EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Cuidar de si
para conviver
melhor
Claramente é
sabido que há
para nós a
tarefa de nos
tornar nosso ser
verdadeiro, ou
seja, de dar tom
a nossa
auto-expressão
segundo os
requisitos do
nosso programa
reencarnatório
em curso. Mas,
essa tarefa é
exigente do
cuidado consigo
mesmo desde que
haja, por parte
de cada um de
nós, o
reconhecimento
de que nosso ser
é relação (a
dinâmica
ego-alter),
ou seja, uma das
leis do
progresso está
enraizada,
necessariamente,
na
sociabilidade,
pois precisamos
dos outros para
nos humanizar.
Contudo, sejamos
claros: ninguém
hoje pode
garantir, no
contexto da
sociedade
técnica, a
sobrevivência da
espécie: do
protocolo de
Kyoto às tramas
da competição
globalizada, há
resoluções
positivas no que
toca ao futuro
das gerações
baseadas muito
mais na fé do
que na convicção
derivada do
ideal das Luzes
(mito da
ciência) de se
manter o
otimismo, embora
o medo,
atualmente,
cristalizado em
inquietações
difusas, se
apresente como
um dos
principais
“valores”
democráticos da
sociedade
mundo, na
expressão de
Edgar Morin.
Que lição tirar
de tal cenário?
Acredito que a
lição do
pessimismo não
faça sentido,
pois ela é
adequada a uma
interpretação
assistida por um
paradigma
materialista,
que urge ser
superado. Estou
convencida de
que, ao reverso,
podemos nos
inclinar a uma
lição que não
nos faça
indiferentes: o
convite ao
amor, que
faz derivar a
compaixão e a
esperança.
Esse convite ao
amor pode ser
por ocasião de
um encontro que
nos faz sorrir,
de uma conversa
que nos ensina,
diante de um
evento do mundo
humano que nos
faz somente
agradecer...
Atitudes felizes
que dêem
sustento a uma
maneira de
cuidar de si
mesmo que nos
ajude nos
momentos hostis
e obscuros. Sim,
mas aí é que
está o problema:
quando estamos a
lidar com nossas
dificuldades
ainda podemos
nos manter
ligados ao
convite ao amor?
Ao levar isso em
consideração,
prefiro ainda
que haja um
engajamento na
via do humanismo
que é tecido
pelo
reconhecimento
da nossa
filiação divina
e, por isso, da
presença em nós
da liberdade de
escolha: podemos
escolher a paz
no lugar da
guerra, a
indulgência no
lugar da
discriminação, o
perdão no lugar
da retaliação.
Com isso, por
sermos humanos
temos a
capacidade de
escolher entre
possibilidades –
podemos,
portanto,
acatar, por
vontade própria,
o convite ao
amor até mesmo
nas situações
nas quais
gravita a falta
de amor...
Se prestarmos
atenção ao fato
de que
precisamos do
outro para nos
conhecer e à
medida que nos
conhecemos mais
habilitados
somos para
conhecer o
outro, podemos
considerar
conhecer e amar
como sinônimos,
verbos que se
harmonizam e se
complementam...
Logo, se
conhecer e amar
integram um
mesmo
significado,
somente o
convite ao amor
pode nos exortar
a sair de nós
mesmos para
melhor nos
encontrar. Onde?
No mundo humano,
na relação com
as pessoas para
conhecer melhor
e amar mais a si
mesmo e aos
outros.
É aí que reside
o poder do amor
que faz valer a
sua presença em
todos os
instantes de
nossas
existências: um
único ato de
amor apaga
conseqüências
negativas de
atos nefastos
anteriores, pois
“o amor cobre
uma multidão de
pecados” (I
Pedro, 4:8).
Embora a
determinante
rigorosa da
lei de causa e
efeito, à
qual todos
estamos
sujeitos, há, no
interior dessa
lei, uma
possibilidade,
através da
compaixão, da
caridade, de
transmutar o mal
em bem, de
transcender
algemas em
liberdade.
O fato é:
estamos a
caminho e no
caminho estamos
em relação.
Desse modo, cabe
a cada um de
nós, espiritual
e amigavelmente,
fazer dessa
jornada um
mecanismo de
nossa evolução.
Para isso,
cientes de
nossas
necessidades
evolutivas,
precisamos ir
além de nossos
medos e, atados
à confiança em
nossos projetos
individuais,
fortalecer a
cada dia nossa
adesão ao
convite ao amor.
Essa adesão, sem
dúvida, pode
facilitar o
cumprimento da
nobre tarefa de
nos tornarmos
diferenciados e
a serviço da
sociedade.