RITA
CÔRE
garciacore@hotmail.com
Laje
do Muriaé, Rio de Janeiro (Brasil)
Quem
garante que não?
Costumam
repetir os incrédulos que da vida
após a morte nada se sabe, porque
ninguém voltou de lá para
contar. No entanto, se
viajássemos pelo tempo, como nos
filmes de ficção científica e
disséssemos para um homem do
século XVIII que nos comunicamos
pelo telefone e pelo computador,
ele também não acreditaria ou,
pelo menos, não entenderia.
Enfim, o fato de não
compreendermos alguma coisa não
significa que ela não possa
existir.
A
História da Civilização e de
seus maravilhosos inventos nos
mostra que, muitas vezes, a
humanidade teve de se curvar
diante da comprovação de idéias
que apressadamente rejeitou, por
conta do orgulho de um falso e
estagnado saber. Pois o verdadeiro
saber, por sua própria natureza
de indagar, é dinâmico e se
constrói a cada momento, a cada
conquista da inteligência, não
se intimidando diante do que é
provisoriamente desconhecido. Por
isso desvenda o encoberto, sonda o
insondável. Muitos mistérios do
passado figuram hoje nos livros
didáticos, como verdades
incontestáveis. Nem precisamos ir
muito longe, basta voltar a
Copérnico.
Nicolau
Copérnico, astrônomo
polonês, que trabalhou na Itália
até 1504, demonstrou na sua
famosa obra Das revoluções
dos mundos celestes o duplo
movimento dos planetas: em torno
de si mesmos e em torno do sol. A
teoria de Copérnico , hoje
registrada pelos sofisticados
aparelhos da tecnologia espacial,
foi rejeitada pelos detentores do
conhecimento da época, que
pretendiam tornar absolutas as
suas verdades
tão relativas.
Um
século depois, mais precisamente
em 1610, o italiano, também
astrônomo, Galileo Galilei,
construiu um telescópio e fez
notáveis descobertas. Observando,
por exemplo, o planeta Vênus e
suas fases, comprovou a teoria de
Copérnico. A astronomia antiga,
porém, adotada pela Igreja
Católica, considerava a Terra o
centro imóvel do universo. O
Vaticano, assim, porque julgava as
idéias de Copérnico, aceitas por
Galileu, incompatíveis com os
textos bíblicos, chamou o
astrônomo italiano para
defender-se da acusação de
heresia. O cientista não foi
condenado, mas teve de assinar, em
1616 , um decreto da Inquisição
que declarava ser a sua teoria
meramente hipotética. Até que em
1633, por continuar insistindo na
idéia de que a Terra se movia,
foi condenado à prisão
domiciliar e proibido de publicar
livros. Conta uma lenda que,
apesar de aceitar a prisão, ele
teria afirmado: "Eppur si
muove" (No entanto, ela
se move).
Hoje,
qualquer estudante do ensino
fundamental sabe que a Terra se
move no espaço. E tem sido assim
em outras áreas do conhecimento.
O
leitor, porém, a esta altura,
deve estar se perguntando: O que a
história de Galileu tem a ver com
o Espiritismo? Então, vejamos.
Quando
a Doutrina Espírita surge para o
mundo em 1857, através da
publicação de O Livro dos
Espíritos, dá explicações
lógicas para os fatos
considerados maravilhosos e
revestidos de mistério e temor;
derruba a idéia do sobrenatural,
rejeita o milagre e dá ao
fenômeno o caráter que lhe é
próprio, como lei da natureza, e
por isso mesmo, passível de
investigação e questionamento.
Coloca a reencarnação, crença
milenar, em estudo. Duvida e
pergunta, e só aceita a fé que
pode encarar a razão. Sustenta o
conceito filosófico de Deus, como
causa primária da vida,
inacessível ainda a nossa
compreensão. Despe Jesus de suas
roupagens de mito a serviço da
ambição humana, devolvendo-lhe a
grandeza de sua doutrina de amor e
fraternidade. E, por fim, mata a
morte, debruçando-se
corajosamente sobre ela, a
investigar a continuidade da vida,
não como um mistério religioso,
mas como um fato da natureza .
Por
toda essa revolução, o
Espiritismo é até hoje temido e
condenado pelas crenças
dogmáticas, que se mantêm presas
a rituais e mistérios, em sua
grande maioria, anteriores a
Jesus.
Galileu
foi proibido de publicar livros.
Um bispo da Espanha mandou queimar
os livros espíritas em praça
pública. No entanto, ela se move,
a Terra. Eppur si muove, a
vida também. E continua após a
morte física. Não como deseja
esta ou aquela crença, mas como
impõe a lei cósmica da
evolução.
Embora
religião, do ponto de vista
filosófico, o Espiritismo não é
igreja, mas é filosofia e
ciência. Antes de julgá-lo ou
emitir qualquer opinião sobre
ele, conheça-o. E lembre-se do
exemplo da própria História do
Conhecimento: muitas teorias
ridicularizadas no passado são
hoje matéria dos programas
escolares. Não pode acontecer o
mesmo, no futuro, com a vida após
a morte? Não tenha medo de
pensar. E a você que insiste em
rejeitar a idéia, porque ninguém
garante que sim, nós, espíritas,
perguntamos: quem garante que
não?
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