Dois princípios
básicos do
Espiritismo
inspiraram o
título de
notável
coletânea de
artigos do
consagrado
escritor
Hermínio C.
Miranda,
publicados em
Reformador
durante mais de
dois decênios –
conforme a
apresentação do
livro, feita por
Francisco
Thiesen (à época
Presidente da
Federação
Espírita
Brasileira),
datada em 31 de
março de 1977 –,
da qual
extraímos para
comentário um de
seus dezoito
capítulos. A
obra é
Sobrevivência e
Comunicabilidade
dos Espíritos
e foi lançada
poucos meses
após o
lançamento de
Reencarnação e
Imortalidade,
igualmente com
outros trabalhos
publicados no
citado e
conhecido
mensário da FEB.
O autor é
sobejamente
conhecido dos
espíritas, pela
qualidade de
seus escritos,
sempre embasados
na pesquisa e
aprofundamento
dos estudos
espíritas, com
sua costumeira
lucidez
doutrinária.
O capítulo 11,
com o mesmo
título que
utilizamos na
presente
abordagem, está
às páginas 189 a
197 da 1ª edição
(outubro de
1977), com selo
da FEB. Referido
capítulo, como
sugere o próprio
título, descreve
diversos casos
e exemplos de
fatos mediúnicos
ou anímicos em
conhecidas
personalidades
da história
humana, entre
artistas,
cientistas,
pensadores,
escritores, etc.
Citando livros e
autores,
Hermínio leva o
leitor a
refletir sobre
as influências
psíquicas em
vultos que
trouxeram
expressiva
contribuição ao
progresso da
Humanidade.
Aliás, o artigo
inicia-se com
referência ao
extraordinário
trabalho de
Sylvio Brito
Soares, também
editado pela FEB,
o livro
Grandes Vultos
da Humanidade e
o Espiritismo,
onde “(...) em
tantos desses
vultos, como o
demonstrou o
confrade Brito
Soares, a
mediunidade é
óbvia e
inequívoca
(...)”, conforme
declara o
próprio autor
Hermínio.
E, nesta ordem
de pensamentos,
traz para
deleite do
leitor uma
síntese
biográfica do
Professor George
Washington
Carver, que,
segundo
Hermínio, também
poderia figurar
com honra no
livro de Brito
Soares.
Permito-me
transcrições
parciais do
capítulo:
“(...) Mr.
Carver foi, sem
dúvida, um dos
mais nobres e
profundos
Espíritos que já
desceram à
Terra. Sua
história
magnífica é uma
legenda de
grandeza,
traçada,
estranhamente,
no plano da mais
pura humildade e
iluminada pela
tranqüila
genialidade.
Estratificado em
inúmeras e
proveitosas
encarnações,
desceu para
desempenhar
missão difícil e
cheia de
tropeços. Venceu
todos os
obstáculos e seu
belíssimo
Espírito deve
hoje pairar em
alturas
inconcebíveis a
pobres
principiantes
como eu. Sua
vida foi
dramática. Há um
século, em
janeiro de 1860,
nasceu negro e
filho de
escravos, nos
Estados Unidos.
Criou-se órfão,
sem chegar a
conhecer os
pais. Pobre,
doentio e
sofredor,
caminhou pelas
estradas da
miséria e do
trabalho mais
humilde. Aos 83
anos de idade
física, seu
poderoso
Espírito
regressou à
elevada mansão
donde tinha
vindo. Havia
conquistado,
entre os homens
de sua época e
da sua pátria,
uma posição de
inigualável
destaque, com a
qual jamais um
negro teria
sonhado.
Atravessara
barreiras
maciças de
preconceitos de
cor e condição
social
(...)”.
A breve
transcrição da
introdução
biográfica é
necessária para
salientar ainda
mais a
existência
fértil de um
espírito lutador
que renasceu em
condições de
muitas
limitações,
inclusive com a
condição da
orfandade e em
luta contra os
preconceitos
mais arraigados
de sua época.
Prossigamos,
porém, com a
descrição de
Hermínio:
“(...) Seu
poder criador
não conhecia
limites, a ser a
vontade de Deus.
Somente no
amendoim
descobriu mais
de 300
subprodutos,
hoje largamente
industrializados.
Jamais se
preocupou em
registrar
patentes de suas
invenções e
descobertas.
(...) Achava
preferível que
suas fórmulas
permanecessem
como coisa
comum, sem dono,
para que
qualquer pessoa
pudesse
utilizar-se
delas. (...)
Amou os livros,
a música, os
longos passeios
pelo campo, as
infindáveis
horas de
silêncio e
estudo no seu
laboratório, a
que chamava,
muito
significativamente,
a ‘pequena
oficina de
Deus’. Sempre
dizia que ele
pessoalmente não
descobria nada.
Deus é que, na
sua imensa
bondade, ia aos
poucos revelando
os segredos e
mistérios das
coisas. Bastava
aproximar-se
dEle com
verdadeira
humildade e
inteligência
aberta e
pedir-lhe a
graça da
revelação. (...)
Suas descobertas
sobre o amendoim
começaram dessa
forma.
Preocupado com a
humilde
plantinha,
precisava com
urgência
descobrir meios
de
industrializá-las.
Isso porque
havia
aconselhado seus
irmãos de cor e
de pobreza a
plantarem
grandes
quantidades de
amendoim.
Esquecido,
porém, das leis
econômicas,
verificou depois
que criara um
excesso de
oferta, isto é,
produziram tanto
amendoim que
este caiu a
preços
baixíssimos. O
Professor Carver
trancou-se então
no seu
laboratório,
diante de Deus e
diante do seu
problema, para
buscar uma
solução. Por
processos
físicos e
químicos,
começou a
desdobrar o
amendoim em seus
componentes,
para saber o que
Deus havia
colocado naquela
semente. Lá
estavam, agora,
todos à sua
frente: água,
óleos, gorduras,
resinas, açúcar
(...). E agora?
Quereria o
Senhor dizer por
que havia feito
o amendoim? Não
tardou muito, as
respostas
começaram a
surgir, não sem
trabalho, não
sem dedicação
incansável, mas
vinham aos
borbotões. E o
professor negro
começou a
produzir molhos,
bebidas, café
solúvel, água
sanitária,
solventes,
papel, líquidos
para limpar
metais, tintas,
plásticos, creme
de barbear, óleo
para fricção,
xampu, borracha
sintética,
graxa... Parecia
não ter mais fim
a linha de
subprodutos.
(...)”
A seqüência do
texto empolga
pela riqueza de
informações que
Hermínio colocou
no capítulo.
Carver enfrentou
preconceitos de
início, alcançou
reconhecimento
público pela
qualidade de
suas
descobertas,
proferiu
palestras a
produtores de
amendoim e
chegou ser
contemplado com
o título de
Doutor em
Ciência,
honoris causa,
mas nunca se
preocupou com
dinheiro. Sua
vida de
dificuldades,
todavia, foi
assinalada por
um potente fé em
Deus e numa
determinação
inquebrantável,
tendo vivido
interessantes
experiências de
revelações
através dos
sonhos, conforme
descrições de
Hermínio, mas
que deixamos de
transcrever para
não mais alongar
a presente
abordagem.
Sugerimos aos
leitores
consultarem o
capítulo na
íntegra, na já
citada obra.
Todavia, é
imprescindível
transcrever
trecho de uma
carta, onde
Carver descreve
sua concepção de
prece: “Minhas
preces parecem
ser mais uma
atitude que
qualquer outra
coisa. Faço
poucas orações
com os lábios,
mas peço
silenciosamente
e diariamente ao
Grande Criador e
freqüentemente,
muitas vezes ao
dia, que permita
falar com Ele
através dos três
grandes Reinos
do Mundo que Ele
criou – o reino
animal, o
mineral e o
vegetal – para
compreender suas
relações mútuas,
nossas relações
com eles e para
com o Grande
Deus que nos fez
a todos nós.
Peço a Ele
diariamente, e,
às vezes, de
momento em
momento, para
conceder-me
sabedoria,
compreensão e
forças físicas
para fazer Sua
vontade; por
isso estou
sempre pedindo e
sempre recebendo”.
Ora, o assunto
remete ao O
Livro dos
Médiuns (FEB,
62ª edição,
tradução de
Guillon
Ribeiro). Os
itens 182 e 183,
da citada obra,
são valiosos
instrumentos
didáticos no
estudo da
questão do tema
inspiração e
mediunidade:
“182 – (...)
A inspiração nos
vem dos
Espíritos que
nos influenciam
para o bem, ou
para o mal,
porém, procede,
principalmente,
dos que querem o
nosso bem e
cujos conselhos
muito amiúde
cometemos o erro
de não seguir.
Ela se aplica,
em todas as
circunstâncias
da vida, às
resoluções que
devamos tomar.
Sob esse
aspecto, pode
dizer-se que
todos são
médiuns,
porquanto não há
quem não tenha
seus Espíritos
protetores e
familiares, a se
esforçarem por
sugerir aos
protegidos
salutares
idéias. Se todos
estivessem bem
compenetrados
desta verdade,
ninguém deixaria
de recorrer com
freqüência à
inspiração do
seu anjo de
guarda, nos
momentos em que
se não sabe o
que dizer, ou
fazer.
(...)” e “183
−
Os homens de
gênio, de todas
as espécies,
artistas,
sábios,
literatos, são
sem dúvida
Espíritos
adiantados,
capazes de
compreender por
si mesmos e de
conceber grandes
coisas. Ora,
precisamente
porque os julgam
capazes, é que
os Espíritos,
quando querem
executar certos
trabalhos, lhes
sugerem as
idéias
necessárias e
assim é que
eles, as mais
das vezes, são
médiuns sem o
saberem.”
O exemplo de
vida do
professor Carver
e a fonte
inesgotável de
estudos,
oferecida pela
Doutrina
Espírita,
permitem-nos
enxergar ainda
mais a grandeza
da vida humana
ao lado da
Bondade do
Criador. Estamos
todos num grande
processo
evolutivo, onde
o aprendizado
constante é a
grande senha,
mas igualmente
amparados pelo
Poder Criador
que nos doou a
vida e imensa
gama de
oportunidades,
onde o esforço
próprio e a
dedicação ao bem
abrem os canais
da boa
inspiração e do
amparo que nunca
falta...