revólver para o
desempenho de
sua digna
atividade
profissional.
São as
contingências de
um mundo onde a
bondade ainda
não impera.
Engraçado que
nosso Brasil,
com fama de país
solidário e
fraterno, que
deveria exportar
bondade ao resto
do mundo,
lamentavelmente
exporta armas de
fogo. Nestes
últimos anos,
confeccionamos
2,3 milhões de
armas de pequeno
porte,
exportando cerca
de 1,7 milhão.
Sim, caro
leitor, somos ao
lado de países
como China,
Rússia e Estados
Unidos, um dos
maiores
produtores de
armas de pequeno
porte do mundo.
Apenas para
saciar sua
curiosidade, em
cinco anos
construímos um
arsenal de armas
cinco vezes
maior do que
aquelas que
foram recolhidas
na Campanha do
Desarmamento em
2004, estão
lembrados? Sem
contar que
algumas
pesquisas
apontam que
cerca de 80% das
armas
apreendidas no
Estado do Rio de
Janeiro são
pistolas e
revólveres de
produção
brasileira, e
não
metralhadoras e
fuzis
importados. E
armas, caro
leitor,
estimulam o
crime, a
violência, a
belicosidade,
imprimindo a
insegurança, o
medo, a
desconfiança.
Segundo pesquisa
do sociólogo e
pesquisador da
Unesco, Julio
Jacobo
Waiselfisz,
entre os anos de
1979 e 2003,
morreram no
Brasil
diariamente 100
pessoas
vitimadas pelas
armas de fogo. O
Brasil registrou
mais vítimas por
armas de fogo do
que nações que
vivem em intenso
clima de guerra,
em triste
belicosidade.
Sabedor de que a
vida prossegue e
que a violência,
causada por arma
de fogo ou não,
é a
predominância da
bestialidade
sobre a
espiritualidade,
Kardec formulou
a seguinte
pergunta aos
sábios da
espiritualidade:
P (746) O
assassinato é um
crime aos olhos
de Deus?
R – Sim, um
grande crime;
porque aquele
que tira a vida
de seu
semelhante corta
uma vida de
expiação ou de
missão, e aí
está o mal.
Inúmeras
existências
abreviadas pelo
desrespeito à
vida, provações
adiadas,
expiações
reprogramadas,
tempo
desperdiçado...
Muitos crimes
poderiam ser
evitados se
fôssemos mais
prudentes e
deixássemos de
lado o orgulho,
que, não raro,
nos transforma
em homens
bárbaros a pedir
vingança,
querendo lavar
uma suposta
honra com o
sangue do
semelhante. Em
crimes
hediondos,
freqüentemente
alguns mais
exaltados pedem
pena de morte,
considerando que
os criminosos
devem ser
banidos, punidos
através de
sumárias
execuções. Isso
não resolve o
problema da
violência,
tampouco
sedimenta a paz
em nosso
planeta. Na
realidade,
apenas complica
a situação
porquanto atira
esses Espíritos
revoltados para
o plano
invisível, aonde
irão,
desprovidos do
corpo físico, se
irmanar a mentes
encarnadas e
desencarnadas
que guardam
afinidades com
seus ideais de
violência,
deixando o clima
psíquico do
planeta mais
denso, temperado
pelas vibrações
de rancor. O
Espiritismo
explica que a
morte não é
punição, porque
o Espírito
continua a
existir,
guardando as
mesmas
disposições
íntimas que
tinha quando
revestido do
corpo de carne.
Quem guarda o
coração com
nobres
sentimentos e
banha a mente
com o pensamento
positivo em
relação à vida e
ao semelhante,
não precisa
andar armado
para se
proteger. A
melhor proteção
que podemos ter
está vinculada
com nossas
atitudes, que se
condizentes com
a moral do
Cristo nos
agraciarão com a
serenidade
própria daqueles
que caminham em
paz, mesmo
vivendo em
ambiente hostil.
E se ainda assim
formos vítimas
da famigerada
violência, nos
lembremos que a
vida continua e
é melhor ser
agredido do que
agredir, ser
usurpado do que
usurpar. Quem
sofre, de alguma
forma trilha o
caminho do
Cristo, mas quem
faz sofrer está
se habilitando a
resgatar suas
ações
imprudentes em
futuro de dores
e dissabores.
Por isso,
precisamos nos
conscientizar de
que devemos
exportar
solidariedade,
fraternidade,
renúncia,
compreensão,
utilizando as
armas do amor a
explodir a
granada da
indiferença de
nosso coração,
porquanto, na
sociedade ideal
e pacífica que
todos sonhamos,
as balas são de
hortelã, as
bombas somente
de chocolate e
revólver apenas
aquele que
borrifa água em
planta.
Pensemos nisso.