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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 38 - 13 de Janeiro de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Cuidar de si para conviver melhor 

Claramente é sabido que há para nós a tarefa de nos tornar nosso ser verdadeiro, ou seja, de dar tom a nossa auto-expressão segundo os requisitos do nosso programa reencarnatório em curso. Mas, essa tarefa é exigente do cuidado consigo mesmo desde que haja, por parte de cada um de nós, o reconhecimento de que nosso ser é relação (a dinâmica ego-alter), ou seja, uma das leis do progresso está enraizada, necessariamente, na sociabilidade, pois precisamos dos outros para nos humanizar.

Contudo, sejamos claros: ninguém hoje pode garantir, no contexto da sociedade técnica, a sobrevivência da espécie: do protocolo de Kyoto às tramas da competição globalizada, há resoluções positivas no que toca ao futuro das gerações baseadas muito mais na fé do que na convicção derivada do ideal das Luzes (mito da ciência) de se manter o otimismo, embora o medo, atualmente, cristalizado em inquietações difusas, se apresente como um dos principais “valores” democráticos da sociedade mundo, na expressão de Edgar Morin.

Que lição tirar de tal cenário?

Acredito que a lição do pessimismo não faça sentido, pois ela é adequada a uma interpretação assistida por um paradigma materialista, que urge ser superado. Estou convencida de que, ao reverso, podemos nos inclinar a uma lição que não nos faça indiferentes: o convite ao amor, que faz derivar a compaixão e a esperança.

Esse convite ao amor pode ser por ocasião de um encontro que nos faz sorrir, de uma conversa que nos ensina, diante de um evento do mundo humano que nos faz somente agradecer... Atitudes felizes que dêem sustento a uma maneira de cuidar de si mesmo que nos ajude nos momentos hostis e obscuros. Sim, mas aí é que está o problema: quando estamos a lidar com nossas dificuldades ainda podemos nos manter ligados ao convite ao amor?

Ao levar isso em consideração, prefiro ainda que haja um engajamento na via do humanismo que é tecido pelo reconhecimento da nossa filiação divina e, por isso, da presença em nós da liberdade de escolha: podemos escolher a paz no lugar da guerra, a indulgência no lugar da discriminação, o perdão no lugar da retaliação. Com isso, por sermos humanos temos a capacidade de escolher entre possibilidades – podemos, portanto, acatar, por vontade própria, o convite ao amor até mesmo nas situações nas quais gravita a falta de amor...

Se prestarmos atenção ao fato de que precisamos do outro para nos conhecer e à medida que nos conhecemos mais habilitados somos para conhecer o outro, podemos considerar conhecer e amar como sinônimos, verbos que se harmonizam e se complementam... Logo, se conhecer e amar integram um mesmo significado, somente o convite ao amor pode nos exortar a sair de nós mesmos para melhor nos encontrar. Onde? No mundo humano, na relação com as pessoas para conhecer melhor e amar mais a si mesmo e aos outros.

É aí que reside o poder do amor que faz valer a sua presença em todos os instantes de nossas existências: um único ato de amor apaga conseqüências negativas de atos nefastos anteriores, pois “o amor cobre uma multidão de pecados” (I Pedro, 4:8). Embora a determinante rigorosa da lei de causa e efeito, à qual todos estamos sujeitos, há, no interior dessa lei, uma possibilidade, através da compaixão, da caridade, de transmutar o mal em bem, de transcender algemas em liberdade.

O fato é: estamos a caminho e no caminho estamos em relação. Desse modo, cabe a cada um de nós, espiritual e amigavelmente, fazer dessa jornada um mecanismo de nossa evolução. Para isso, cientes de nossas necessidades evolutivas, precisamos ir além de nossos medos e, atados à confiança em nossos projetos individuais, fortalecer a cada dia nossa adesão ao convite ao amor. Essa adesão, sem dúvida, pode facilitar o cumprimento da nobre tarefa de nos tornarmos diferenciados e a serviço da sociedade.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita