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Ano 1 - N° 34 - 9 de Dezembro de 2007

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)

Lei de reabilitação moral
dos Espíritos
 

 “A misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega. O culpado que ela atinge não fica exonerado e, enquanto não houver satisfeito à justiça, sofre a conseqüência dos seus erros”. Allan Kardec (1)  
 

O Código Penal da Vida Futura, exposto no livro “O Céu e o Inferno”, mostra-nos, em toda pujança, os mecanismos das Leis Divinas que regem os nossos destinos; mecanismos esses bem distantes das idéias que deles tinham os nossos avoengos e ainda têm muitas criaturas pertencentes a diversas titularidades religiosas.

Os parágrafos 16 e 17, do Código Penal da Vida Futura (1), indicam-nos o caminho da reabilitação moral em sua totalidade.   Tal reabilitação só é conseguida após a passagem do Espírito em três patamares de situações bem distintas, constituídas pelo arrependimento, pela expiação e pela reparação:

“(...) Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências.

O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa.  Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.

(...) A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, por fraqueza ou má-vontade, achar-se-á numa existência ulterior em contato com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito”.

Foi para evitar o desdobramento das conseqüências de uma falta nas reencarnações posteriores é que Jesus recomendou em regime de urgência: 

Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metidos em prisão. — Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pagado o último ceitil”. (Mateus, 5:25 e 26.)

Enquanto o arrependimento e a expiação só agem no âmbito subjetivo, a reparação desdobra-se no objetivo, isto é, os dois primeiros dizem respeito tão somente ao infrator.   Mas quem comete uma falta, perpetra-a contra alguém; assim, só através da reparação, conseguir-se-á a alforria desejada.

Segundo o ínclito Codificador do Espiritismo (1):

“A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos. Entretanto, essa doutrina religião alguma ainda a proclamou. Algumas pessoas repelem-na porque acham mais cômodo o poderem quitar-se das más ações por um simples arrependimento, que não custa mais que palavras, por meio de algumas fórmulas. 

Contudo, crendo-se, assim, quites, verão mais tarde se isso lhes bastava. 

Nós poderíamos perguntar se esse princípio não é consagrado pela lei humana, e se a justiça divina pode ser inferior à dos homens? E mais: se essas leis se dariam por desafrontadas desde que o indivíduo que as transgredisse, por abuso de confiança, se limitasse a dizer que as respeita infinitamente.

Por que hão de vacilar tais pessoas perante uma obrigação que todo homem honesto se impõe como dever, segundo o grau de suas forças?

Quando esta perspectiva de reparação for inculcada na crença das massas, será um outro freio aos seus desmandos, e bem mais poderoso que o inferno e respectivas penas eternas, visto como interessa à Vida em sua plena atualidade, podendo o homem compreender a procedência das circunstâncias que a tornam penosa, ou a sua verdadeira situação”.

Eis alguns dos pensamentos de Joanna de Ângelis acerca deste tema, que pinçamos de suas obras (2) para nossas reflexões:

“(...) Mantém a serenidade no íntimo e roga as dádivas da paz, no futuro; mas suplica, sobretudo, coragem e humildade no resgate, abraçado ao amor puro e simples que te alçará, de alma feliz, ao serviço livre em favor de todos os companheiros a quem deves.

(...) O que muitas vezes tem aparência de desgraça, quase sempre é resgate intransferível e valioso que assoma à alfândega do devedor, cobrando-lhe os débitos livremente assumidos e aceitos.

(...) Mentes vinculadas entre si por estranhas amarras de ódio, ciúme e inveja que incendeiam paixões, são reunidas novamente em Vidas Futuras, atravessando os portais da Imortalidade, através de resgates coletivos, como coletivamente espoliaram, destruíram, escarneceram, aniquilaram...”

Por tudo isso, podemos compreender melhor o valor do perdão e do amor apregoados e exemplificados pelo Meigo Zagal Celeste, que através da abnegação e da resignação conseguiu levar até o fim o Seu fardo de dores e lutas, mostrando-nos o caminho luminoso, embora muitas vezes áspero, da renovação espiritual. 

Bibliografia:

1) KARDEC, A. O Céu e o Inferno – 1ª parte – Capítulo VII – Código Penal da Vida Futura.

2) ÂNGELIS, Joanna de (FRANCO, Divaldo). Messe de Amor; Florações Evangélicas e Após a Tempestade.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita