1. A vida não é uma
coisa vã de que se possa
fazer uso leviano, mas
uma luta pela conquista
do Céu, uma obra elevada
e grave de edificação,
de aperfeiçoamento,
regida por leis augustas
e eqüitativas, acima das
quais paira a eterna
Justiça, amenizada pelo
Amor. (P. 12)
2. As religiões e as
filosofias passaram,
mas, apesar do manto
rico de suas concepções
e de suas esperanças, a
dúvida subsistiu no
fundo das consciências.
Nasceu, então, uma nova
ciência, baseada nas
experiências, nas
pesquisas e nos
testemunhos de sábios
eminentes. Uma
comunicação se
estabeleceu com o mundo
invisível que nos cerca
e uma revelação poderosa
banhou a Humanidade qual
uma onda pura e
regeneradora. (PP. 12 e
13)
3. Duas coisas
aparecem-nos à primeira
vista no Universo: a
matéria e o movimento, a
substância e a força. Os
mundos são formados de
matéria, e essa matéria,
inerte por si mesma, se
move. Mas, quem a faz
mover-se? Que força a
anima? (P. 18)
4. A matéria nada mais é
que a vestimenta, a
forma sensível e
mutável, revestida pela
vida; um cadáver não
pensa, nem se move. A
força é simples agente
destinado a entreter as
forças vitais. É, pois,
a inteligência que
governa os mundos,
inteligência essa que se
manifesta por leis
sábias e profundas,
ordenadoras e
conservadoras do
Universo. (PP. 18 e 19)
5. A força gera o
movimento, mas a força
não é a lei. Cega e sem
guia, não poderia ela
produzir a ordem e a
harmonia que são
manifestas no Universo.
Acima da escala das
forças, aparece a
energia mental, a
vontade, que constrói as
fórmulas e fixa as leis.
(P. 20)
6. De Pitágoras a Claude
Bernard, todos os
pensadores afirmam que a
matéria é desprovida de
espontaneidade, e toda
tentativa de emprestar à
substância inerte uma
espontaneidade, capaz de
organizar e de explicar
a força, tem sido em
vão. É preciso, pois,
admitir a necessidade de
um primeiro motor
transcendente para
explicar o sistema do
mundo. (P. 21)
7. A mecânica celeste
não se explica por si
mesma; a existência de
um motor inicial se
impõe. A nebulosa
primitiva, mãe do Sol e
dos planetas, era
animada de um movimento
giratório. Quem lhe
imprimiu esse movimento?
Respondemos sem hesitar:
Deus. (P. 21)
8. A linguagem humana é,
entretanto, impotente
para exprimir a idéia do
Ser infinito. Aliás,
todas as definições são
insuficientes e, de
certo modo, induzem a
erro; contudo, o
pensamento para se
exprimir precisa de
termo. O menos afastado
da realidade é aquele
pelo qual os padres do
Egito designavam Deus:
“Eu sou”, isto é,
eu sou o Ser por
excelência, absoluto,
eterno, e do qual emanam
todos os seres. (P. 23)
9. Um mal-entendido
secular divide as
escolas filosóficas,
quanto a estas questões.
O materialismo via no
Universo somente a
substância e a força. O
espiritualismo vê em
Deus só o princípio
espiritual. Ambos se
enganam. O mal-entendido
cessará quando os
materialistas virem em
seu princípio e os
espiritualistas em seu
Deus a fonte dos três
elementos: substância,
força e inteligência,
cuja união constitui a
vida universal. (P. 23)
10. Deus, tal qual o
concebemos, não é o Deus
do panteísmo oriental,
que se confunde com o
Universo, nem o Deus
antropomorfo, monarca do
céu, exterior ao mundo,
de que falam as
religiões do Ocidente.
Deus é manifestado pelo
Universo, mas não se
confunde com este. (P.
25)
11. Esse grande Ser,
absoluto, eterno, que
conhece as nossas
necessidades, ouve o
nosso apelo, nossas
preces, e é sensível às
nossas dores, é qual o
imenso foco em que todos
os seres, pela comunhão
do pensamento e do
sentimento, vêm haurir
forças, socorro,
inspiração para se
guiarem na senda do
destino. (P. 25)
12. Ninguém deve
procurar Deus nos
templos de pedra e de
mármore, mas no templo
eterno da Natureza, no
espetáculo dos mundos
que percorrem o
infinito, nos
esplendores da vida que
se expande em sua
superfície. (P. 26)
13. A Terra voga sem
ruído na extensão. Essa
massa de dez mil léguas
de circuito desliza
sobre as ondas do éter
qual pássaro no Espaço,
qual mosquito na luz.
Nada denuncia sua marcha
imponente. Nenhum ranger
de rodas, nem murmúrio
de vagas. Silenciosa,
ela passa entre suas
irmãs do céu, onde sóis
e mundos se deslocam,
com velocidades
aterradoras, sem que som
algum ou qualquer choque
venha trair a ação desse
gigantesco aparelho que
é o Universo. (P. 26)
14. A vontade que dirige
o Universo se disfarça a
todos os olhares. As
coisas estão dispostas
de maneira que ninguém é
obrigado a lhes dar
crédito. Se a ordem e a
harmonia do Cosmos não
bastam para convencer o
homem, este é livre no
conjeturar, pois nada
constrange o cético a ir
a Deus. O mesmo acontece
às coisas morais. Nossas
existências se
desenrolam e os
acontecimentos se
sucedem sem ligação
aparente, mas a imanente
justiça domina ao alto e
regula nossos destinos
segundo um princípio
imutável, pelo qual tudo
se encadeia em uma série
de causas e de efeitos.
(P. 27)
15. A Natureza limitou
nossas percepções e
sensações. É degrau a
degrau que ela nos
conduz no caminho do
saber. É lentamente,
trecho a trecho, vidas
após vidas, que ela nos
leva ao conhecimento do
Universo, seja visível,
seja oculto. O ser sobe,
um a um, os degraus da
escadaria que conduz a
Deus, mas cada um desses
degraus representa para
o ser uma longa série de
séculos. (P. 28)
16. Se os mundos
celestes nos aparecessem
de repente, sem véus, em
toda a sua glória,
ficaríamos cegos. Mas,
nossos sentidos
exteriores foram medidos
e limitados, e avultam,
se apuram, à medida que
o ser se eleva na escala
da existência. O mesmo
se dá com o conhecimento
e a posse das leis
morais. (PP. 28 e 29)
17. Quantas almas
acreditaram que
bastaria, para encontrar
o Pai celestial, deixar
a Terra. Mas Deus se
conserva invisível no
mundo espiritual, quanto
no mundo terrestre, para
aqueles que não
adquiriram ainda a
pureza suficiente para
refletir os seus divinos
raios. (P. 29)
(Continua no próximo
número.)