EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Honrar o talento
exige
humildade
e coragem
Na
contemporaneidade,
muitos
indivíduos
afirmam boas
razões para se
considerar
entediado e
infeliz.
Estranhos para
si mesmos
referendam os
versos de George
Herbert:
Uma nave ao léu,
batendo contra
tudo...
Meu Deus, sou eu
mesmo.
A tarefa de
desenvolver o
talento nos
testa em muitos
níveis, pois
precisamos
valorizar nossos
dons,
explorando-os
com
discernimento e
responsabilidade.
Contudo, apesar
disso, para o
nosso próprio
bem, é
importante que
sejamos nem mais
nem menos do que
humanos, o que
requer
humildade. E por
que isso é
difícil?
Muita gente é
facilmente
influenciada
pela vida
aparentemente
“perfeita” dos
famosos e
rejeita o fato
de desempenhar
um papel banal
na sociedade,
pois seduzida
pela ameaça
de
insignificância,
que assombra o
mundo
contemporâneo,
sucumbe às
ilusões do culto
à imagem e ao
desejo
infantilizado de
fama...
Na vida real, é
fundamental que
tenhamos
disponibilidade
para reconhecer
nosso talento
para desenvolver
nossas tarefas
com base em
nosso sentido de
vocação
verdadeiro, pois
a busca de metas
que estão além
do alcance das
próprias
habilidades
claramente pode
conduzir o
sujeito a
situações
perigosas, como
é o caso de
desastres
psíquico-emocionais
tecidos em
sonhos
grandiloqüentes
ou estranhos às
aptidões
pessoais.
William James
explicou certa
vez que aqueles
que se preocupam
em tornar o
mundo melhor
deveriam começar
por si mesmos.
Poderíamos ir
mais longe e
alegar que a
valorização da
nossa forma
pessoal de
colaboração, sem
o erro da
imitação ou da
comparação,
seria realmente
a nossa justa e
digna cota junto
aos nossos
semelhantes.
Ainda, é preciso
coragem para
estruturar e dar
ritmo ao próprio
talento. Não é
sem sentido a
confissão de
Rollo May: “em
minha
experiência
profissional, o
maior bloqueio
que encontrei no
desenvolvimento
da coragem é ter
que adotar um
modo de vida que
não se baseie
nas próprias
aptidões”.
(1) E sua
definição de
coragem também é
oportuna:
“Coragem é a
escolha
positiva, não
uma opção feita
por não haver
outro recurso;
neste caso, onde
estaria a
coragem?” (2)
Nossa sociedade
necessita não
somente de
gênios e
famosos, mas de
pessoas comuns
dispostas a
trabalhar em
silêncio em prol
de si mesmos e
dos outros, seus
irmãos.
Ao exercitar os
nossos dons,
podemos auxiliar
a mudança de
alguns séculos
de
individualismo
competitivo,
cuja motivação
principal reside
no poder
sobre os
outros, para a
construção do
novo paradigma
civilizatório,
no qual, com
base na
cooperação e no
respeito mútuo,
possamos dar
crédito à nossa
aptidão
verdadeira sem
ignorar nossos
limites humanos.
Dessa maneira,
despidos das
ilusões,
causadoras de
frustrações e
angústias,
poderemos dar
cumprimento aos
nossos
compromissos
reencarnatórios
com serenidade.
Bibliografia:
(1) MAY, Rollo.
O homem à
procura de si
mesmo.
Tradução de
Aurea B.
Weissenberg, 24
ed., Petrópolis:
Vozes, 1998, p.
192 (itálicos
meus).
(2) Op. cit.,
p. 196.