MARTHA RIOS
GUIMARÃES
marthinharg@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Tribuna livre para
discussão de temas
doutrinários, a
Revista Espírita
serviu de complemento e
desenvolvimento
do Espiritismo
Mesmo sem ter sido o
primeiro veículo
doutrinário, a Revista
Espírita, criada por
Allan Kardec, ocupou o
posto de principal meio
de comunicação entre o
Codificador e os adeptos
do Espiritismo.
A publicação de O
Livro dos Espíritos
superou todas as
expectativas atingindo
rapidamente um êxito
jamais imaginado por
Allan Kardec, que
recebia correspondências
de todos os lugares do
mundo, contendo relatos
de fatos espíritas,
perguntas relativas à
nova doutrina e
congratulações ao
Codificador. Também era
comum surgirem, à sua
porta, visitantes
ansiosos por mais
esclarecimentos, isso
sem contar os artigos
injuriosos contra o
Espiritismo, publicados
em jornais diversos. Já
existiam, à época,
algumas publicações
dedicadas aos interesses
espíritas – um na Suíça
e mais de uma dezena nos
Estados Unidos -, mas
nenhum deles publicado
na França, berço do
Espiritismo e nação onde
já havia muitos adeptos
da Boa Nova. Desta
maneira, Kardec
constatou a necessidade
de criar uma publicação
que pudesse colocar os
interessados a par dos
acontecimentos
doutrinários e que
servisse de fonte de
instrução. Além do mais,
seria um excelente canal
de comunicação para que
o Codificador
respondesse, de forma
coletiva, as consultas
que recebia por carta.
Surgia, assim, em 1O
de janeiro de 1858, o
primeiro número da
Revista Espírita –
Jornal de Estudos
Psicológicos (título
alterado para Revista
Espírita, em 1913),
editada e publicada sob
a responsabilidade
direta de Allan Kardec
até a sua desencarnação,
em 31 de março de 1869
(quando revisava o
volume de abril). Sem
contar com um único
assinante, o ilustre
professor a publicou por
sua conta e risco e, em
menos de um ano, estava
espalhada por todos os
continentes, ganhando,
rapidamente, o posto de
principal veículo
jornalístico da Nova
Revelação.
Como o próprio editor da
publicação enfatizava, a
Revista Espírita
funcionava como uma
tribuna livre onde
assuntos eram
desenvolvidos e idéias
debatidas, sempre se
tomando o cuidado de “discutir,
mas não disputar”,
como dizia Kardec. Desta
forma, fica visível que
muitos capítulos das
obras básicas da
Codificação – publicadas
após O Livro dos
Espíritos - vieram à
tona por meio dessa
publicação, o que nos
leva a afirmar que o
estudo das edições da
Revista Espírita
publicadas durante seus
primeiros 12 anos é
fundamental para
entendimento da
Doutrina.
Suas páginas nos levam a
uma extraordinária
viagem pelos aspectos
filosóficos e religiosos
da Doutrina; trazem
relatos de manifestações
dos Espíritos,
aparições, evocações;
instruções sobre o mundo
visível e invisível,
sobre as ciências, a
moral, a imortalidade da
alma, a natureza e o
futuro do homem. Versam,
ainda, sobre a bondade e
a misericórdia divinas,
as relações do
Espiritismo com o
magnetismo e com o
sonambulismo; a
explicação das lendas e
das crenças populares,
da mitologia de todos os
povos e, claro, notícias
relacionadas à Doutrina
Espírita por todo o
globo.
Kardec também
aproveitava notícias da
imprensa diária,
comentando-as sob o
prisma espírita, e
informava seus leitores
sobre obras importantes
e peças teatrais,
revelando sua ampla
bagagem cultural. Em
algumas ocasiões, com
sua capacidade única de
clareza e concisão,
rebatia críticas ao
Espiritismo, sempre com
educação e respeito aos
adversários.
Durante onze anos,
apesar das dificuldades,
Allan Kardec dirigiu a
Revista Espírita
responsabilizando-se
sozinho por cada edição.
Por sua importância,
podemos afirmar que este
periódico serviu de
complemento e
desenvolvimento da obra
doutrinária iniciada em
1857.
Nota da Autora:
Após o desencarne do
Codificador, a
Revista Espírita
continuou sendo
publicada por seus
continuadores, com
interrupções entre 1915
e 1917 (Primeira Guerra
Mundial); entre 1940 e
1947 (Segunda Guerra
Mundial) e entre janeiro
de 1977 e maio de 1989
(ao que tudo indica por
motivos financeiros).
Em
11 de maio de
1989, a União
Espírita Francesa obteve
o registro oficial da
Revista Espírita e
reiniciou a sua edição
em conjunto com o
Conselho Espírita
Internacional (CEI).
Hoje a Revista
Espírita é editada
em
francês,
esperanto,
espanhol,
inglês,
polonês e
russo.
A coleção completa da
Revista Espírita,
referente aos anos 1858
a 1869 (edição de Allan
Kardec), é composta por
doze volumes – quase
sete mil páginas – e
pode ser adquirida na
Livraria da União das
Sociedades Espíritas
(USE).