EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Retenção de
ressentimento –
um bloqueio para
o amor
Sabemos que as
lembranças não
são iguais.
Enquanto algumas
são vagas
recordações de
eventos, outras
nos prendem no
passado. Quando
ficamos
ressentidos com
alguém, as
tintas escuras e
densas do fato
infeliz nos
mantêm algemados
ao passado e
impedidos de
ancorar no
presente. Por
isso, perdoar é
imprescindível
para o nosso
existir
harmonioso no
aqui e agora.
Infelizmente,
esse bom hábito
é pouco ou mal
praticado, pois
na maioria das
vezes o perdão
se constitui de
um pedido oco de
desculpas e, no
geral,
carregamos por
aí um fardo
inútil de culpa
(ou remorso) por
equívocos que
ocultamos e
ressentimentos
pelas feridas
que nos
causaram...
A analista
junguiana
Clarissa
Pinkola-Estes
(1) traz em um
dos seus livros
um eficaz
itinerário para
o perdão que é
constituído por
ações que devem
ser realizadas
em quatro
passos:
“1) renuncie –
deixe de lado;
2) contenha-se –
abstenha-se de
punir;
3) esqueça –
afaste da
lembrança,
recuse-se a
insistir; e
4) perdoe –
abandone a
dívida”.
Sem dúvida, esse
é um dos
roteiros mais
eficazes para
ajudar as
pessoas a se
desligar do
passado, à
medida que
possibilita o
perdão ao
ofensor e,
ainda, o
autoperdão.
Em vários
momentos de suas
lições, o Cristo
reforçou o
perdão como
requisito
prioritário para
uma conduta
harmonizada no
bem, pois
somente ele é
capaz de livrar
o ofendido do
embaraço da
ofensa sofrida.
Além disso, “o
sacrifício mais
agradável a Deus
é “o dos
próprios
ressentimentos”,
segundo a
narrativa do seu
Evangelho.” (2)
Do aviso
reiterado de
Jesus sobre o
significado
profundo do
perdão é
possível extrair
a síntese
seguinte:
enquanto perdoar
é sinal de
inteligência,
própria a uma
individualidade
madura, não
perdoar (e
retaliar)
resulta ainda de
uma
individualidade
guiada pela
inconsciência,
própria de egos
infantilizados,
que têm medo do
amor. Por isso,
sensibiliza
tanto a
Primeira
Epístola de
Paulo quando ele
conta que o
contrário do
amor não é o
ódio, mas sim o
medo. O medo de
amar...
Jean-Yves Leloup
afirma:
“Podemos
perdoar alguém
com a nossa
cabeça e também
com o nosso
coração, mas
quando estamos
na presença da
pessoa que nos
fez mal, nosso
corpo sente uma
espécie de
repulsa. Existem
em nós tantas
memórias que
provocam esta
reação! E a
libertação do
medo não é
somente uma
coisa psíquica
ou intelectual.
É também algo
físico. Quando
nos aproximamos
desta ou daquela
pessoa, sentimos
que o nosso
corpo fica
calmo, quando
antes havia uma
tensão, uma
contração. Este
é um sinal de
que alguma coisa
se limpou em
nossa memória e
que nós fomos
libertados de um
peso de memória
que entranhava o
nosso corpo”.
(3)
No lugar de
condenar e
conservar o
ressentimento, é
mais inteligente
para qualquer
pessoa perdoar
para libertar e
libertar-se e,
desse modo, mais
segura de si
mesma poderá se
desbloquear para
crescer em
bondade e amor,
pois harmonizada
com o princípio
cristão da
reconciliação.
Bibliografia:
(1) PINKOLA-ESTES,
Clarissa.
Women who run
with the wolves:
myths and
stories of the
wild woman
archetype.
Nova York:
Ballantine
Books, 1992, p.
370.
(2) KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
Tradução
Herculano Pires.
14 ed. São
Paulo: FEESP,
1998, p. 129
[Capítulo X,
item 7].
(3) LELOUP,
Jean-Yves.
Caminhos da
realização: dos
medos do eu ao
mergulho no ser.
Tradução Célia
S. Quintas, Lise
M. Alves de
Lima, Regina
Fittipaldi.
Petrópolis:
Vozes, 1996, p.
61.